Uma das idéias que o marxismo conseguiu introduzir com mais sucesso no imaginário da cultura humana foi a de que alguma noção de “igualdade” material entre pessoas, grupos e nações seja um objetivo intrinsecamente nobre e desejável de se buscar.
Só que infelizmente pode ser o caso de que qualquer sistema que busque “igualdade” generalizada produza, quase por definição, mediocridade generalizada. Pode ser o caso de que concentração de riquezas seja necessária para o funcionamento saudável (tanto em termos de progresso material quanto de liberdade e dignidade) da humanidade como um todo.
É completamente inviável que toda a humanidade tenha, por exemplo, o padrão de vida que prevalece nos Estados Unidos. Simplesmente não há recursos para isso. Se formos tentar colocar cada vez mais sistemas em funcionamento que garantam um uso mais uniformemente distribuído dos recursos (ou compensações cada vez mais draconianas pelo desequilíbrio) estamos efetivamente destruindo a possibilidade da existência de uma “elite”.
Só que distribuir toda a riqueza das elites pelo resto da humanidade produz um benefício quase ridículo em termos objetivos. Para dar um exemplo caricatural, a riqueza do Bill Gates distribuída por todos os seres humanos da Terra te dará mais uns cinco ou seis dólares. Concentrada nas mãos dele produz o Windows. O que tem mais valor para você?
É para mim em geral uma falácia acreditar que a perseguição das elites e a distribuição forçada de recursos (pelo menos com vistas a atingir algum tipo de “igualdade”) beneficie a humanidade.
Colocado isso, reconheço que existe algum tipo de dilema moral – além de um problema prático – em deixar a miséria extrema reinar em grandes partes do mundo ou da sociedade. Mas as causas fundamentais disso não estão pra mim na existência de elites ou na distribuição “injusta” de recursos.
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Pedro
Não há dilema moral algum. Haveria somente se a razão da miséria fosse a existência dos super-ricos. Desigualdade sempre haverá – só espero que o nível mínimo um dia seja o que há nos países mais desenvolvidos. Isto acredito ser possível.
Abs
Caro Lopez,
Observo que este post foi feito por mim, Sergio, e não pelo Pedro. :-)
Note, o dilema moral que coloco não é o de super-ricos versus super-pobres; de fato o artigo inteiro defende que isso é um falso dilema. O dilema moral que eu coloco quanto à miséria intensa é ela existir e não fazermos nada para erradicá-la – supondo, naturalmente, que os “ajudados” queiram de fato sê-lo. Mas esse é um dilema moral que não tem nada a ver com a existência de super-ricos.
Saudações,
Sergio
Talvez o nosso dilema moral seja não *podermos*, nós, meros mortais, fazer nada para erradicar a miséria. Com raras exceções, não acredito que haja quem queira ser miserável, mas vejo que alguns conformam-se mais facilmente com o não ter que outros na mesma situação, ainda que haja estímulos, o conformar-se é mais forte. E aqui não digo de alguns povos africanos, por exemplo. O que acontece aí é gritante e desumano e sua resolução foge-nos a passos largos. Ou não?
Oi Carla,
Eu só não consigo me sentir plenamente confortável com “ok, esse sujeitos não conseguiram ser produtivos, então vamos deixá-los morrer de fome”.
Saudações,
Sergio
Pô, acredito que só um perverso sentir-se-ia plenamente confortável ao deixar sujeitos morrerem de fome por não serem produtivos.
O lance é o seguinte: num âmbito mais amplo – acho que posso dizer “mundial” – não temos poder algum sobre a miséria, pois não temos poder algum. E penso que talvez aí pudessem ter grande papel as elites, pois invariavelmente elas têm poder. Bill Gates nos ofereceu o Windows? Ótimo! E o que ele – e os semelhantes a ele – poderiam fazer para dirimir a miséria no mundo? Não digo que sejam obrigados, estou pensando em hipóteses acerca disso, e tais não passam por distribuir todos os seus bens irmanamente. :-)
Oi Carla,
E ela, têm, e elas têm… meu ponto é precisamente que as elites fazem muito mais bem ao mundo simplesmente existindo, mesmo quando não estão intencionalmente buscando fazer o bem, do que sendo destroçadas em nome da “igualdade”… proibir ou impedir as elites de existirem a meu ver não ajuda absolutamente ninguém…
Saudações,
Sergio
http://blogdomrx.blogspot.com/2008/09/o-problema-da-misria.html