Este vídeo aqui infelizmente está com uma qualidade de som bastante prejudicada pelo ruído de pessoas conversando e trens passando. Mas também, o que esperar de algo que foi gravado quase na entrada de uma das estações de metrô mais movimentadas do mundo? Diversas plataformas em diferentes profundidades permitem acesso a túneis de diferentes linhas. Acima disso tudo, na superfície, fica o Times Square.
Mesmo com todo esse barulho, achei que valia a pena exibir o vídeo. Contraste-se o que esses sujeitos estão tentando fazer com algo menos ambicioso como, por exemplo, ficar batucando num balde.
Em seguida, observe-se o fato de que essa performance está tendo um sucesso financeiro (e de público) infinitamente superior a batucar num balde.
Tirem-se as apropriadas conclusões socio-político-econômico-antropológicas.
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Ah ah ah! Se fosse aqui o cara do balde ia conseguir um patrocínio da Petrobras!
Putz, comparar o som de violoncelos com os extraídos de um balde é covardia…:-)
Este vídeo é uma boa mostra de como os instrumentos de corda são superiores aos de percussão, e de que o aprimoramento (busca de melhor sonoridade, que possa atrair público, por exemplo) é fundamental no desenvolvimentos social, político e, sobretudo, econômico do indivíduo. Em qualquer parte do mundo um bom som de violoncelo será mais atraente que um bom som de balde (se é que é possível extrair isso de um balde:-).
Claudio – Sim, no Brasil provavelmente o cara do balde iria não só conseguir um patrocínio da Petrobrás como seria convidado a se apresentar em várias universidades do país. Passaria então a dar palestras cada vez mais bem remuneradas e então, quando passasse a viver disso, seria apresentado como modelo do sujeito que deu certo apesar de ter tido que lutar contra a discriminação da sociedade. Aí escreveria um livro que seria best-seller, e passaria a fazer parte da “intectualidade”. Enquanto isso, os tocadores de violoncelo decidiriam pegar um avião e ir para um país onde fossem valorizados. Ou então fariam um concurso para um emprego público.
Carla – Olha, eu não diria que daí se dê para concluir que os instrumentos de corda sejam superiores aos de percussão, mesmo porque no grupos dos violoncelistas há um sujeito fazendo percussão. Não é esse o ponto. Aliás, eu já vi pessoas “tocando” por exemplo violino no metrô de uma forma tal que eu preferiria ouvir o sujeito do balde. A questão aqui é a sofisticação / qualidade / ambição / relevância / valor da obra produzida. Até acho defensável que as possibilidades artísticas do violoncelo sejam superiores às de um balde, mas o ponto é que o cara do balde nem sequer estava tentando direito. Se ele queria demonstrar habilidade musical, tinha que fazer melhor do que aquilo. Mesmo num balde. Aí vai ter quem comece a dizer “ah, mas ele não teve dinheiro para estudar blah blah blah” e isso é completamente irrelevante para o que estou dizendo. Seja de quem for a culpa, a produção cultural dele não tem a mesma qualidade / importância / valor que a dos outros sujeitos.
Amigos,
vocês viram o video do Joshua Bell – reputado um dos maiores violinista da atualidade – tocando num stradivarius a Ciaccona do Bach em uma estação de metrô dos EUA…? Muito provavelmente um poste causaria menos indiferença… Só lembrando que aqui no Brasil, além da indiferença, o violinista perderia seu stradivarius antes que se consumasse os primeiros acordes da magnifífica ciaccona.
Saudações bachianas
David – Na verdade, talvez no caso do Brasil uma coisa acabasse neutralizando a outra – veriam tão pouco valor num violino que não se dariam ao trabalho de roubá-lo…
É mais provável que viesse um funcionário do metrô dizendo que aquilo ali não era permitido…
Sérgio, perdoe-me, mas até ceticismo tem limite..Sim, no Brasil, peca-se na valorização de tais instrumentos, mas dizer que pessoas dariam pouco valor a apresentação de um violino bem tocado é exagero por demais! Já vi apresentações aqui em praça pública(ok, nunca em estações)de violonistas (assim como de outros instrumentos de corda), que chamaram bastante atenção. Uma vez vi Arthur Moreira Lima apresentar-se ao ar livre para um público que não imaginava fosse estar presente.
