Por Que As "Pessoas Católicas" Só Falam Bobagens Sobre Quem Não Concorda Com Elas?

March 15th, 2009 by Sergio de Biasi

Eu começaria por dizer que isso nem sequer é verdade. Apenas me pareceu um título irresistível após o título, digamos, estusiasmadamente generalizante do texto do Pedro.

Naturalmente, as “pessoas esclarecidas” falam todos os tipos de coisas sobre todos os tipos de assuntos, assim como o fazem as “pessoas católicas”. Muitas das críticas feitas mutuamente são perfeitamente razoáveis, e até mesmo o Pedro, quando resolve ser razoável, faz críticas muito sérias sobre as quais vale a pena refletir. Existem críticas perfeitamente válidas à religião católica, assim como ao – como colocar? – “esclarecimento”.

Porém, recentemente, tem acontecido um fenômeno que não ocorre em geral com todas as “pessoas católicas”, mas que tem acontecido com o Pedro. O fenômeno é escrever longos textos na linha de “Aqui estão detalhadamente todos os motivos pelos quais o presente tema sobre o qual discorro não me interessa e por que falar sobre ele é uma perda de tempo tão grande que não vou ficar me dando ao trabalho de debater o assunto”. E então procede a debater o assunto.

Eu não sei exatamente como classificar esse modus operandi, se como hipocrisia ou meramente arrogância, falta de self-awareness ou algo mais, mas o que eu extraio disso é o seguinte : existe uma dissonância fundamental entre o que está sendo dito e o que está sendo feito. O que, pensando bem, talvez no fim das contas infelizmente seja uma característica bastante comum entre as “pessoas católicas”. E não tem como ser diferente, porque a realidade na qual vivem é completamente fantástica e dissociada do que realmente é verdade; se fossem forçadas a seguir à risca tudo o que dizem, não só sua loucura ficaria evidente demais para ser varrida para debaixo do tapete, como a grande maioria provavelmente desistiria no ato de ser católica.

Mas prossigamos às quatro “coisas” listadas por Pedro ao defender que o discurso dos “detratores da religião” por “pessoas esclarecidas” só pode ser explicado por “burrice ou má fé”, sendo “mesmo o caso de procurar explicações psicológicas”.

Ponto Número Zero

Aliás, comecemos por uma pré-coisa discutida no começo do texto, que é a distinção entre as seguinte “entidades” : “1. o magistério da Igreja, 2. a instituição materialmente existente, 3. todos aqueles que se dizem católicos, 4. todos aqueles que se disseram católicos em toda a história, 5. muitas coisas além disso e 6. tudo isso junto.”

Evidentemente aqueles que se dizem “católicos” não necessariamente seguem exatamente os dogmas oficiais defendidos por Roma. Isso é óbvio para qualquer pessoa minimamente pensante. Mas esse argumento é similar a defender o comunismo dizendo que Cuba não é *realmente* comunista, ou que a China não é *realmente* comunista, e assim por diante, por não seguirem fielmente os cânones do “verdadeiro” comunismo. Esse argumento se torna ainda mais indefensável quando evidentemente até mesmo representantes supostamente oficiais da igreja católica como padres, monges e assim por diante nitidamente agem e ensinam flagrantemente contra o que Roma diz. Se uma unidade do exército americano comete um massacre num país estrangeiro, não é uma defesa razoável nem sustentável dizer “ah, eles agiram contra nossas ordens então não temos nada a ver com isso”. É melhor do que se o mal causado fosse intencional, mas dissociar-se convenientemente das conseqüências concretas da forma como sua instituição funciona é, isso sim, cegueira ou hipocrisia. O mais fantástico é que essas são as mesmas pessoas que desmontam esse argumento como ridículo quando aplicado em outros contextos.

Por exemplo, seria muito fácil afirmar (e de fato é um argumento quase padrão) que os críticos do comunismo são uns tolos ignorantes e desinformados porque não conseguem sequer observar a distinção fundamental que existe entre “1. os líderes comunistas (Stalin, Lenin, Castro, Mao, etc), 2. os governos comunistas (União Soviética, Cuba, China, etc), 3. todos aqueles que se dizem comunistas, 4. todos aqueles que se disseram comunistas em toda a história, 5. muitas coisas além disso e 6. tudo isso junto.”

Isso é uma forma de magicamente escapar da acusação de que o comunismo matou milhões de pessoas ao longo da história. “Oh, vejam que ignorância, não foi o comunismo, foi Stalin.”

Naturalmente, esse argumento poderia ter algum fundamento se os atos perpetrados não tivessem nada a ver com comunismo. Se descobrimos um bombeiro estuprador, não corremos a bradar que a instituição dos bombeiros é corrupta. Mas se os bombeiros sistematicamente saqueiam as residências nas quais entram durante incêndios, há algo errado com a instituição.

