Algumas pessoas por vezes colocam a questão de como foi possível a Alemanha nazista ocorrer, como foi possível milhões de pessoas simultaneamente ingressarem num empreendimento conjunto de tal perversidade.
Quando eu vejo as pessoas enunciando essa pergunta, na maior parte das vezes eu fico somente irritado, e penso : a resposta é absolutamente óbvia. O motivo é que quase na totalidade das vezes, pessoas como você, que está enunciando esta pergunta, não fariam ABSOLUTAMENTE NADA sobre o assunto se estivessem na Alemanha nazista. É muito fácil *falar* sobre o assunto. Difícil é fazer a coisa certa quando isso pode ir contra os seus interesses. Se você fosse um policial e te mandassem capturar uns judeus para serem mandados para Auschwitz, você diria “não, isso vai contra a minha consciência”? Você pediria demissão do seu emprego? Você faria QUALQUER coisa? Duvido muito, muitíssimo.
Note, eu não estou dizendo que você não DEVERIA fazer nada.
Também não estou aqui dizendo que seria compreensível, justificável, muito humano e aceitável e lindamente desculpável você não fazer nada e simplesmente ficar lá colaborando. Não, não estou dizendo isso. O que estou dizendo é que com altíssimas chances, se você for estatisticamente similar à maioria absoluta das pessoas, apesar de isso ser revoltante, e absurdo, e inaceitável, e de isso tornar você um instrumento do mal, e um canalha, você faria exatamente o que mandassem você fazer.
Claro, depois poderia dizer (caso questionado, não que estatisticamente a pessoa média se importe ou considere com qualquer honestidade o significado moral das próprias ações) “mas eu estava fazendo igual a todo mundo” ou “eu estava apenas seguindo ordens” ou mesmo chorar lágrimas de crocodilo proclamando profundo arrependimento após o fato, mas evidentemente sem que isso signifique nem remotamente que dada situação similar no futuro você não agiria – agirá – exatamente do mesmo jeito.
Então vejamos, muito se discursa por aí sobre reformar o mundo adotando tal e qual sistema econômico / politico / ideológico / filosófico / religioso. Mas não existe sistema, não existe absolutamente nenhum sistema no mundo, que supere uma multidão de pessoas egoístas, egocêntricas e para quem o próprio umbigo é a única coisa que importa, é a única coisa com a qual são psicologicamente, existencialmente, paradigmaticamente capazes de se importarem. O problema mesmo não é com o sistema ser nazista, ou comunista, ou neonazicatólico. O problema é que quando se trata de se relacionar com pessoas reais ao invés de com pessoas imaginárias, quando se trata de efetivamente considerar o bem estar de pessoas concretas quando este conflita ou compete com o que você mesmo quer, a maioria absolutissima das pessoas não é capaz de se desviar nem milimetricamente do que é cômodo, conveniente e confortável.
Evidentemente que admitir isso abertamente não é uma boa estrategia; dificilmente se conseguirá a colaboração dos outros nesses termos. Nem mesmo Hitler foi aos palanque discursar com o tema “Alemãos! Vamos nos tornar uma nação de assassinos!”. Alias, seu sucesso se deve em grande parte justamente a este *não* ter sido o seu discurso. É preciso chegar com um sorriso e dizendo “eu venho em paz” antes de começar a falar que puxa quem sabe talvez seja uma ótima idéia perseguir homossexuais.
Não que querer preservar a si mesmo seja algo injustificado, vergonhoso ou constrangedor. Essa é a parte com a qual concordo com Ayn Rand. Eu reconheço em todo ser humano a prerrogativa de legitimamente querer preservar sua própria integridade física, emocional, psicológica, moral, e de fazê-lo ostensiva e abertamente, sem pedir desculpas a ninguém.
Agora, em contrapartida – ou aliás, derivado diretamente disso – existe o reconhecimento de que os outros gozam de precisamente a mesma prerrogativa. Claro, podemos muito convenientemente dizer “Ah, isso não é problema meu, que o outro se defenda se puder”. Em outras palavras : “Por acaso sou o guarda do meu irmão?”. Essa é uma resposta completamente covarde, desonesta, hipócrita e vil.
Além disso, existe uma diferença enorme entre ser premido por circunstâncias insuperáveis nas quais não há realmente escolha… e simplesmente fazer o que é conveniente.
Infelizmente, esse parece ser o valor que norteia as (inexistentes) considerações morais da quase totalidade dos seres humanos quando se trata de tomar decisões reais que efetivamente afetam seus interesses. Algumas pessoas chegam a anunciá-lo abertamente, seja com todas as palavras, seja de forma um pouco mais críptica ao dizerem que “veja bem, o auto-interesse racional é a forma mais eficaz de promover o bem estar de todos blah blah blah”. Esse argumento, além de ser matematicamente, logicamente, objetivamente falso e falho (o auto-interesse racional facilmente leva a situações sub-ótimas de infelicidade geral e está longe de ser uma panacéa), é na maior parte das vezes simplesmente desonesto; é com freqüência demais só uma lenga-lenga para pseudo-justificar um comportamento egoísta e narcisista.
