Não resisto a postar este vídeo que fiz mostrando como é tomar o trem de Astoria indo para Manhattan… desta vez eu deixei os avisos que os funcionários do trem ficam fazendo, e por eles é possível saber que estamos num trem W, que é o trem parador que segue ao longo da Broadway. A outra opção seria o trem N, que é o expresso também ao longo da Broadway. São os únicos dois trens que vão para Astoria.
Note que sempre antes das portas fecharem ouve-se “Stand clear of the closing doors”, que é marca registrada do metrô em Nova York. Depois de morar lá por qualquer período de tempo você se acostuma a ouvir isso umas trocentas vezes por dia. Cada trem carrega, além do condutor, uma pessoa cuja única função é ficar falando isso e apertando um botão que fecha as portas. Esse deve ser um dos empregos mais absurdamente chatos do mundo, então freqüentemente ou o aviso é completamente incompreensível (tipo “stancleafthecoldors”) ou então o sujeito vai no sentido oposto e começa a ser criativo, do tipo cantar a frase, ou dizê-la como se fosse algo espetacular, ou de alguma outra forma bizarra. Coisas de Nova York. (Neste vídeo infelizmente é simplesmente dito de uma forma completamenta padrão.) Nos trens mais novos o aviso é dado por uma gravação, mas o sujeito continua lá controlando as portas. Mesmo quando as portas forem totalmente automáticas, o que imagino que já pudessem (e até talvez devessem) ser há muito tempo, provavelmente os sujeitos continuarão existindo, sentados num canto do trem e se sentindo heroicamente indispensáveis, cortesia do sindicato dos metroviários.
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Será que é tão ruim assim? Por que então o empregado não buscou ainda outro emprego? Parece um trabalho ridiculamente fácil para quem quer um dinheirinho sem grande esforço. Essa gente existe e continuará existindo e buscando empregos relativamente fáceis. Se trocam apoios com o sindicato dos metroviários, uma vez que este posto fossem extinto buscariam outro emprego fácil e outros protetores, indefinidamente, ou pior, ao invés de ficar de pé no trem, ficariam em casa assistindo TV às custas do Social Security e coisas do tipo. Ao menos estão empregados, e de fato fazem alguma coisa pelo salário, ainda que seja pouco.
O que há de errado em respeitar as escolhas individuais? Quem é você para dizer ao sujeito que seu emprego não presta e que não deveria existir? Ele está enganando alguém? Mentindo? Roubando? Trapaceando? Tirando vantagem? Está apenas de pé, anunciando a porta. Ó, horror… Que picuinha, Biasi!
Caro John,
Nada de errado em respeitar as escolhas individuais. Eu gostaria de ver respeitada a minha de não contratar esse serviço.
Pois basicamente você está dizendo que eu deveria respeitar a escolha deles de fazerem o que quiserem enquanto sou obrigado a pagar por isso? Neste caso, me parece que a liberdade individual que está sendo desrespeitada é a minha. Se eles querem ficar andando de trem e cantando, parabéns, têm todo o direito, mas não encarem como um *direito* serem recompensados ou remunerados por isso. Já há pessoas suficientes entrando nos vagões com violão tentando pedir esmolas. Essas pelo menos em geral não encaram as contribuições como obrigatórias. Mas claro, isso requer um pouco mais de iniciativa.
Então consideremos a seguinte questão que você tangencia (embora não com essas palavras) : o que fazer com as pessoas que não têm iniciativa, vontade ou competência de proverem seu próprio sustento? E essa é sem dúvida uma das questões mais fundamentais na organização de uma sociedade. Existe uma concordância bem maior sobre a questão relacionada de o que fazer com as pessoas que circunstancialmente estejam em dificuldades mas que estão dispostas a trabalharem duro para superá-las. Também existe considerável concordância sobre o que fazer com aqueles que são improdutivos por falta de escolha – por exemplo, quem tem algum problema de saúde grave. Porém, o que fazer com os cronicamente improdutivos por opção? Aqueles que claramente poderiam estar fazendo algo mais útil, mas que sempre escolherão a vida mais mediocremente inútil possível?
Eu, pessoalmente, acho que lhes deve ser permitido escolher essa vida, mas simultaneamente também acho que não devem esperar nenhuma recompensa ou pagamento por isso. Quem quiser ajudá-los, ajude. Mas não vejo obrigação moral de fazê-lo.
Essa questão se torna particularmente complexa porque inacreditavelmente há pessoas que, mesmo tendo capacidade de produzir seu próprio sustento, preferirão se deixarem morrer de inanição antes de tomarem a iniciativa de de fato fazê-lo. Que fazer nesses casos?
Finalmente, uma observação sobre como você coloca a questão no seu último parágrafo. Para mim, “Respeitar as escolhar individuais” não é o mesmo que concordar com elas. Acho que todo mundo tem direito, sei lá, de se alimentar exclusivamente de pipoca com bacon. Simultaneamente, não acho que ninguém no mundo deveria efetivamente fazê-lo. Essas duas crenças são ortogonais entre si e perfeitamente compatíveis.
Saudações,
Sergio
Fiquei imaginando Woody Allen nesse trem, irritado com a voz do cara que diz “Stand clear of the closing doors”, tapando os ouvidos e depois falando para a câmara: Por que esse cara insiste em se acomodar a isto? :-)
P.S.: Parabéns pelo fundo musical.
[...] From Astoria to Lexington Não resisto a postar este vídeo que fiz mostrando como é tomar o trem de Astoria indo para Manhattan… desta [...] [...]
Oi Carla,
Dica : essa banda do fundo musical é muito boa. Chama-se “Air”.
Beijos
Sergio
Será que a função do cara é exclusivamente essa? Ascensorista de metrô? Creio que em algum caso de acidente ou emergência ele desempenhe uma função mais nobre, não? A idéia de um trem totalmente automatizado sem um olho humano para supervisionar (ou, mais provavelmente, cometer alguma falha humana) não soa muito boa para a maior parte dos ouvidos, eu mesmo ficaria meio inseguro.
Oi Mauro,
É mais ou menos ascensorista de metrô mesmo. Para conduzir o trem (que é sem dúvida uma tarefa muito mais crítica em termos se segurança) existe um outro sujeito no trem, especificamente com esse objetivo. Em grande parte dos sistemas de metrô do mundo (no Rio de Janeiro, por exemplo) só existe o condutor…
Saudações,
Sergio