Comments on: Tolerância Seletiva .././ Porque só o indivíduo tem consciência Sat, 06 Aug 2011 02:00:55 +0000 hourly 1 http://wordpress.org/?v=3.1.3 By: Sergio de Biasi .././comment-page-1/#comment-2207 Sergio de Biasi Tue, 29 Dec 2009 19:28:33 +0000 ../../../../.././?p=1658#comment-2207 <blockquote>Eu vejo a submissão à autoridade o objetivo de qualquer um que queira exercer domínio sobre um grupo. Entendo que os exemplos ligados à religião abundam, mas são inegáveis os casos positivos (quase nunca noticiados com o mesmo destaque). Mas observe, por exemplo, a questão climática: estão usando exatamente dogmas e autoridade,</blockquote> Epa, não acho isso um bom exemplo. Não é que não existam cientistas pilantras, ou dogmáticos, ou que queiram usar a força de sua autoridade social ou prestígio intelectual para impor certas opiniões goela abaixo do resto da comunidade ao invés de fazê-lo através do convencimento e da argumentação. Mas isso é uma distorção do sistema. E antes que alguém diga que o mesmo argumento poderia ser usado com religião, note-se que a situação muito não é a mesma. A religião católica (por exemplo, mas como quase todas as outras) tem de fato uma série de crenças que ela chama textualmente de dogmas e que ela exige oficialmente que as pessoas aceitem. Esse *é* oficialmente o sistema. Muito ao contrário de ciência, onde não existe a idéia de "verdade revelada", e onde o critério oficial de aceitação das idéias é a lógica, a observação, as evidências acessíveis em princípio a todos. Mesmo quando não verificamos todos os detalhes de uma prova científica, a expectativa é de que poderíamos fazê-lo se nos dispuséssemos a investir tempo e esforço suficiente. O critério último de credibilidade em ciência é verificabilidade, é corresponder à realidade, não autoridade ou tradição. Novamente, não que desvios disso não existam, mas são desvios, e ninguém sonha em dizer "você tem que acreditar nisso porque o Einstein disse". O mérito do Einstein foi ter visto primeiro coisas que depois foram verificadas e confirmadas por outros, não de ter tido alguma revelação mística que agora repetimos verbatim. Não faz parte da proposta da ciência incentivar as pessoas a abrirem mão do próprio julgamento, ou a jogarem fora seu senso crítico. Já a religião explicitamente o exige. Sobre não haver resposta verificável para certas perguntas, novamente, não é essa minha maior questão com religião. Eu acho um grande equívoco quando as pessoas começam a colocar a questão de religião como um debate de racionalidade versus irracionalidade. O problema com religião não é defender crenças ou comportamentos bizarros ou irracionais; um monte de outras atividades perfeitamente construtivas ou pelo menos comparativamente inócuas fazem o mesmo. O problema com religião é incentivar (e em não raros casos mesmo intimidar ou exigir coercitivamente, quando tem poder para tanto) que as pessoas abram mão de um julgamento crítico independente. Saudações, Sergio

Eu vejo a submissão à autoridade o objetivo de qualquer um que queira exercer domínio sobre um grupo. Entendo que os exemplos ligados à religião abundam, mas são inegáveis os casos positivos (quase nunca noticiados com o mesmo destaque). Mas observe, por exemplo, a questão climática: estão usando exatamente dogmas e autoridade,

Epa, não acho isso um bom exemplo. Não é que não existam cientistas pilantras, ou dogmáticos, ou que queiram usar a força de sua autoridade social ou prestígio intelectual para impor certas opiniões goela abaixo do resto da comunidade ao invés de fazê-lo através do convencimento e da argumentação. Mas isso é uma distorção do sistema. E antes que alguém diga que o mesmo argumento poderia ser usado com religião, note-se que a situação muito não é a mesma. A religião católica (por exemplo, mas como quase todas as outras) tem de fato uma série de crenças que ela chama textualmente de dogmas e que ela exige oficialmente que as pessoas aceitem. Esse *é* oficialmente o sistema. Muito ao contrário de ciência, onde não existe a idéia de “verdade revelada”, e onde o critério oficial de aceitação das idéias é a lógica, a observação, as evidências acessíveis em princípio a todos. Mesmo quando não verificamos todos os detalhes de uma prova científica, a expectativa é de que poderíamos fazê-lo se nos dispuséssemos a investir tempo e esforço suficiente. O critério último de credibilidade em ciência é verificabilidade, é corresponder à realidade, não autoridade ou tradição. Novamente, não que desvios disso não existam, mas são desvios, e ninguém sonha em dizer “você tem que acreditar nisso porque o Einstein disse”. O mérito do Einstein foi ter visto primeiro coisas que depois foram verificadas e confirmadas por outros, não de ter tido alguma revelação mística que agora repetimos verbatim. Não faz parte da proposta da ciência incentivar as pessoas a abrirem mão do próprio julgamento, ou a jogarem fora seu senso crítico. Já a religião explicitamente o exige.