Na verdade, eu diria que é impressionante como em geral as pessoas comuns não religiosas interessadas no assunto quase sempre sabem muito, muito mais sobre a igreja católica do que o “devoto” médio, que em geral não conhece absolutamente *nada* sobre o que realmente está na bíblia, quais preceitos são realmente dogmas oficiais, qual a estrutura da igreja católica, sua história, etc. Tais pessoas “esclarecidas” estão em geral muito mais qualificadas para emitir qualquer julgamento sobre a igreja católica do que o “católico” médio. Isso não diz nada sobre a igreja? Pois para mim diz *muito*. Não é como se essas pessoas não fossem todo domingo à missa, e ouvissem algo que deveria ser um sermão iluminando algum aspecto da fé católica. Ao invés disso são universalmente servidas um ritual zumbificante e completamente desinformativo.

Em resumo, esse argumento de dividir a igreja católica em uma multiplicidade de entidades pode até funcionar para certos tipos de crítica, mas não é uma panacéa que automaticamente torne vazias ou inválidas críticas feitas ao todo apontando para uma das partes. Aliás, está muito mais para um truque de prestidigitação retórica ao final do qual as críticas são simplesmente ignoradas.

Ponto Número Um
“um horror absoluto à idéia de que algo não mude”

Quando se trata de qualquer pessoa ou entidade que esteja defendendo conhecer “a verdade” sobre o mundo, esta “verdade” não estar aberta a discussão e ter que ser aceita por autoridade ou “fé” é sim algo que pega muito mal. Naturalmente que mudar apenas para demonstrar “modernidade” é estúpido. Mas responder a qualquer crítica sobre inconsistência com a realidade ou incoerência interna com “isso é um mistério da fé” não funciona muito bem entre “pessoas esclarecidas”. Quando algo não muda porque tudo indica que seja verdade apesar de uma grande quantidade de reflexão e investigação, isso é excelente e indica que talvez tenhamos encontrado algo próximo à verdade. Nenhuma pessoa “esclarecida” que eu conheça tem qualquer problema com o teorema de Pitágoras ser o mesmo há mais de mil anos, ou brada pela sua revisão por ser arcaico e antigo. Mas ele de fato tem algo eterno e transcendente a seu favor. Ele é de fato verdadeiro, e não é preciso recorrer a nenhuma autoridade ou “fé” para verificar isso.

Já algo que não muda porque foi arbitrado por alguma autoridade como convencionalmente “verdadeiro” não goza, não interessa o quanto se esperneie sobre o assunto, do mesmo grau de eternidade e infalibilidade, e não parece um bom fundamento para um sistema de crenças ou valores. O impedimento contra mudanças é completamente artificial nesse caso, e desperta desconfiança e desconforto em qualquer um com independência de pensamento.

Evidentemente que na ciência também não é o caso de que o sujeito ali da esquina tenha os meios para contestar verdades sobre física de partículas. Mas isso é uma limitação prática, não de princípio. Novamente, a matemática é um excelente exemplo de disciplina científica na qual tais limitações práticas impõem muito poucas barreiras ao progresso do conhecimento. Se algo é realmente verdade, é verdade para todos, e qualquer um com suficiente dedicação e talento pode fazer novas descobertas universalmente verificáveis por outros de forma muito objetiva, sem precisar de autorização, permissão, aprovação ou concordância das autoridades vigentes. Isso é completamente contrário à idéia, sim, tristemente eterna de que alguém vai lhe dizer o que fazer – seja o governo, o papa, sua família, o professor da escola.

Aliás, a própria idéia de que haja uma autoridade central decidindo a “verdade” na qual todos estarão então forçados a acreditar é odiosa e absurda. E é nesses moldes que a igreja católica funciona. Portanto mesmo que ela fosse infalível e estivesse absolutamente certa na totalidade de suas santas conclusões (algo em que eu não tenho qualquer razão para remotamente acreditar), um sistema como esse é infantilizante e perverso.

O mais irônico é que a igreja católica, pretensamente eterna e universal, começou num momento histórico determinado e muda o tempo todo. Talvez mais lentamente e ponderadamente, digamos, do que um partido político, mas em longos períodos de tempo a igreja católica mudou enormemente. Se compararmos a igreja católica atual com a de 500 anos atrás e com a de mil anos atrás, veremos mudanças, sim, revolucionárias, nos assuntos mais fundamentais possíveis. Enxergar a igreja católica como uma referência espiritual estável e coerente é risível. Exercícios retóricos para tentar forçar uma consistência inexistente apenas realçam a existência da questão.

Ponto Número Dois
“desejo de que nenhum ato tenha uma conseqüência indesejável”

Essa é quase uma tautologia. É claro que todos queremos que nossos atos tenham apenas as conseqüências que desejamos, quase por definição. Não há absolutamente nada de errado com isso, e o contrário seria esquizofrênico.

A crítica, talvez mal articulada na frase acima, parece ser sim ao comportamento infantil de não quem não assume a responsabilidade por conseqüências obviamente previsíveis de seus próprios atos. Alguém que faz sexo irresponsavelmente, vê-se diante de uma gravidez, e diz “ah, não foi culpa minha, porque não era o que eu queria”. Ou que bebe um monte de refrigerante, ganha peso, e então diz “ah, não foi culpa minha, eu estava com vontade de beber refrigerante, não de engordar”. Sim, isso é absolutamente infantil, e diria eu, pior do que infantil, demonstra problemas sérios de caráter.