Não que os defensores de outras ideologias se saiam muito melhor; estejam eles discursando contra a opressão burguesa ou a favor da glória de deus, quando se trata de efetivamente considerar o seu papel efetivo na sociedade, o efeito que têm nas pessoas reais à sua volta, o resultado concreto de suas ações… o que de fato fazem com mecânica e previsível regularidade é o que é conveniente, confortável, cômodo para si mesmos. São quase universalmente absolutamente incapazes de abrir mão de uma infinitésima migalha do seu ego para enxergarem o outro quando o outro é de fato um ser humano concreto e real ao invés de uma multidão amorfa de seres humanos imaginários num mundo imaginário à qual estão fazendo uma enorme quantidade de bem imaginário.
Mas muitas vezes não se chega nem ao estágio de passar uma maquiagem ideológica nas barbaridades movidas pelo mais descarado egoísmo. Especialmente no cotidiano das ações já introjetadas como aceitáveis e comuns, honra e dignidade simplesmente não fazem parte da equação. Qualquer coisa é aceitável desde que não haja conseqüências. Deixar de fazer algo percebido como vantajoso para si mesmo por pruridos de consciência é em geral enxergado antes de mais nada como suspeito. Afinal de contas o ser humano médio não consegue realmente sequer conceber, dado seu próprio visceral, patológico, intransponível egosímo, que você *de fato* se importe com ele ou com os outros; então busca decriptar e decodificar seus “reais” motivos como algo mais compreensivelmente (para ele) perverso e manipulativo.
Caso porém se cogite que você efetivamente talvez possivelmente esteja incompreensivelmente buscando promover o bem alheio, você será classificado em algum lugar entre maluco e ingênuo, e instado a parar imediatamente, tanto por quem por conveniência interessa o seu bem (afinal de contas você terá menos valor para eles se “desperdiçar” seus recursos ajudando os outros) quanto pelos seus pares (afinal de contas uma farsa é uma farsa e não vamos estragá-la mostrando o que faria alguém que *de fato* quisesse fazer as coisas direito).
Eu poderia até aceitar esse tipo de argumento vindo de quem supostamente está preocupado com meu bem estar como um objetivo em si se isso viesse acompanhado de outras ações que não consistissem apenas em me instar a parar de “desperdiçar” recursos que eu poderia estar empregando para beneficiá-los. Mas tais pessoas, também, demonstram espetacular consistência em não ter meu bem estar em mente quando isso não lhes traz algum benefício direto.
Então eu pergunto – onde estão as exceções? Onde estão as pessoas capazes de desenvolverem relações sólidas e generosas, relações baseadas em “vamos de fato cuidar uns dos outros”? Sejam onde estiverem, estão se escondendo espetacularmente bem.
Esse questionamento é normal, diante de um cenário um pouco desolador. Mas lembre-se: se você se considera uma pessoa honrada e digna, dá para assumir que existem muitas outras por aí.
Oi Claudio,
Está usando raciocínio indutivo agora? :-) “Se existe um cisne preto, deve haver outros!” :-)
Enfim, o que estou dizendo é algo muito pior do que haver uma escassez de pessoas dignas e honradas. Estou dizendo que estamos vivendo numa sociedade na qual isso nem sequer é uma questão. As pessoas gastam muitíssimo mais esforço para descobrir exatamente para que lado vão jogar uma mecha de cabelo do que para sequer dar a impressão aos outros de que sejam dignas e honradas, quanto mais para tentar de fato sê-lo. Aliás, pelo contrário : ser digno é honrado é considerado LAME. Bom mesmo, atraente mesmo, desejável mesmo é ser o “esperto”, que caminhará por cima dos corpos carbonizados dos outros para auferir as vantagens mais pífias e fúteis para si mesmo. Pessoas admiravelmente dignas e honradas provavelmente sempre foram e sempre serão raras, assim como pessoas de QI 160. Porém estamos vivendo numa época em que a mediocridade é celebrada como maravilhosa e qualquer tentativa de desviar dela é entendida e tratada como babaquice, arrogância ou maluquice mesmo.
Saudações,
Sergio
Oi Sergio,
parabéns pelo texto.
Uma pergunta: você acredita que o mal é algo em si, ou apenas a ausência do bem?
Beijos,
Ana Beatriz
Oi Ana,
Hehe, ok, nessa direção a conversa vai loooooooooonge! :-)
Vou tentar dar uma resposta que não seja excessivamente (ok, um pouco :-)) convoluta e que reflete conclusões às quais cheguei após uma vida inteira vivendo coisa inacreditavelmente estapafúrdias.