Sobre não haver resposta verificável para certas perguntas, novamente, não é essa minha maior questão com religião. Eu acho um grande equívoco quando as pessoas começam a colocar a questão de religião como um debate de racionalidade versus irracionalidade. O problema com religião não é defender crenças ou comportamentos bizarros ou irracionais; um monte de outras atividades perfeitamente construtivas ou pelo menos comparativamente inócuas fazem o mesmo. O problema com religião é incentivar (e em não raros casos mesmo intimidar ou exigir coercitivamente, quando tem poder para tanto) que as pessoas abram mão de um julgamento crítico independente.

Saudações,
Sergio

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By: Claudio .././comment-page-1/#comment-2204 Claudio Tue, 29 Dec 2009 09:42:46 +0000 ../../../../.././?p=1658#comment-2204 Eu vejo a submissão à autoridade o objetivo de qualquer um que queira exercer domínio sobre um grupo. Entendo que os exemplos ligados à religião abundam, mas são inegáveis os casos positivos (quase nunca noticiados com o mesmo destaque). Mas observe, por exemplo, a questão climática: estão usando exatamente dogmas e autoridade, desta vez travestidos de fatos científicos, para impor uma agenda a todo o Planeta. Por mais abundantes que sejam os maus exemplos (perceba que a abundância na verdade depende da nossa percepção e das informações as quais temos acesso), não podemos afirmar que todos os cientistas que estudam o clima são pilantras, ainda mais quando estes não têm a visibilidade que os pilantras têm. Eu não gosto de discutir muito isso porque não há resposta verificável para a famosa pergunta, logo o que acaba acontecendo é que escolhemos a que mais faz sentido e o resto é trabalho para evitar a dissonância cognitiva. E tudo que se estudou sobre a dissonância cognitiva mostra que, na maioria das vezes, o resultado é briga, bate-boca e etc. Eu vejo a submissão à autoridade o objetivo de qualquer um que queira exercer domínio sobre um grupo. Entendo que os exemplos ligados à religião abundam, mas são inegáveis os casos positivos (quase nunca noticiados com o mesmo destaque). Mas observe, por exemplo, a questão climática: estão usando exatamente dogmas e autoridade, desta vez travestidos de fatos científicos, para impor uma agenda a todo o Planeta. Por mais abundantes que sejam os maus exemplos (perceba que a abundância na verdade depende da nossa percepção e das informações as quais temos acesso), não podemos afirmar que todos os cientistas que estudam o clima são pilantras, ainda mais quando estes não têm a visibilidade que os pilantras têm.

Eu não gosto de discutir muito isso porque não há resposta verificável para a famosa pergunta, logo o que acaba acontecendo é que escolhemos a que mais faz sentido e o resto é trabalho para evitar a dissonância cognitiva. E tudo que se estudou sobre a dissonância cognitiva mostra que, na maioria das vezes, o resultado é briga, bate-boca e etc.

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By: Sergio de Biasi .././comment-page-1/#comment-2200 Sergio de Biasi Tue, 29 Dec 2009 00:54:59 +0000 ../../../../.././?p=1658#comment-2200 Oi Claudio, Sim, aquele diálogo é mesmo genial. Quando eu vi o filme ele me pegou completamente de surpresa, e me fez pensar MUITO. <a href="http://www.imdb.com/title/tt0342735/" rel="nofollow">Manderlay</a> também é bom, mas a "revelação" que ocorre no fim não teve pra mim nem de longe um impacto tão dramático e cheio de significado quanto este diálogo de Dogville. Claro que para ele ter pleno significado é preciso ter todo o contexto meticulosamente construído que o precede, mas é mesmo genial. Sobre religião, meu principal problema não é sobre as teorias de cada um sobre de onde viemos, e sim com como as defendemos... as religiões tendem a defender suas opiniões de uma forma que incentiva abertamente o dogmatismo e a submissão cega à autoridade, dois traços de personalidade que considero muito negativos e que levam a todo tipo de distorção, sofrimento e tragédia... Saudacões, Sergio Oi Claudio,