Porém, para começar, o que decorre como conseqüência previsível de certos atos muda com a tecnologia e com o contexto. Hoje em dia pessoas perfeitamente responsáveis e conscientes podem usar por exemplo pílulas anticoncepcionais para evitar a causalidade entre sexo e filhos, ou comprar refrigerantes preparados com adoçantes artificais que podem beber sem engordar. Essas causalidades mudaram modernamente, mudando também o significado de tais atos (desde que executados responsavelmente). Porém existe em certos segmentos da sociedade uma inércia moral alucinada que ainda enxerga certas coisas como causa incontornável de certas outras, quanto isso simplesmente não é mais verdade. Sexo absolutamente não precisa gerar bebês, e qualquer pessoa “esclarecida” está abundantemente consciente disso. Então quando “pessoas católicas” vêm buscar impor esse discurso plastificado, e sim, protegido de “mudanças” pela autoridade da igreja, é natural que “pessoas esclarecidas” não vejam qualquer sentido ou mérito em tais idéias. Não mais do que em “Se você escolher dirigir um carro deve estar preparado para a hipótese de que seu pneu vai furar, você vai perder o controle e matar TRANSEUNTES INDEFESOS!!!!”

Adicionalmente, no caso de sexo, o discurso é particularmente absurdo. Assim como hoje em dia a causalidade entre o ato sexual e gravidez pode ser confiavelmente eliminada por pessoas responsáveis, a causalidade entre gravidez e gerar bebês também simplesmente não é mais automática. Existem diversas formas de se evitar que uma gravidez leve à geração de bebês, especialmente no começo da gestação, quando métodos químicos podem ser usados com mínimos efeitos colaterais. E não, eu não aceito nem como hipótese a idéia de que um óvulo recém fecundado seja um “bebê”. Essa é uma afirmação simplesmente ridícula para mim. Abortar quando não se deseja ter um filhos, isso sim pra mim é um ato de grande responsabilidade e que demonstra a determinação de assumir a responsabilidade pelas conseqüências de seus atos ao invés de meramente agir como vítima de suas próprias escolhas.

Então o que realmente ocorre em geral não é que as “pessoas católicas” lutem para aumentar o grau de responsabilidade e consciência na tomada de certas decisões. De forma alguma. Em geral o que ocorre é que elas tomam seus preconceitos ditados por Roma e criam todo o tipo de conseqüência absolutamente falsa e fabricada como inevitavelmente decorrente de certas escolhas e então repetem isso ad nauseam com um discurso agressivo, acusatório e pseudo-moralista, enquanto tentam pressionar a sociedade a tornar seus dogmas autoritários leis civis aplicáveis a todos. Não, obrigado. Não tenho qualquer intenção de ensinar a meus filhos que toda vez que eles se masturbam um anjo no céu começa a chorar.

Ponto Número Três
“eufemismos tolos e totalitários”

O ponto anterior ainda tinha uma conexão mais ou menos forte com religião, ao buscar explicar uma posição antagônica das “pessoas esclarecidas” com relação a religião através do fato de esta pretensamente lhes lembrar sobre as conseqüências negativas de seus atos. Me parece que o ponto atual vai mais na direção de um discurso genérico contra as tais “pessoas esclarecidas”. Mas vejamos do que ele trata.

O único “eufemismo tolo e totalitário” citado nesta parte é “precisamos discutir algo” significar “precisamos mudar a legislação”. Então os dois exemplos são no sentido do “legalizar x”. Ora, para começar, eu não vejo como um discurso genérico em favor de “precisamos mudar a legislação para legalizar x” possa ser autoritário. Independentemente do discurso ser tolo, ou desonesto, como é que ele pode ser autoritário? Pelo contrário, o que me parece extremamente autoritário é a legislação vigente sobre esses assuntos.

Talvez então a *forma* de mudar a legislação é que seria autoritária. Talvez a crítica seja que quem diz querer “discussão” sobre esses assuntos na verdade não quer discutir coisa alguma, e sim impor sua mudança na legislação. Esse argumento torna-se francamente ridículo quando observamos a receptividade ao debate apresentada por aqueles que defendem as posições opostas. Aqueles a favor da criminalização do aborto e das drogas têm por norma uma retórica apocalíptica, autoritária e inflexível, e não costumam estar abertos a discutir coisa alguma. Um pré-requisito para que a legislação pudesse ser mudada de forma não autoritária seria que houvesse uma discussão honesta dos assuntos em questão, e que o público em geral tivesse consciência dos fatos objetivos sobre o assunto, ao invés de uma torrente de propaganda e lavagem cerebral. Especialmente sobre as drogas, a quantidade de desinformação é grotesca; as pessoas não tem a mais remota noção de que a maioria das drogas ilegais é menos viciante e apresenta menos riscos à saúde do que por exemplo cigarro. O discurso sobre o assunto de uma parte substancial das “autoridades” é simplesmente desonesto, ignorante e mentiroso. Então é preciso, sim, discutir esses assuntos de forma menos mentirosa. Aliás em grande parte dos casos o tabu imposto em torno do tema é tão forte que nem sequer há discussão. Então nesses casos o que é preciso para começar é sim discutir o assunto. Não há nada de eufemismo, nem de tolo, nem de totalitário nisso.

