O Indivíduo 12 Anos Depois

September 15th, 2009 by Sergio de Biasi

O Indivíduo foi fundado há 12 anos por quatro (!) sujeitos que achavam que a maior parte das opiniões defendidas por todos à sua volta eram muito pouco originais, meras repetições meia dúzia (se tanto) de ideologias prêt-à-porter. Diante disso, e sempre discordando veementemente entre si mesmos, os quatro decidiram juntos publicar um jornal com suas idéias e distribuí-lo no campus da PUC-Rio onde estudavam à época.

Infelizmente o episódio todo acabou sendo extremamente instrutivo quanto à rapidez com que o cidadão médio repudia o ideal de liberdade de expressão no exato momento em que se diz algo com que ele não concorda – ou pior ainda, que não tenha sido sancionado por alguma autoridade de plantão como pertencente ao cânone das idéias publicamente defensáveis. Então, após uma enxurrada de acontecimentos surreais, e sem que isso fosse exatamente o plano original, terminamos na internet, o que retroativamente foi a melhor coisa que poderia ter acontecido, e sem o que provavelmente o nome “O Indivíduo” teria permanecido arquivado e esquecido em antigas manchetes de jornal.

Para a diversão de todos – quem acompanha essa história desde o começo assim como de quem chegou agora – publico aqui diretamente de meus arquivos algumas fotos raras, todas autenticamente tiradas na PUC-Rio no exato dia da publicação do número zero do jornal “O Indivíduo” em 19 de novembro de 1997.

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1999-11-19-sergio

Sergio
(Atual administrador de oindividuo.org)

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1999-11-19-pedro

Pedro
(Atual administrador de oindividuo.com)

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1999-11-19-alvaro

Álvaro
(Antigo administrador de oindividuo.com)
Note-se uma cópia do número zero distribuído na PUC-Rio em suas mãos!

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1999-11-19-beto

Beto
(O “quarto indivíduo”)
Sua própria existência é desconhecida exceto dos mais aficcionados fãs. :-)

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18 Responses to “O Indivíduo 12 Anos Depois”

  1. Fiquei bastante curioso em relação aos “acontecimentos surreais” da época. Alguma chance de um artigo sobre isso?

    • Oi Roberto,

      Eu ia responder num comentário, mas acabei concluindo que sua pergunta devia ser a de vários outros e resolvi republicar um texto antigo do Álvaro sobre o assunto que certamente serve de ponto de partida para quem quer saber mais. Claro que muitas outras aconteceram antes e depois do que ele relata, mas já existe lá uma quantidade de “acontecimentos surreais” suficiente para abrir qualquer apetite. :-)

      Saudações,
      Sergio

  2. Marcos Fontoura says:

    O que aconteceu com o Álvaro, eu gostava dos textos dele.

    • O que aconteceu com o Álvaro, eu gostava dos textos dele.

      Pois é, seria excelente se ele voltasse a escrever! O enfoque, o estilo e os interesses dele eram ainda outros que os meus e que os do Pedro. Mas acho que após dedicar anos a promover seriamente a causa do liberalismo no Brasil, o Álvaro aborreceu-se com o fato de estar cercados de ideologias dogmáticas por todos os lados, vezes demais defendidas cegamente e repetindo precisamente os mesmo erros que denunciam. Decidiu então cuidar da sua vida. Pelo menos isso é o que eu tenho impressão que aconteceu. :-) Mas sim, seria excelente se ele voltasse a escrever. Mesmo que para isso tivéssemos que colocar no ar oindividuo.net. :-)

      Saudações,
      Sergio

      • Alan says:

        Fiquei curioso para conhecer um pouco mais do Álvaro. Não seria interessante disponibilizar os melhores textos dele em algum lugar?

        • Isso seria excelente, sim, e por muito tempo eles estavam disponíveis em oindividuo.com, que era administrado pelo Pedro. Mas depois que o Pedro resolveu seguir outro rumo, ele tirou todos os textos antigos que não eram de autoria dele do ar, e não existe mais um arquivo oficial online do conteúdo antigo.

          Por outro lado é possivel ter acesso a muita coisa através deste link aqui :
          http://web.archive.org/web/*/http://www.oindividuo.com

          Saudações,
          Sergio

  3. Carlos says:

    Rapaz,

    Agora já sei no que se inspiraram os criadores de The Big Bang Theory! hehehehe! Brincadeira, brincadeira!

    Parabéns aos indivíduos pela entrada na adolescência. Que Deus permita ainda muitos anos para os senhores.

  4. Carla Teixeira says:

    Parabéns! vida longa a’O Indivíduo!

  5. Julio says:

    Vida longa ao Indivíduo!

    • Julio says:

      O Indivíduo transcende a existência de seus criadores, imortal posto que é chama e flui entre as conexões neuronais dos que dele se aproximam…é um caminho sem volta!

  6. Julio says:

    Reconfortante, desconfortante, inconformado, reformador, conservador…Amor e ódio isso é o Indivíduo… Keep Walking Guys!

  7. Como ateísta, nunca concordei com as posições católicas do Pedro Sette Câmara e do Álvaro de Carvalho. Sempre considerei um ponto negativo do sítio.

    À exceção disto, devo muito de minhas convicções — no que pertine a respeito de Liberdade e Propriedade — a estes dois indivíduos citados e ao Sérgio de Biasi.