Sim, aquele diálogo é mesmo genial. Quando eu vi o filme ele me pegou completamente de surpresa, e me fez pensar MUITO. Manderlay também é bom, mas a “revelação” que ocorre no fim não teve pra mim nem de longe um impacto tão dramático e cheio de significado quanto este diálogo de Dogville. Claro que para ele ter pleno significado é preciso ter todo o contexto meticulosamente construído que o precede, mas é mesmo genial.

Sobre religião, meu principal problema não é sobre as teorias de cada um sobre de onde viemos, e sim com como as defendemos… as religiões tendem a defender suas opiniões de uma forma que incentiva abertamente o dogmatismo e a submissão cega à autoridade, dois traços de personalidade que considero muito negativos e que levam a todo tipo de distorção, sofrimento e tragédia…

Saudacões,
Sergio

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By: Claudio .././comment-page-1/#comment-2199 Claudio Mon, 28 Dec 2009 23:11:09 +0000 ../../../../.././?p=1658#comment-2199 Eu quero falar é do diálogo entre pai e filha do Dogville: eu acho que aquele diálogo valeu o filme. Neste assunto de religião e Deus eu não me meto: não sigo nenhuma religião mas também não vejo nenhuma alternativa plausível à questão "de onde viemos?" Então deixo-a quietinha no sótão do meu cérebro para não incomodar as visitas... Eu quero falar é do diálogo entre pai e filha do Dogville: eu acho que aquele diálogo valeu o filme.

Neste assunto de religião e Deus eu não me meto: não sigo nenhuma religião mas também não vejo nenhuma alternativa plausível à questão “de onde viemos?” Então deixo-a quietinha no sótão do meu cérebro para não incomodar as visitas…