Por outro lado, ironicamente, o outro lado do debate não hesita por um segundo em usar, eles sim, eufemismos, tolos, e totalitários. Enquanto os defensores da não-criminalização do aborto se entitulam de forma razoavelmente neutra “pro-choice”, aqueles a favor da criminalização do aborto, que são literalmente “against choice”, se entitulam “pro-life”. Chamar a posição a favor da criminalização do aborto de “pro-choice” é isso sim um exemplo reluzente de um eufemismo tolo e totalitário. E completamente desonesto, porque evidentemente é construído em torno da insinuação de que seus oponents sejam “against life”, ignorando completamente o fato de que o debate é justamente sobre se existe uma vida humana sendo terminada.

Mas é como todo o resto; é dizer “Jesus é filho de Deus”, e então responder a “Mas como você sabe?” com “Está na Bíblia” e “Mas como você sabe que a Bíblia está certa?” com “A santa igreja católica disse que está” e então a “Mas como você sabe que a igreja está certa?” com “Ah, ela foi fundada por Jesus!” e então “Mas como você sabe que Jesus está certo?” com “Ora, ele é o filho de Deus, duh!”

Ponto Número Quatro
“mentalidade vitoriana”

Quanto à descrição das “pessoas esclarecidas” como tendo mentalidade vitoriana, supostamente imagino em oposição ao autor, eu fico pasmo.

O texto ao qual presentemente respondo é colocado desde um ponto de vista de alguém que é tão “superior” ao objeto criticado que nem sequer mais fica indignado com os absurdos que observa, por estar tão distanciado de tais erros que lhe provocam apenas curiosidade. O que pode ser mais vitoriano do que isso? “Oh, olhe só que coisa curiosa os nativos estão fazendo hoje!”

Note, o problema não é tanto colocar fotos de atrizes inglesas e francesas semi-conhecidas versus fotos de mulheres toscas com bunda grande e peitão de fora sambando na rua. Cada um tem seu gosto. A questão é colocar fotos de quaisquer mulheres louvando o quanto são atraentes e então vir com invectivas relacionadas com o fato de que “sexo gera bebês”. Isso sim é hipocrisia vitoriana em grande estilo.

A mentalidade vitoriana se definia justamente por proclamar altíssimos ideais de “pureza” enquanto na prática continuava-se sendo simplesmente humano. Então as esposas da época vitoriana eram nominalmente desencorajadas a apreciarem sexo, mesmo com seus maridos. Os quais então recorriam a prostitutas para terem sexo de verdade. Um costume bastante “católico”, aliás.

Por outro lado alguém que abertamente proclama para todos ouvirem que gostariam sim de agarrar aquela mulata seminua que samba à sua frente pode ser chamado de muitas coisas, mas acho que “vitoriano” não me parece ser uma delas. Pode até ser o caso de que a pessoa declare isso por pressão social para se mostrar “do povo”, mas mais uma vez, o enaltecimento de ser “do povo” não é exatamente algo que possa ser chamado de “mentalidade vitoriana”, aliás muito pelo contrário.

Sobre acusar tais “pessoas esclarecidas” de usarem a indignação como substituição a argumentos, isso é no mínimo curioso vindo de quem apóia movimentos cujo único “argumento” contra o aborto é “OH, TEMOS QUE PARAR O GENOCÍDIO DE BEBÊS”. Como se o centro da discussão em torno do aborto não fosse justamente se está ocorrendo um genocídio de bebês para começar. A discussão não é e nunca foi sobre se matar seres humanos é ótimo e lindo, e sim sobre se seres humanos estão sendo mortos. Mas é óbvio que apresentar a questão com esse grau de honestidade é prejudicial à retórica.

Por mais que eu deteste o politicamente correto, eu vejo muito, muito, muito mais falsa, hipócrita e freqüentemente histérica indignação do lado daqueles que se opõem aos “democrats” e “liberals” americanos do que vinda que deles próprios. Sou o primeiro a concordar que é completamente estúpido uma pessoa não poder ser contra, digamos, ação afirmativa sem aparecer alguém para chamá-lo de racista. Mas é igualmente estúpido alguém não poder ser contra a criminalização do aborto sem aparecer alguém para chamá-lo se assassino de bebês. Ou mesmo de defensor do aborto; é perfeitamente possível ser contra a criminalização do aborto sendo radicalmente contra o aborto, e essa aliás é uma posição bastante comum. Mas isso se perde na retórica histérica e desonesta de “Oh, você é contra a crimininalização do aborto? SEU ASSASSINO!”. Ou “Oh, você é a favor da descriminalização das drogas? SEU ASSASSINO IRRESPONSÁVEL! QUER QUE NOSSAS CRIANÇAS MORRAM DE OVERDOSE E SE PROSTITUAM NAS RUAS??” Err, se eu sou a favor da descriminalização, talvez seja em parte porque eu acho altamente improvável que qualquer dessas coisas vá acontecer. Aliás, provavelmente diminuirão.

