Depois de ataques tão virulentos nem tão exatamente contra o Obama, mas contra o sentimento de esperança que de fato o cerca, vou ter que comentar alguma coisa.
O Obama de fato é algo revolucionário. Não por ser negro, ou relativamente jovem, ou não ter vindo de uma família milionária, ou várias outras coisas que o separam do perfil padrão para um candidato à presidência americana. Mas por ser tudo isso e não ostentar tais “credenciais” como se lhe dessem instantânea superioridade moral. Por recusar-se a se tornar um estereótipo ambulante de si mesmo ou de abstratas minorias oprimidas. Ao contrário de McCain, que de 15 em 15 minutos faz questão de lembrar a todos como foi um prisioneiro de guerra, Obama não parte do princípio de que ser vitimizado seja automaticamente meritório.
Aliás, pelo contrário. Ao invés de ficar choramingando, ele trabalhou muito duro para conquistar oportunidades que não vieram facilmente, para se tornar uma pessoa melhor e mais preparada, estudou com excelência em Columbia e Harvard, trabalhou por anos como advogado antes de se candidatar a senador.
Ele não está sendo eleito por ser um coitado. Ele não é o coitado eleito para a presidência com base no pensamento bizarro de que é bom ter lá alguém bem coitado porque assim saberá ter empatia e solidariedade com outros coitados, ou porque assim estamos de alguma forma “compensando” os coitados. Ele está sendo eleito justamente porque *não* é um coitado. Ele está sendo eleito por pessoas que querem na presidencia alguém melhor do que elas mesmas, alguém com mais força, com mais inteligência, com mais preparo, com mais esperança.
Naturalmente que é uma péssima estratégia depositar muitas esperanças na idéia de que o governo virá salvá-lo, ou que vai criar o paraíso na terra. Mas se por um lado o governo não pode salvá-lo, o governo pode com muita facilidade destruir a sua vida, e de fato fisicamente o faz em grandes partes do mundo. Mas até mesmo nos EUA, onde as opções realistas para o que um governo vai fazer são comparativamente mais limitadas, parece razoável acreditar que o mundo seria o mesmo hoje caso Al Gore tivesse se tornado presidente em 2000?
Talvez o entusiasmo de Arnaldo Jabor possa soar exagerado ou pueril. Mas sinto muito, realmente eu entendo exatamente os motivos dele. O Obama é um símbolo, um emblema, um canal para extravasar uma frustração colossal. Como Jabor observa, isso é uma questão menos visceral no Brasil, onde as pessoas tendem em geral a não levarem nada excessivamente a sério, mas se no Brasil isso é mais incomum, nos EUA existe de fato uma multidão de zelotas militantes munida de um arsenal inesgotável de verdades e certezas absolutas que querem impor à força a todos que for possível. Pessoas que acham sinceramente que estão fazendo um favor ao mundo ao tornarem suas opiniões e preconceitos sobre como a vida deve ser vivida em legislação.
Ironicamente, apesar de ter em massa o apoio de tais pessoas, McCain em si mesmo não é assim tão primário, e como tal claramente pareceu em vários momentos se envergonhar de suas próprias bases políticas. O ultra radical exemplo disso é a fenomenal Palin, que entre outras coisas é “pro-life” (o próprio termo já é ridículo) e quando perguntada sobre se achava que o aquecimento global era ou não causado pelo homem respondeu que “não era produtivo ficar apontando dedos, que muito mais importante do que dizer quem era culpado era ir lá e trabalhar duro para resolver o problema.” Ceerrttto.
Talvez o Obama não seja nem tão santo nem tão gênio como no auge de sua popularidade muitos parecem tentados a acreditar. Mas comparado com pessoas que querem mandar na minha vida com base em obscurantismo fundamentalista e ignorância militante, só posso mesmo dizer : Viva Obama!
[...] .././ [...]
[...] exaltados com a sua eleição, porque enfim o neoconservadorismo caiu de joelhos, fazendo com que a ciência triunfe sobre a religião, sobre o obscurantismo, sobre a tutela de um patriarcado moralista sobre a vida das pessoas; [...]
Pô, o Palin foi plenamente girardiano nessa declaração, justiça seja feita ;)
*A* Palin… cacete, isso mostra quantas sequóias eu cago pras eleições ianques, hahaha… abração, Pedro.