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By: Sergio de Biasi .././comment-page-1/#comment-2197 Sergio de Biasi Mon, 28 Dec 2009 21:38:25 +0000 ../../../../.././?p=1658#comment-2197 Oi Ana, <blockquote>Cristo disse que “com a mesma medida que julgardes sereis julgados”, entendo isso uma advertência para que não julguemos com mais dureza os outros que a nós próprios, porque não julgar de forma alguma me parece impossível.</blockquote> Sim, sim; concordo. Agora, isso é muito diferente de dizer "somos todos pecadores então julgar os outros é errado" ou "se você tiver qualquer falha não tem autoridade moral para julgar ninguém". Além disso existe uma diferença essencial entre julgar no sentido de ter uma opinião e/ou reprovar o comportamento alheio versus transformar esse julgamento em um ato de punição ou agressão ao outro. É muito mais contra essa implacabilibade com as falhas dos outros, contra essa intolerância com o erro que me parece que o discurso original de Cristo vai. Ele não questionou a capacidade da multidão de discernir que a mulher era de fato adúltera, nem a corretude do julgamento moral da multidão sobre o fato da mulher ser adúltera consistir em uma falha e um pecado. O que ele questionou foi a autoridade moral e a propriedade da multidão para diante disso apedrejá-la. O lugar próprio para fundamentar um discurso de tolerância se dá a meu ver não no nível de dizer em sendo todos imperfeitos, ninguém tem autoridade moral para julgar ninguém, ou (alternativamente) que todos os valores são relativos e arbitrários então cada um faz o que quer ou (ainda alternativamente) que é impossível ter certeza de qualquer coisa então por via das dúvidas não devemos ter opinião sobre nada. Para mim esses são os lugares errados para fundamentar o discurso de tolerância. Para mim, a importância e o significado da história de mulher adúltera estão justamente no fato de que em nenhum momento se questiona que ela de fato pecou, e errou, e a multidão está certa sobre isso. O fundamento próprio para a tolerância vem então do pensamento revolucionário - e é essa provavelmente a mensagem mais revolucionária do novo testamento - de que punir e perseguir implacavelmente quem você acredita que errou é desumano e indesejável, mesmo que você tenha razão. O Pedro meio que toca essas questões, mas então ele confunde (a meu ver) a questão de ser moderado e prudente em sua reação com a idéia de que sequer expressar qualquer julgamento seria intrinsecamente problematico. O que é fantástico vindo de uma posição católica, os arqui-mestres de expressar julgamento severos sobre tudo. E ainda mais incoerente a partir do momento em que ele mesmo está expressando um julgamento severo sobre quem expressa julgamentos! <blockquote>E não são só os católicos que falam em não julgar; também vejo pessoas moderninhas que dizem não julgar ninguém pois não são moralistas. É bem irritante.</blockquote> Extremamente irritante! Como você observa, uma interpretação completamente absurda para essa história que vai ainda mais longe é justamente essa mais moderninha de que como é tudo relativo mesmo então o negócio e ninguém julgar ninguém. Essa é freqüentemente uma visão cínica e utilitária usada apenas como mais uma forma das pessoas buscarem de se eximir de sua responsabilidade como agentes morais. E se acham então iluminadíssimos ao dizerem que "não julgam ninguém". Ora, não é preciso nem adequado sair por aí apedrejando todas pessoas que estão fazendo coisas que você não aprova, mas o extremo oposto é fechar-se em si mesmo, é calar-se e omitir-se diantes de grandes injustiças, da crueldade, do sofrimento alheio que estaria em seu poder contribuir para evitar. Claro que é prerrogativa e direito de todos pensar só em si mesmo e ser abjetamente egoísta tanto quanto lhes for permitido pela sociedade, mas então se coloque como tal ao invés de achar que está sendo muito generoso ao "não julgar ninguém". Isso é apenas conveniente, não sinal de nenhuma grandeza espiritual. Novamente, julgar mas ser ponderado em sua reação, isso pode ser meritório. Não se apressar demais em tirar conclusões demais sobre o caráter de alguém diante da pessoa ter cometido um erro, isso pode ser meritório. Mas usar o discurso de "eu não julgo ninguém" como desculpa para inação diante de grande injustiça e sofrimento alheios... aí já não tem nada a ver com tolerância e sim com cinismo, egoísmo ou covardia. <blockquote>Agora, o vídeo que você postou relacionando religiosidade a baixo Qi é hilariante, </blockquote> É muito engraçado. :-) <blockquote>mas você só pode estar mesmo brincando</blockquote> Não, os dados são reais! <blockquote>pois a Igreja Católica já teve muitos pensadores como Pascal e São Tomás de Aquino, sem falar nos compositores e pintores que se inspiravam em temas religiosos</blockquote> Isso é inegável, e eu conheço pessoalmente muitas pessoas de inteligência indiscutível que são católicas. Mas estamos falando aqui das grandes massas, da