    Obrigado por existirem e por serem um dos primeiros veículos “virtuais” a combater esta doença infantil — mas perigosa e contagiante — chamada esquerdismo.

    Que sejam os 12 primeiros de muitos anos vindouros!

    Saudações,

    DFS

    • Caro Daniel,

      Pois é, o site acabou sendo muito mais influente do que poderíamos imaginar a princípio. Ainda hoje encontro pessoas que dizem terem sido primeiro apresentadas a certas idéias através de nossa insistência em falar delas.

      Em parte o que fizemos de revolucionário foi dar voz a sentimentos que eram na verdade de um grande número de pessoas sensatas mas – talvez exatamente por isso – pouco propensas a bater de frente com um bando de malucos barulhentos que se arrogam o direito de dizer quais idéias politicas são aceitáveis e o de patrulhar – fisicamente – quem não dança conforme a música. Ao passarmos por todo o processo de linchamento que se seguiu à fundação do jornal, evidenciamos da forma mais concreta possivel o quão confortável haviam se tornado certos grupos em simplesmente impor suas opiniões, e ironicamente *isso*, provavelmente mais do que qualquer coisa que tenhamos dito à época, fez muita gente pensar e decidir fazer alguma coisa sobre o assunto.

      Num segundo momento, o Álvaro contribuiu *muito* para divulgar sistematicamente idéias em torno da importância do respeito à liberdade e à propriedade – e como as duas coisas estão fundamentalmente e intrinsecamente conectadas. Ele ter parado de escrever foi uma grande perda!

      Evidentemente que nós três não só não concordamos em tudo como discordamos em muitas coisas, e eu tenho certeza de que essa tensão foi um dos motivos para o site ter tido a longevidade que teve; afinal, como já dizia Nelson Rodrigues, a unanimidade é burra. Se conseguirmos constantemente surpreender o leitor com posições divergentes e para as quais não há síntese fácil, isso certamente é melhor material para fazer pensar do que um receituário de ortodoxia ideológica. E cabe a cada um concluir o que acha disso tudo.

      Saudacões,
      Sergio

  8. Grammar says:

    Os verdadeiros atos de coragem muitas vezes passam despercebidos — o legal é ser corajoso com a galera — mas não desta vez. Não consigo acreditar que isso aconteceu, mas lembro-me de ter ouvido uma história sobre neo-nazistas panfletando na PUC quando eu estava no segundo grau. Só por acaso eu fui descobrir 10 anos depois as atrocidades que os “nazistas” tinham escrito. Se o confisco tivesse sido definitivo eu pensaria que vocês estavam defendendo o holocausto até hoje.

    • Pois é, uma das maiores perversidades da censura é precisamente o fato de que ela impede uma avaliação independente do grau de “periculosidade” do material censurado.

      Eu me lembro enquanto eu estava na PUC que teve uma feira do livro e apareceram uns sujeitos vendendo livros do Castan. Aí logo apareceram uns ativistas para expulsá-los de lá. Na época eu estava fazendo um curso no departamento de educação da PUC, e então evidentemente o curso estava eivado de esquerdosos, os quais ao começo da aula estavam todos se congratulando pelos lindos e maravilhosos atos de censura espontaneamente realizados por um grupo de alunos. Então eu me levantei e falei : quer saber quem é que festeja o banimento de livros? São precisamente os nazistas!

      Você pode imaginar a reação. :-) E naturalmente que não foi na direçao de cogitarem qualquer autocrítica. :-)

      A questão é que liberdade de expressão não existe para defender o direito de dizermos coisas fofinhas com as quais todo mundo concorda, e sim precisamente para proteger a manifestação de idéias impopulares. Se você resolver fundar uma organização para sair por aí batendo em pessoas de qualquer grupo, naturalmente que isso é um crime. Mas publicar livros questionando alucinadamente a história oficial da segunda guerra mundial ou defendendo que tais ou quais grupos tem tais ou quais características delirantes, por lunático ou odioso que seja, não deve ser crime, nem devemos achar lindo que tais pessoas sejam violentamente silenciadas. Se aceitarmos isso, abrimos as portas por exemplo para que ateus sejam proibidos em sociedades religiosas de dizerem que deus não existe, ou, conversamente, para quem odeia ateus e não tem imaginação suficiente para pensar isso sozinho, abrindo as portas para que religiosos sejam perseguidos por suas idéias em sociedades laicas. Ou, naturalmente, para proibirmos livros de comunistas, ou de libertários, ou de capitalistas, ou de qualquer um de quem não gostemos. Legislar sobre que idéias são “permitidas” leva universalmente a besteiras. Proibir as pessoas de pensarem o que quiserem e de dizerem isso abertamente é intrinsecamente odioso e totalitário, por mais imbecil ou desagradável que seja o que elas estão dizendo. É impressionante como as mesmas pessoas que fazem emocionados discursos sobre como repressão à liberdade de expressão sob o governo militar foi opressiva de repente acham lindo impedir os outros de dizerem o que pensam. Aliás, historicamente, existem tantos motivos para se proibirem os escritos dos comunistas quanto os dos nazistas. Evidentemente nenhum dos dois deve ser proibido. Isso de proibir livros sim é coisa de nazista.

      Saudações,
      Sergio

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