Esta confusão intencional entre o que alguém acha errado e o que deve ser crime é desonesta e deturpa tanto a consciência moral quanto o papel do estado. Mas a igreja católica, em todas as oportunidades que historicamente teve, nunca se importou muito com o fato de que nem todos são católicos, e sempre buscou tornar lei civil aquilo que seus preceitos morais alienígenas recomendam, sem hesitar por um momento em usar de desinformação e histeria para atingir esse objetivo.

Aliás, mesmo que não houvesse qualquer desinformação ou lavagem cerebral, me parece razoavelmente claro que algo nem tudo que é desaprovado em pesquisas de opinião pública deva ser automaticamente tornado ilegal para começar (acho que nem é preciso argumentar sobre o tipo de aberração a que isso leva/levou/levaria).

Finalmente, alardear taxas nominais de “rejeição ao aborto” em pesquisas de opinião pública no Brasil provavelmente apenas registra o sucesso da igreja católica em sua campanha insana de lavagem cerebral para tornar socialmente inadmissível a defesa pública da legalização de uma prática que é onipresente e corriqueira em todas as localidades e classes sociais do país. Por um lado avalia-se que no Brasil se realizem aproximadamente um milhão de abortos por ano. Por outro lado, a taxa de natalidade brasileira gira em torno de 18 por mil habitantes e caindo. O Brasil tem aproximadamente 200 milhões de habitantes. Isso significa que para cada 18 crianças nascidas, aproximadamente 5 são abortadas. Ou seja, aproximadamente vinte por cento de *todas* as situações em que ocorre uma gravidez são resolvidas com um aborto. E eu devo acreditar que este é um país com uma forte posição “contra” o aborto? Só mesmo na mente delirante das “pessoas católicas”. Isso é uma impostura e uma hiprocrisia de dimensões continentais. O que aconteceu foi que se dizer a favor de legalização do aborto se tornou “politicamente incorreto”, em grande parte por pressão da igreja católica, que impinge a pecha de “assassino” a qualquer um que ouse fazê-lo. O mesmo ocorre por outros mecanismos com a legalização de certas drogas, que apesar de universalmente usadas, carregam consigo uma carga artificialmente, arbitrariamente e hipocritamente inflada de inaceitabilidade social, de forma que defender abertamente sua legalização implica se atirar de cabeça em estigmas e acusações quase incontornáveis pela força da histeria, lavagem cerebral e desinformação que os cercam.

Conclusão

“1. Ninguém mais atribui neutralidade ou imparcialidade à mídia. De que modo isso afeta a credibilidade?”

Na minha opinião, positivamente, desde que isso seja introjetado pela mídia. Desde que o jornalista não seja deliberadamente mentiroso, eu acho que revelar suas opiniões e afiliações pessoais ao invés de se revestir de um suposto manto de imparcialidade e objetividade contribui para o que o leitor seja melhor capaz de julgar por si mesmo em que acreditar. Naturalmente, desde que não estejam todos dizendo precisamente a mesma coisa e haja de fato onde encontrar opiniões alternativas defendidas de forma minimamente competente a seres consideradas.

“Será que o jornalismo se tornou apenas um reforçador da identidade ideológica dos leitores?”

A pergunta é justa, e acho que infelizmente a maioria das pessoas tende a buscar apenas autores que confirmem seus pontos de vista. Porém no jornalismo pelo menos existe uma certa diversidade, mesmo que sem igualdade de representação. Por outro lado, a igreja, que certamente pretende ter um papel muito mais fundamental na vida das pessoas do que a imprensa, é construída sobre uma fundação dogmática e unanimista. Cabe então perguntar “Será a igreja apenas um reforçador da identidade ideológica de seus devotos?”, e se essa pergunta já é séria no caso da imprensa, me parece muitíssimo mais contundente no caso da igreja.

“2. Não será a hora de parar de não perceber que existe uma identidade de grupo entre jornalistas, que quem está de fora percebe? Como isso afeta a relação entre o público e os jornalistas?”

Acho que todas as pessoas pensantes percebem isso claramente há já muito tempo, e esse é provavelmente um dos motivos pelos quais agora que há alternativas os jornais tradicionais estão no mundo inteiro em crise. A internet permitiu o acesso direto do leitor tanto a fontes primárias de informação quanto a opiniões divergentes freqüentemente excluídas da grande mídia.

Isso sendo dito, estou falando das pessoas pensantes, com independência intelectual, senso crítico, e iniciativa. É provavelmente justo dizer que tais pessoas são infelizmente são uma pequena parte da população. Para a pessoa média, trata-se de ver um noticiário povoado de banalidades irrelevantes como o panda que não quer comer no zoológico tal ou a perseguição ao fugitivo na auto-estrada. Para essas pessoas a relação com a mídia continua mais ou menos igual : o jornalista é uma fonte de entretenimento e de cola social sob a forma de assuntos inofensivos para conversar com família, amigos e colegas, um instrumento de socialização entre ou com pessoas que não tenham qualquer vida interior, idéias próprias ou mais sobre o que falar mas que precisem exercer a necessidade humana de produzir ritualmente sons que outros comunalmente fingem que ouvem enquanto esperam a sua vez de produzi-los. E a uniformidade do discurso é fundamental para isso de fato funcionar.