média, do que é mais provável de você escolher um representante ao acaso, não dos melhores. Alem disso estamos falando de religião em geral; a religião católica de fato me parece ter um QI médio mais alto do que a religião em geral ou mesmo do que a cristandade em geral. Os protestantes fundamentalistas americanos são grotescos. Além disso, observo que a respeitabilidade intelectual das crenças religiosas caiu MUITO desde São Tomás de Aquino. Avanços revolucionários tanto nas ciências experimentais como física e biologia quanto nas mais teóricas como matemática e lógica tornaram grande parte da teologia, em particular a católica, absolutamente ridicula e insustentável. Eles tiveram que mudar de posição sobre vários assuntos, tiveram que colocar cada vez menos questões como assunto de teologia ou de fé, e se refugiarem em dogmas cada vez mais abstratos e desprovidos de sentido para poderem tentar apagar o incêndio. Alguns mais fundamentalistas e cegos não fizeram nem isso. Já houve uma época em que dizer por exemplo "a Terra tem 6 mil anos de idade" poderia ser perfeitamente defensável. Hoje em dia é só cego e patético. <blockquote>Sei que a Igreja também foi responsável por coisas ruins, inquisição, etc. mas também não se pode demonizá-la, acho que sempre fez parte da cultura dos povos e contribuiu para o desenvolvimento da sensibilidade e da ética.</blockquote> A igreja católica (e a religião em geral) teve e tem sem dúvida um papel crucial na cultura humana, possivelmente até mesmo para o desenvolvimento da ética, mas a partir do momento em que deixamos de ser um monte de indígenas numa tribo ou camponeses num feudo e a importância da consciência individual se afirma como cada vez mais crucial para uma sociedade ética, o papel da religião tem sido disparadamente em direção a um retrocesso no qual se exige do sujeito submissão da sua consciência à autoridade externa - algo que infelizmente grande parte das pessoas estará ávida e aliviada em fazer, com conseqüências desastrosas. Se o cidadão médio for encarado como um boi acéfalo a ser chicoteado na direção certa, essa visão pode talvez até ter algum mérito e justificativa. Mas isso é cada vez menos razoável em tempos modernos. As pessoas precisam ao invés disso é de serem educadas e que se dê espaço, oportunidade e recursos para que desenvolvam seu próprio julgamento e senso crítico. Isso e não a religião é que modernamente contribui para o desenvolvimento da sensibilidade e da ética. A religião, modernamente, faz exatamente o oposto : ela embota a sensibilidade e a ética, ao dizer ao sujeito que sua própria consciência não é a ferramenta de maior autoridade para decidir o que é bom, que seu próprio julgamento não é a ferramenta de maior autoridade para decidir o que é verdade. <blockquote>Em relação às pessoas irem para o inferno por não acreditarem em Deus, espero que nem o Papa acredite mais nisso. </blockquote> Eu também espero, e na verdade acho quase impossível uma pessoa sã, inteligente e culta achar isso vagamente verossímil ou acreditável em tempos modernos. No entanto ainda é faz parte daquilo em que se requer dogmaticamente que as pessoas "acreditem". Nos EUA, entre vários grupos protestantes, o inferno é algo muito concretamente relevante e recorrentemente mencionado com descrições terríveis. Crianças crescem traumatizadas pelo medo de que se questionarem a existência de deus, mesmo em pensamento, passarão a eternidade sendo fisicamente torturadas. <blockquote>Acho que as pessoas podem seguir uma religião sem serem fundamentalistas e muitas o fazem</blockquote> Com certeza, mas eu diria que a rigor ser fundamentalista é exatamente levar a sério os dogmas e a teologia da religião que supostamente seguem, e é isso é o que formalmente a quase totalidade das religiões requerem de seus seguidores. E na verdade esse é o maior problema que eu vejo com religiões em geral; não é tanto defenderem crenças bizarras e delirantes, mas sim o fato de exigirem e incentivarem aderência servil e acrítica a essas crenças - incentivando as pessoas a serem, bem, fundamentalistas! Felizmente uma boa parte das pessoas embora nominalmente seguindo diversas religiões não realmente abre mão completamente de sua própria prerrogativa de julgar de acordo com sua própria consciência, então não fazem nenhum grande esforço ou ginástica mental para introjetar como verdade absoluta folclore mitológico da idade do bronze, nem realmente obedecem cegamente aos códigos de comportamento e moral ditados pela autoridade religiosa. Já aqueles que de fato tentam fazê-lo tendem a adquirir sérias distorções cognitivas e de caráter, e em certas comunidades protestantes americanas isso atinge níveis perturbadores - como se vê no, como você colocou, horripilante vídeo que eu postei. Sobre o mundo ser mais variado e interessante com pessoas de todos os tipos, isso até é verdade, mas isso é mais ou menos o contrário do que quase todas as religiões buscam. :-D Saudações, Sergio Oi Ana,

