RECADOS
DA MARIA

        Quando o meu irmão, Joseph, trabalhava aqui no Rio, ele tinha o estranho hábito de ligar pra casa só pra deixar um recado absurdo com a Maria, ou seja, um trote.

        Certa vez ele ligou e o diálogo entre ele e a Maria foi algo parecido com o que segue:

- Alô?... - disse a Maria.
- Alô, por favor, a Dra. Ana Maria está? - Disse o meu irmão. Ana Maria é a nossa mãe.
- Não está não, o senhor quer deixar recado?

        Nesse momento, o meu irmão já havia ligado o viva-voz e todos no escritório dele escutavam a conversa.

- Gostaria sim. A senhora poderia anotar o meu nome? Eu vou soletrar porque ele é muito complicado.
- Ai, Jesus, tá bem, peraí que vou pegar papel e caneta.

        Menos de um minuto depois...

- Pode falar...
- O nome é Hngdfburgo. 'H', 'C', 'R', 'T', 'L', 'V', 'F'... - e várias outras consoantes que, logicamente, não compunham nome algum. - Anotou?
- Anotei...
- Então faça o favor de repetir, sim?
- Ai Jesus.. INGDFBRCT-URGO! - Ela teve um trabalho danado, mas pelo menos lembrou que ele tinha dito "urgo" no final, antes de soletrar.
- Isso mesmo - os colegas dele tinham dificuldade em conter o riso. - agora anota o recado que eu vou soletrar.
- Ai, tá bem...
- 'E' 'U', 'S' 'O' 'U', 'B' 'O' 'B' 'A'. Anotou?
- Anotei sim senhor.
- Então repete.
- Eú... soú... bobá.
- De novo.
- Eú soú bobá.
- De novo!
- Eu sou bobá!
- De novo!!
- Eu sou... JOSI!! - Finalmente ela descobriu o trote! - Só podia ser você, Josi!!
- Pô Maria, você me descobriu!
- Só podia ser você! Só você me faria repetir um recado mais de cinco vezes!

        Não é fantástico a forma como algumas pessoas deduzem as coisas? Nesse caso não foi o nome esquisito nem o recado mal-intencionado, e sim o número de vezes que a Maria teve que repetir o recado.


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