É interessante como certas cenas, vistas de relance no cotidiano, necessitam de uma quantidade enorme de contexto para serem adequadamente compreendidas, para terem todas as camadas de seu significado decodificado. Um conhecido (não muito intelectual) meu veio a Nova York no final do ano passado e disse algo do tipo “é, não vi nada de mais, é tipo uma São Paulo com algumas coisas um pouco maiores”. Duas pessoas olham para exatamente a mesma situação e uma não vê absolutamente nada de interessante ou extraordinário enquanto outra enxerga montanhas de significado. Às vezes conseguimos ter esse tipo de experiência dual dentro de nós mesmos, quando revisitamos anos depois o mesmo filme ou livro e o que parecia obtuso e chato por vezes se revela brilhante à luz de novas experiências, enquanto o que um dia pareceu genial pode descer à mais total banalidade. Enfim, isso tudo é um meta-comentário a essa cena na Grand Central Station em NY, na qual a adição de uma discreta pichação transformou um trivial anúncio de filme em algo que me obrigou a um sorriso interno e a dar meia volta para tirar uma foto.
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Muito Umberto Eco. Gostei.
É, eu resisti a começar a falar abertamente em semiótica para não correr o risco de passar do nível da minha competência. :-)