Cristo disse que “com a mesma medida que julgardes sereis julgados”, entendo isso uma advertência para que não julguemos com mais dureza os outros que a nós próprios, porque não julgar de forma alguma me parece impossível.

Sim, sim; concordo. Agora, isso é muito diferente de dizer “somos todos pecadores então julgar os outros é errado” ou “se você tiver qualquer falha não tem autoridade moral para julgar ninguém”.

Além disso existe uma diferença essencial entre julgar no sentido de ter uma opinião e/ou reprovar o comportamento alheio versus transformar esse julgamento em um ato de punição ou agressão ao outro. É muito mais contra essa implacabilibade com as falhas dos outros, contra essa intolerância com o erro que me parece que o discurso original de Cristo vai. Ele não questionou a capacidade da multidão de discernir que a mulher era de fato adúltera, nem a corretude do julgamento moral da multidão sobre o fato da mulher ser adúltera consistir em uma falha e um pecado. O que ele questionou foi a autoridade moral e a propriedade da multidão para diante disso apedrejá-la.

O lugar próprio para fundamentar um discurso de tolerância se dá a meu ver não no nível de dizer em sendo todos imperfeitos, ninguém tem autoridade moral para julgar ninguém, ou (alternativamente) que todos os valores são relativos e arbitrários então cada um faz o que quer ou (ainda alternativamente) que é impossível ter certeza de qualquer coisa então por via das dúvidas não devemos ter opinião sobre nada. Para mim esses são os lugares errados para fundamentar o discurso de tolerância. Para mim, a importância e o significado da história de mulher adúltera estão justamente no fato de que em nenhum momento se questiona que ela de fato pecou, e errou, e a multidão está certa sobre isso. O fundamento próprio para a tolerância vem então do pensamento revolucionário – e é essa provavelmente a mensagem mais revolucionária do novo testamento – de que punir e perseguir implacavelmente quem você acredita que errou é desumano e indesejável, mesmo que você tenha razão.

O Pedro meio que toca essas questões, mas então ele confunde (a meu ver) a questão de ser moderado e prudente em sua reação com a idéia de que sequer expressar qualquer julgamento seria intrinsecamente problematico. O que é fantástico vindo de uma posição católica, os arqui-mestres de expressar julgamento severos sobre tudo. E ainda mais incoerente a partir do momento em que ele mesmo está expressando um julgamento severo sobre quem expressa julgamentos!

E não são só os católicos que falam em não julgar; também vejo pessoas moderninhas que dizem não julgar ninguém pois não são moralistas. É bem irritante.

Extremamente irritante! Como você observa, uma interpretação completamente absurda para essa história que vai ainda mais longe é justamente essa mais moderninha de que como é tudo relativo mesmo então o negócio e ninguém julgar ninguém. Essa é freqüentemente uma visão cínica e utilitária usada apenas como mais uma forma das pessoas buscarem de se eximir de sua responsabilidade como agentes morais. E se acham então iluminadíssimos ao dizerem que “não julgam ninguém”. Ora, não é preciso nem adequado sair por aí apedrejando todas pessoas que estão fazendo coisas que você não aprova, mas o extremo oposto é fechar-se em si mesmo, é calar-se e omitir-se diantes de grandes injustiças, da crueldade, do sofrimento alheio que estaria em seu poder contribuir para evitar. Claro que é prerrogativa e direito de todos pensar só em si mesmo e ser abjetamente egoísta tanto quanto lhes for permitido pela sociedade, mas então se coloque como tal ao invés de achar que está sendo muito generoso ao “não julgar ninguém”. Isso é apenas conveniente, não sinal de nenhuma grandeza espiritual.

Novamente, julgar mas ser ponderado em sua reação, isso pode ser meritório. Não se apressar demais em tirar conclusões demais sobre o caráter de alguém diante da pessoa ter cometido um erro, isso pode ser meritório. Mas usar o discurso de “eu não julgo ninguém” como desculpa para inação diante de grande injustiça e sofrimento alheios… aí já não tem nada a ver com tolerância e sim com cinismo, egoísmo ou covardia.

Agora, o vídeo que você postou relacionando religiosidade a baixo Qi é hilariante,

É muito engraçado. :-)

mas você só pode estar mesmo brincando

Não, os dados são reais!

pois a Igreja Católica já teve muitos pensadores como Pascal e São Tomás de Aquino, sem falar nos compositores e pintores que se inspiravam em temas religiosos

Isso é inegável, e eu conheço pessoalmente muitas pessoas de inteligência indiscutível que são católicas. Mas estamos falando aqui das grandes massas, da média, do que é mais provável de você escolher um representante ao acaso, não dos melhores. Alem disso estamos falando de religião em geral; a religião católica de fato me parece ter um QI médio mais alto do que a religião em geral ou mesmo do que a cristandade em geral. Os protestantes fundamentalistas americanos são grotescos.

Além disso, observo que a respeitabilidade intelectual das crenças religiosas caiu MUITO desde São Tomás de Aquino. Avanços revolucionários tanto nas ciências experimentais como física e biologia quanto nas mais teóricas como matemática e lógica tornaram grande parte da teologia, em particular a católica, absolutamente ridicula e insustentável. Eles tiveram que mudar de posição sobre vários assuntos, tiveram que colocar cada vez menos questões como assunto de teologia ou de fé, e se refugiarem em dogmas cada vez mais abstratos e desprovidos de sentido para poderem tentar apagar o incêndio. Alguns mais fundamentalistas e cegos não fizeram nem isso. Já houve uma época em que dizer por exemplo “a Terra tem 6 mil anos de idade” poderia ser perfeitamente defensável. Hoje em dia é só cego e patético.

