Aqui em NY existe uma coisa que não há na Rio – e tanto quanto eu saiba em nenhum lugar do Brasil. Existem jornais de considerável circulação (embora nem sempre reputação), lidos por boa parte da população, que são totalmente gratuitos, alguns deles díários. Eles são amplamente distribuídos, normalmente em esquinas e estações de metrô. Essa introdução tem por objetivo apenas contextualizar a fonte da notícia acima – um desses jornais, o “AM New York”, que se não me engano é entre os diários o de maior circulação em Manhattan.
Mas vamos à notícia – na verdade apenas uma breve nota, publicada esta semana. Em si mesma, ela é quase irrelevante, mas como parte de um fenômeno muito mais abrangente, é irritantemente sintomática. Vocês vejam só, a minha opinião pessoal sobre essa moda recente (de se usar calças que propositalmente expõem a roupa de baixo) é de que isso é vulgar, esteticamente feio, e socialmente ridículo.
Dito isso, eu continuo achando que é problema de cada um se vestir como bem entender. Certamente não é assunto para o governo se meter. Que isso não seja abundantemente óbvio é uma das infinitas manifestações da péssima idéia de que seja adequado usar o poder de coação do governo para tornar obrigatório algum sistema específico de valores. E essa idéia é em si mesma uma das conseqüências da noção de que seja razoável uma pessoa ou um grupo impor seus valores ao resto da sociedade. Alguns desses grupos intuem que isso seria opressivo e ruim, então se saem com a desculpa de que estão na verdade defendendo valores “absolutos”, e/ou que estão “protegendo” as pessoas de si mesmas, de conseqüências ruins (objetivas ou imaginadas) de seus próprios atos. Outros se apegam ao argumento de que estão apenas tornando oficial a vontade da maioria (como se ser oprimido pela “maioria” fosse mais reconfortante ou justo). Finalmente, existem os que por arrogância ou sinceridade admitem que estão impondo seus valores e dizem que é isso mesmo, e que quem não gostar pode ir embora.
Eu poderia agora desfiar alguns argumentos libertários sobre a elevada importância da autonomia individual. Mas não vou fazê-lo. Porque o pior mesmo é que em grande parte dos casos isso nem sequer chega a um nível tão elevado. Muitas e muitas vezes, não se trata sequer de uma batalha de sistemas de valores, ou de convicções filosóficas, ou de ideologias, ou de plataformas políticas. Com lamentável freqüência, trata-se apenas de medo do diferente, de rejeição automática do divergente, de repressão instintiva a assuntos com os quais não se quer ter que lidar. Especialmente com relação a sexo, grandes quantidades de americanos são muito neuróticos. Então não se trata de “o governo deveria proibir tudo o que eu acho errado”, que já seria inaceitavelmente totalitário. É mais na linha “o governo deveria proibir tudo de que eu não gosto”, atitude com relação a qual fica difícil fazer comentários construtivos.
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Em São Paulo, há pelo menos dois jornais tablóides distribuídos gratuitamente no Metrô, e de boa circulação: o Metronews e o Destak. Este último certamente melhor q aquele.
Minha experiência é primordialmente no Rio de Janeiro, então eu não conhecia esse fato. Mais um pra lista de evidências de que São Paulo está mais perto do primeiro mundo. :-)
É realmente ridículo andar por aí com a roupa de baixo aparecendo de propósito. Mas esse lance de Estado dizendo o que devemos ou não fazer, comer, vestir é mais detestável ainda.
Abraço!
[...] Illegal Pants [...]