3. Por mais padronizada que seja a linguagem jornalística, não será melhor abdicar do padrão em nome da informação, isto é, da complexidade?

Seria se o objetivo fosse realmente informar. Mas a função que a grande mídia cumpre normalmente está muito distante disso. Aliás, freqüentemente, o objetivo é desinformar, por vários motivos. Nenhum veículo de mídia quer realmente ofender ou alienar seu público com medo de perdê-lo, então instintiva e naturalmente evita vários assuntos, freqüentemente os mais importantes. Além da questão dos anunciantes, da necessidade de escrever sobre algo mesmo quando não há nada a escrever, da necessidade de não contrariar demais o governo, etc. Então o “jornalismo” voltado para as grandes massas é na sua maior parte um circo de desinformação irrelevante e superficial com valor primordialmente de entretenimento e de semente de coesão social. Informar não tem muito a ver com isso.

Ou isso inviabilizaria o jornalismo enquanto negócio? Se inviabilizar, em que o jornalismo difere moralmente do tráfico de heroína?

Eu pessoalmente não acho que haja nada de errado com o tráfico de heroína em si mesmo; a meu ver 99.9% dos problemas ligados ao comércio e consumo de heroína derivam de sua ilegalidade. Aliás a meu ver o tráfico de desinformação promovido pela imprensa é infinitamente mais danoso e viciante para a sociedade do que qualquer coisa que a heroína jamais causou ou pudesse causar. Infelizmente isso não ocorre por acaso; é uma simbiose com o público que não quer realmente ser informado tanto quanto entretido.

“4. Serei eu mesmo uma pessoa tão esclarecida a ponto de poder tornar meus preconceitos padrões universais de julgamento? Será que não estou deslumbrado demais com meus diplomas?”

Eu acho que nenhuma pessoa é esclarecida a esse ponto. Temos cada um nossas opiniões baseadas em nosso bom senso, nossa inteligência e nossas experiências pessoais, e se elas têm algum mérito cabe a nós demonstrarmos aos outros através do convencimento, não da autoridade, da força, da intimidação ou da lavagem cerebral, que elas o têm. Claro que pretendemos que nossas opiniões tenham de fato valor de verdade e aplicabilidade universal, mas isso deve ser mais um objetivo a ser honestamente perseguido do que um mantra a ser repetido – ou imposto.

E decididamente deslumbrar-se com seus próprios diplomas – isto é, confundir aprovação e prestígio com estar certo – é um risco contínuo e perverso nos meios intelectuais.

Agora, se essa é uma questão importante a ser colocada para os intelectuais e pseudo-intelectuais de plantão, é ainda muito mais apropriadamente colocada ao próprio autor da pergunta, ao papa, aos bispos e às outras “pessoas católicas” que ao contrário das “pessoas esclarecidas” se apresentam explicita e declaradamente como detentores de verdades infalíveis : “Serei eu mesmo uma pessoa tão esclarecida a ponto de poder tornar meus preconceitos padrões universais de julgamento?”

13 Responses to “Por Que As "Pessoas Católicas" Só Falam Bobagens Sobre Quem Não Concorda Com Elas?”

  1. Anônimo says:

    Sergio, por que há dois sites “O Indivíduo”?

  2. Ulisses says:

    Sergio, acompanho oindivíduo há uns 6 anos, e conheço a história. Não entendi a necessidade de se postar em sites diferentes. Muito pelo contrário, é extremamente interessantes ver vocês com opiniões completamente diferentes convivendo pacificamente (eu acho) no mesmo espaço.
    .
    Não sei se me causaria estranheza se não conhecesse a história. Mas vocês são os “donos” e sabem do que estão falando.
    .
    Aproveito para parabenizar a clareza com que suas idéias são expostas e dizer que admiro também a forma de convencimento utilizada, sempre honesta e respeitosa.
    .
    Até,

  3. Anônimo says:

    “O Indivíduo” é então, um esforço coletivo! Hehehehe.

    Esse texto é realmente muito bom, meus parabens.

  4. [...] Ninjas da Hipocrisia By Sergio de Biasi A Mosca Azul faz o segunte comentário sobre este meu texto : Um católico não tem de “seguir dogmas” tal qual um manual de etiqueta ou de bom [...]

  5. eliane says:

    Sergio,

    Apesar de sentir um tom meio raivoso, em ambos, sinto que o resultado disso é instigante e criativo. A meu ver, é esse impacto que obriga a pensar mais fundo, e é por isso que gosto de ler os comentários dos blogs.

    O que talvez se aproxime de uma concordância, é observar o que você mesmo aponta como falta de auto consciência e que retomo aqui emprestando os termos de um teólogo : uma consciência superficial, adquirida pela fuga da auto consciência, ou pela ilusória consistência obtida pela auto decepção ou racionalização, ou que se contenta em não ser pior do que a do sujeito ao lado…bom, isso só pode traduzir uma farsa. Mas é justo atribuir esse vício especificamente aos católicos? Se observarmos o quanto nos reportamos à partir de um desses pontos, quantos dizeres não passam a ser uma pretensão?