Pois é. Agora, brados histéricos de sindicalistas em plena hora do rush na Sé é super bem vindo com direito até a cafezinho… aquele café com leve aroma de repartição pública. Volto, porém: a indiferença para com a ciaccona tocada pelo Joshua Bell – http://www.youtube.com/watch?v=hnOPu0_YWhw – configura-se como uma enfermidade espiritual dos nossos tempos… Aplausos para batuques de qualquer espécie, no entanto, não tem faltado.
Saudações Bachianas
Em tempo: Gostaria de agradecer os “indíviduos” rs, blog que acompanho desde que foi fundado (quando ainda era site) na histórica peleja da PUC-RJ.
Carla – Note que eu estava falando da apreciação do valor de revenda de um violino feita por assaltantes brasileiros. :-)
David – Sobre o Joshua Bell tocando, pois é, a maior parte das pessoas não deu a mínima. Naturalmente, se ele estivesse numa casa de concertos, vestir-se-iam de gala e pagariam uma boa quantia para vê-lo. É a questão, como coloca o Pedro, da cultura ao molho pardo. :-) Dizem para as pessoas “isso aqui é uma obra de arte” e elas simplesmente acreditam, não porque entendam realmente qual seja o valor, mas porque disseram pra elas que é chique ver valor naquilo. Sozinhas, sem terem quem lhes diga do que gostar, fica parecendo tudo igual. A música clássica perdeu muito do seu impacto com a diminuição do número de pessoas com cultura musical; é difícil apreciá-la plenamente sem qualquer contexto, assim como é difícil apreciar o valor de um grande poema sem entender nada de sua estrutura, só porque “soa bonito”. Não me admira que haja modernamente considerável receptividade à idéia de que “é tudo igual”; é que para muitos é indistinguível mesmo.
No Largo da Carioca, se parar um malabarista de bola tênis, já junta gente pra caramba. Não é apreciação, é matar o tempo. :-)
Claudio – Aliás, lembrando dessas crianças fazendo malabarismos com bolas de tênis no sinal, não posso deixar de comentar :
Uma das idéias mais absurdamente perversas que já se inventou para “proteger” os adolescentes foi proibi-los de trabalhar em profissões reais. Nos EUA, ao contrário, sempre houve uma cultura de todos os adolescentes, mesmo de famílias nem um pouco miseráveis, trabalharem para terem seu próprio dinheiro.
Aliás, aqui isso ocorre também após a adolescência. No Brasil, para se ganhar uma bolsa de estudos de pós-graduação de uma entidade como a Capes, você tem que assinar um contrato prometendo não ter outras fontes de renda (!!!). Nos EUA, é precisamente o oposto. O prêmio para as pessoas consideradas merecedoras de uma bolsa é em geral oferecer-lhes um emprego na universidade.
Aliás, paralelamente a isso, uma das coisas que me surpreendeu quando aqui cheguei foi a quantidade de camelôs que há em Nova York. Sei lá por que pensava em camelôs como um fenômeno de terceiro mundo.
Existe uma lógica compreensível nestes orgãos estatis de fomento à pesquisa, qual seja, que o bolsista dedique seu tempo integralmente à pesquisa. Convenhamos, a iniciativa não concede tempo nem energia para leituras e estudos. Haja vista que nossos maiores liberais – Roberto Campos e Merquior – estiveram boa parte da vida empregados dentro do Estado.
David – A lógica é compreensível, assim como é compreensível a lógica de proibir adolescentes de trabalharem. Mas embora a lógica seja compreensível, a política resultante é míope e o resultado perverso. Fazer pós-graduação virou subemprego.
A maior ironia é que simultaneamente a isso existe todo um universo de iniciativas de “empreendedorismo” para buscar integrar as universidade ao mercado.