Sei que a Igreja também foi responsável por coisas ruins, inquisição, etc. mas também não se pode demonizá-la, acho que sempre fez parte da cultura dos povos e contribuiu para o desenvolvimento da sensibilidade e da ética.

A igreja católica (e a religião em geral) teve e tem sem dúvida um papel crucial na cultura humana, possivelmente até mesmo para o desenvolvimento da ética, mas a partir do momento em que deixamos de ser um monte de indígenas numa tribo ou camponeses num feudo e a importância da consciência individual se afirma como cada vez mais crucial para uma sociedade ética, o papel da religião tem sido disparadamente em direção a um retrocesso no qual se exige do sujeito submissão da sua consciência à autoridade externa – algo que infelizmente grande parte das pessoas estará ávida e aliviada em fazer, com conseqüências desastrosas. Se o cidadão médio for encarado como um boi acéfalo a ser chicoteado na direção certa, essa visão pode talvez até ter algum mérito e justificativa. Mas isso é cada vez menos razoável em tempos modernos. As pessoas precisam ao invés disso é de serem educadas e que se dê espaço, oportunidade e recursos para que desenvolvam seu próprio julgamento e senso crítico. Isso e não a religião é que modernamente contribui para o desenvolvimento da sensibilidade e da ética. A religião, modernamente, faz exatamente o oposto : ela embota a sensibilidade e a ética, ao dizer ao sujeito que sua própria consciência não é a ferramenta de maior autoridade para decidir o que é bom, que seu próprio julgamento não é a ferramenta de maior autoridade para decidir o que é verdade.

Em relação às pessoas irem para o inferno por não acreditarem em Deus, espero que nem o Papa acredite mais nisso.

Eu também espero, e na verdade acho quase impossível uma pessoa sã, inteligente e culta achar isso vagamente verossímil ou acreditável em tempos modernos. No entanto ainda é faz parte daquilo em que se requer dogmaticamente que as pessoas “acreditem”. Nos EUA, entre vários grupos protestantes, o inferno é algo muito concretamente relevante e recorrentemente mencionado com descrições terríveis. Crianças crescem traumatizadas pelo medo de que se questionarem a existência de deus, mesmo em pensamento, passarão a eternidade sendo fisicamente torturadas.

Acho que as pessoas podem seguir uma religião sem serem fundamentalistas e muitas o fazem

Com certeza, mas eu diria que a rigor ser fundamentalista é exatamente levar a sério os dogmas e a teologia da religião que supostamente seguem, e é isso é o que formalmente a quase totalidade das religiões requerem de seus seguidores. E na verdade esse é o maior problema que eu vejo com religiões em geral; não é tanto defenderem crenças bizarras e delirantes, mas sim o fato de exigirem e incentivarem aderência servil e acrítica a essas crenças – incentivando as pessoas a serem, bem, fundamentalistas! Felizmente uma boa parte das pessoas embora nominalmente seguindo diversas religiões não realmente abre mão completamente de sua própria prerrogativa de julgar de acordo com sua própria consciência, então não fazem nenhum grande esforço ou ginástica mental para introjetar como verdade absoluta folclore mitológico da idade do bronze, nem realmente obedecem cegamente aos códigos de comportamento e moral ditados pela autoridade religiosa. Já aqueles que de fato tentam fazê-lo tendem a adquirir sérias distorções cognitivas e de caráter, e em certas comunidades protestantes americanas isso atinge níveis perturbadores – como se vê no, como você colocou, horripilante vídeo que eu postei.