    É compreensível que o Pedro considere essas discussões todas como algo exasperador. As pessoas se apegam ao invés de investigarem à fundo a sua própria consciência. Assim, se retardar nesse rumor todo significa manter uma tensão que somente aumenta a tendência defensivva, de efeito acumulativo se a pessoa ainda não tem muita liberdade. Seguir o curso da canalização da própria consciência e buscar sua plena liberdade parece ser uma dificuldade de todos nós.

    Quanto à questão do aborto, eu sinto falta de comentários das mulheres, mas não só aqui nesse blog.

    abraços,

    Eliane

  6. Igor says:

    Prezado Sérgio, não se iluda com os comentários acima. Você é partidário, embora com um afastamento virtual promovido por si mesmo, de todas as idéias, táticas e discursos anti-católicos, inclusive no desconhecimento da doutrina.

    Fato este que pode ser facilmente observado em passagens como esta: “na verdade “o papa não gosta” = ruim = errado = deve ser ilegal. Veja bem, se amanhã o papa decidir oficialmente que no final das contas a alma só aparece no feto após duas semanas e não na concepção, todos os católicos estarão obrigados a acreditar”.

    Ainda, essa sua insistência em suscitar a “infalibilidade papal” e todo e qualquer pronunciamento do papa ou postura da Igreja chega a ser ridícula posto que, simplesmente ao postular a infalibilidade papal até para um comentário cinematográfico, você demonstra ser completamente ignorante em relação à Infalibilidade.

    Achei necessárias tais considerações, justamente para que você não continue acreditando que é um crítico esclarecido e diferenciado da Igreja. Não, você não é.

  7. Caro Anônimo,

    Haver dois sites tem motivos históricos. O jornal foi inicialmente concebido em papel por quatro pessoas, com repercussão descrita em vários lugares, por exemplo aqui. Um dos autores/editores originais desapareceu quase imediatamente assim que o assunto se tornou polêmico. Então eu pessoalmente levei o jornal para a internet, comprando o domínio e abrindo o site, inicialmente como forma de contornar a censura que sofremos. Acabou que a presença na internet se revelou muito mais prática e capaz de atingir um público muito maior do que um jornal em papel, e quase imediatamente o jornal passou a ser publicado exclusivamente online, sob a direção e manutenção do Álvaro, que por anos manteve O Indivíduo vivo. Após uma sucessão de eventos sobre os quais o Álvaro provavelmente poderia falar mais eloqüentemente do que qualquer um de nós, a tocha foi então passada ao Pedro, que tornou-se o principal editor, mantenedor e autor do site. Neste época o formato da publicação foi também completamente repensado, tomando o formato de blog. Note que o site original data de 1997, quando blogs nem sequer existiam como os conhecemos hoje. Pedro foi nos últimos anos tão mais prolífico e presente na manutenção d’O Indivíduo do que qualquer de nós que para muitos o site acabou se caracterizando mais ou menos como “o blog do Pedro”. Apesar disso, a origem é conjunta, o legado é conjunto, e a identidade de “O Indivíduo” é muito pessoal para cada um de nós. Infelizmente, nos últimos anos Álvaro não tem participado ativamente, e sua ausência é sentida. Eu, por outro lado, embora bem menos que o Pedro, tenho de fato publicado. Isso porém em diversas ocasiões começou a criar um certo conflito de identidade, especialmente entre aqueles que não conhecem a história por trás de como chegamos aqui. Então um dos motivos para separar os textos é demarcar mais claramente a independência entre o que eu escrevo e o que o Pedro escreve.

    Saudações,
    Sergio

  8. Ulisses,

    Que bom que você achou respeitoso! Por vezes eu tenho coisas bastante contundentes para dizer e fico preocupado em não ser simplesmente raivoso. Que pelo menos as coisas desagradáveis sejam ditas articuladamente e não virem meros xingamentos.

    Pois é, o que ocorre é que eu e o Pedro não concordamos sobre algumas coisas com relação a como o site deve ser administrado, provavelmente a mais forte delas sobre abrir ou não para comentários. Ele é completamente contra e eu sou completamente a favor. Existem algumas outras menores, mas o fato é que isso estava criando a necessidade de ele basicamente administrar duas versões diferentes do mesmo site. Então dessa forma o trabalho de administrar o meu lado fica comigo e o trabalho de cuidar do site principal fica com ele.

    Saudações,
    Sergio

  9. Caro Anônimo,

    Se em cima ainda contarmos os comentários como parte do esforço… :-)

    Mas sim, é de certa forma um esforço coletivo, e diante disso sofre dos problemas usuais de se tentar fazer qualquer coisa em conjunto com quem quer que seja.

    Mas acho que esse choque de personalidades, esse contraste de opiniões dá uma dimensão que o projeto não poderia ter de nenhuma outra forma. Senão vira somente um longo monólogo, ou um lugar onde pessoas vão para terem suas opiniões confirmadas, ou um clube que se freqüenta para todos ficarem se cumprimentando sobre o quanto estão certos sobre tudo.

    Saudações,
    Sergio

  10. Eliane,

    Obrigado pelo comentário!

    De fato as mulheres têm uma perspectiva sobre o aborto que nenhum homem pode ter. Acho inclusive que pouquíssimas mulheres fazem um aborto sem grande pesar. O que nos leva ao fato de que três elementos separados são freqüentemente tratados como se fossem a mesma coisa por aqueles que são histericamente (em oposição a honesta e civilizadamente, mesmo que firmemente) contra o aborto :

    1. Acreditar que o aborto é ruim
    2. Acreditar que o aborto é errado
    3. Acreditar que o aborto deve ser ilegal

    Eu acho que quase a totalidade das pessoas concorda com o número 1. Mesmo para quem acha que o aborto não seja moralmente errado, e que certamente não deve ser ilegal, como eu, isso não significa automaticamente que o sentimento sobre aborto seja “O que vamos fazer esse final de semana? Já sei, que tal transar bastante sem proteção para ver se você fica grávida e aí a gente pode fazer um aborto! Eba!!!”. Aliás, a idéia de que alguém fique grávida intencionalmente para poder fazer um aborto é algo tão grotesco que eu acho que nem sequer precisa ser considerado como representativo (espero que nem sequer exista, mas a horribilidade das pessoas parece não ter muitos limites). Mas na verdade, a rigor, estou deixando de fora gradações da escala acima que nem sequer parecem ser muito relevantes : “Acreditar que aborto é bom” e “Acreditar que aborto é neutro” (este segundo eu já começo a achar que talvez represente a opinião de alguns, mas continuo suspeitando, extrema minoria).

    PORÉM, acreditar que algo seja ruim (isto é, indesejável) não significa acreditar que seja errado. Um divórcio por exemplo é algo muito, muito ruim, mas não acho que seja errado. Assim como matar alguém em legítima defesa.

    Da mesma forma, algo ser errado não significa que deva ser ilegal. Trair seu cônjuge por exemplo pode facilmente ser considerado errado, mas não acho que deva ser contra a lei.

    Essas são distinções importantes, que se perdem na mente de quem acha que “eu não gosto” = ruim = errado = deve ser ilegal.

    Naturalmente esse fenômeno não é privilégio dos católicos, mas eles estão facilmente entre os grupos para os quais isso ocorre sistematicamente.

    Na verdade no caso dos católicos é até mais patológico. É na verdade “o papa não gosta” = ruim = errado = deve ser ilegal. Veja bem, se amanhã o papa decidir oficialmente que no final das contas a alma só aparece no feto após duas semanas e não na concepção, todos os católicos estarão obrigados a acreditar e todos esses lindos discursos sobre “matar criancinhas” ao abortar logo após a concepção estarão tecnicamente esvaziados. E se alguém disser que diante disso deixaria de ser católico ou algo assim, então já está defendendo hoje o que acredita pessoalmente e não o que a igreja mandou. O que eu até acho saudável, mas nesse caso não acredita realmente na infalibilidade papal e é tecnicamente um herege. A igreja exige que você acredite em *seja lá o que for que o papa disser*. Isso é tão obviamente absurdo que só posso compreender que pessoas inteligentes defendam tal preceito porque a opção seria explicitamente admitirem diante de todos e de si mesmos a gigantesca carga de (na verdade inevitável) responsabilidade decorrente de tomar decisões com base em seus próprios julgamentos.

    Saudações,
    Sergio

  11. Prezado Sérgio, não se iluda com os comentários acima. Você é partidário, embora com um afastamento virtual promovido por si mesmo, de todas as idéias, táticas e discursos anti-católicos, inclusive no desconhecimento da doutrina.

    Eu com certeza sei muito, muito mais sobre a doutrina católica do que a maioria absoluta dos católicos com quem já tive contato.

    Ainda, essa sua insistência em suscitar a “infalibilidade papal” e todo e qualquer pronunciamento do papa ou postura da Igreja

    Eta, eu nunca disse isso. Claro, formalmente existe o requerimento de que seja ex cathedra. Que na prática nada mais é do que : antes ele tem que avisar “oh, agora eu vou falar algo infalível“. Algo que naturalmente ele pode fazer quando lhe der na telha.

    Colocar contra a idéia de que o papa possa escolher que vai falar coisas infalíveis o argumento de que “oh, tecnicamente nem tudo o que ele diz é infalível”, é desviar completamente do problema principal, que é que o conceito de que alguém tenha o poder de dizer coisas infalíveis é francamente ridículo.

    Além disso, naturalmente, continua sendo embaraçoso ele falar coisas absurdas mesmo quando não está em modo de infalibilidade papal.

    Achei necessárias tais considerações, justamente para que você não continue acreditando que é um crítico esclarecido e diferenciado da Igreja. Não, você não é.

    Seu comentário sobre “doutrina católica” foi trivial e não disse nada que eu já não estivesse entediado de saber.

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