Sobre o mundo ser mais variado e interessante com pessoas de todos os tipos, isso até é verdade, mas isso é mais ou menos o contrário do que quase todas as religiões buscam. :-D

Saudações,
Sergio

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By: Ana Beatriz .././comment-page-1/#comment-2195 Ana Beatriz Mon, 28 Dec 2009 19:49:00 +0000 ../../../../.././?p=1658#comment-2195 Oi Sérgio, em relação ao artigo do Pedro, o que tenho a dizer é que Cristo disse que "com a mesma medida que julgardes sereis julgados", entendo isso uma advertência para que não julguemos com mais dureza os outros que a nós próprios, porque não julgar de forma alguma me parece impossível. E não são só os católicos que falam em não julgar; também vejo pessoas moderninhas que dizem não julgar ninguém pois não são moralistas. É bem irritante. Agora, o vídeo que você postou relacionando religiosidade a baixo Qi é hilariante, mas você só pode estar mesmo brincando, pois a Igreja Católica já teve muitos pensadores como Pascal e São Tomás de Aquino, sem falar nos compositores e pintores que se inspiravam em temas religiosos. É bem verdade que agora nenhum artista se inspira em tais temas, vide as canções cafonérrimas em missas da Renovação Carismática [risos]. Outra grande contribuição para a cultura foi o desenvolvimento de uma consciência individual. Na antiguidade Clássica, creio que não havia distinção entre "reputação" e "honra". Mas para os Cristãos, o que importava era sua consciência diante de Deus e não sua reputação diante dos outros homens e isso foi se desenvolvendo de forma que hoje em dia, quando a maioria das pessoas não dá muita bola bola para a religião, o que importa é estar com a consciência limpa. Sei que a Igreja também foi responsável por coisas ruins, inquisição, etc. mas também não se pode demonizá-la, acho que sempre fez parte da cultura dos povos e contribuiu para o desenvolvimento da sensibilidade e da ética. Em relação às pessoas irem para o inferno por não acreditarem em Deus, espero que nem o Papa acredite mais nisso. Já li um texo do Jacques Maritain que dizia que se uma pessoa não acredita em Deus mas acredita na Justiça, ela na verdade cultua Deus de algum modo. Acho que as pessoas podem seguir uma religião sem serem fundamentalistas e muitas o fazem, mas infelizmente noto o surgimento de alguns grupos mais radicais dentro das religiões. Aqueles cristãos do vídeo são horripilantes. É bom que haja pessoas religiosas e também ateus, pois assim o mundo fica um lugar mais variado e interessante. Feliz ano novo. Ana Beatriz. Oi Sérgio,
em relação ao artigo do Pedro, o que tenho a dizer é que Cristo disse que “com a mesma medida que julgardes sereis julgados”, entendo isso uma advertência para que não julguemos com mais dureza os outros que a nós próprios, porque não julgar de forma alguma me parece impossível. E não são só os católicos que falam em não julgar; também vejo pessoas moderninhas que dizem não julgar ninguém pois não são moralistas. É bem irritante.
Agora, o vídeo que você postou relacionando religiosidade a baixo Qi é hilariante, mas você só pode estar mesmo brincando, pois a Igreja Católica já teve muitos pensadores como Pascal e São Tomás de Aquino, sem falar nos compositores e pintores que se inspiravam em temas religiosos. É bem verdade que agora nenhum artista se inspira em tais temas, vide as canções cafonérrimas em missas da Renovação Carismática [risos].
Outra grande contribuição para a cultura foi o desenvolvimento de uma consciência individual. Na antiguidade Clássica, creio que não havia distinção entre “reputação” e “honra”. Mas para os Cristãos, o que importava era sua consciência diante de Deus e não sua reputação diante dos outros homens e isso foi se desenvolvendo de forma que hoje em dia, quando a maioria das pessoas não dá muita bola bola para a religião, o que importa é estar com a consciência limpa. Sei que a Igreja também foi responsável por coisas ruins, inquisição, etc. mas também não se pode demonizá-la, acho que sempre fez parte da cultura dos povos e contribuiu para o desenvolvimento da sensibilidade e da ética.
Em relação às pessoas irem para o inferno por não acreditarem em Deus, espero que nem o Papa acredite mais nisso. Já li um texo do Jacques Maritain que dizia que se uma pessoa não acredita em Deus mas acredita na Justiça, ela na verdade cultua Deus de algum modo.
Acho que as pessoas podem seguir uma religião sem serem fundamentalistas e muitas o fazem, mas infelizmente noto o surgimento de alguns grupos mais radicais dentro das religiões.
Aqueles cristãos do vídeo são horripilantes.
É bom que haja pessoas religiosas e também ateus, pois assim o mundo fica um lugar mais variado e interessante.
Feliz ano novo.
Ana Beatriz.

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