Em primeiro lugar, eu acho que quanto mais tentamos definir objetivamente o que seja mal e bem, mais nos enrolamos e mais longe nos encontramos de uma resposta que tenha qualquer relevância no nível que mais importa – no nível existencial, da nossa consciência, em oposição ao (em termos de bem e mal) estéril mundo das filosofadas acadêmicas. Buscar uma justificativa para princípios éticos na filosofia é como buscar justiça num tribunal, é como buscar amor num bordel. Sendo que desses três, o último ainda é o mais provável de ser bem sucedido.
A verdade extremamente difícil de aceitar é que não existe absolutamente qualquer justificativa “maior” para classificar acões em “boas” e “más”, nem para escolher umas e não outras. E isso é mais profundo do que principios éticos; na verdade mesmo não existe qualquer motivo para fazer qualquer coisa.
Mas bolas, se não existe qualquer justificativa que faça qualquer sentido para nossos princípios éticos, o que nos autoriza a julgar os outros, ou a nós mesmos para começar? E novamente, a resposta é : nada.
Diante disso, e ao perceber isso em algum nível, as pessoas têm variadas reações.
Uma reação possível é adotar uma “justificativa” transparentemente inventada para um conjunto arbitrário de valores e de explicações basicamente, ahm, mágicas para o sentido da existência, e então rotular essa escolha como “fé”. Os enfezados respiram então aliviados e se sentem automaticamente autorizadíssimos a julgarem todo mundo, ao contrários dos outros, que se julgam alguém, estão naturalmente sendo apenas arrogantes. Opcionalmente (mas freqüentemente) este comportamento é acompanhado de hostilizar com variados graus de violência e virulência os que incorrerem na desfaçatez de apontarem que tal “fé” não faz nenhum sentido é que essa é simplesmente uma escolha covarde, infantil e desonesta diante da incapacidade de encarar de frente o fato de que sua finita e arbitrária vida não faz absolutamente nenhum sentido.
Outra reação possível, muito popular hoje em dia, é descambar para o mais cínico e corrosivo niilismo, e buscar simplemente satisfazer ao que (ingenuamente e ilusoriamente) se elege perceber como “seus interesses racionais”. Que de racionais não têm absolutamente nada. Essa escolha é tão desonesta e fajuta quanto a anterior – existe tanto motivo para acreditar que o universo tem um plano transcendente para sua existência quanto para acreditar que exista algo de “racional” em não pular de uma janela imediatamente.
O que nos leva de volta à percepção mais difícil de todas de se aceitar : a de que todas as decisões mais importantes e fundamentais de todas são em última análise arbitrárias e baseadas nos que nós SENTIMOS, mas apesar disso continuam sendo absolutamente cruciais. O único e último motivo para fazermos QUALQUER coisa, desde levantar de manhã até não assassinar pessoas aleatórias, é por causa do que sentimos. É extremamente difícil de aceitar isso por uma coleção de motivos, entre eles o de que o ser humano médio tem confiança zero no próprio julgamento e capacidade menor ainda de enfrentar desaprovação pública sem estar apoiado por algum tipo de autoridade externa (real ou imaginada). Mas a verdade MESMO é que a totalidade da ética é baseada em sentimentos. Sentimentos complexos e elevados, não a razão, são para mim o que mais de especial e transcendente existe num ser humano. Não sentíssemos nada e aí sim nossa vida não teria mesmo sentido algum. Objetivamente ela de fato não tem, mas mesmo que intelectualmente sejamos capazes de percebê-lo – e para quem for intelectualmente honesto isso é a meu ver inescapável – não é isso que SENTIMOS. Mas nesse caso, o melhor guia para ter uma vida cheia de significado não é a religião, ou a ciência, ou ao que os outros vão achar. É ser fiel ao que você sente.
Agora, naturalmente que pessoas diferentes sentem coisas diferentes, e eu não vou aqui começar a argumentar que o “certo” por algum tipo de critério filosófico, ou pragmático, ou espiritual é não ser um patife. Eu não acho que deus, ou carma, ou a sociedade, ou ninguém vá automaticamente ou mesmo provavelmente puni-lo se você for um canalha desprezível. Eu não acho sequer que necessariamente você vá “cair em si” se você for verdadeiramente um psicopata. É perfeitamente possível ser um total psicopata, causar infinita desgraça aos que o rodeiam, e morrer sorrindo aos 80 anos de idade tendo vivido uma existência perfeitamente feliz e satisfeito com todas as suas escolhas. Não existe qualquer necessidade lógica ou cósmica de justiça. IT’S ENTIRELY UP TO YOU. Talvez o que você faça tenha conseqüências que te incomodem, talvez não tenha. Talvez você de fato não deva fazer certas coisas se não for um total sociopata porque depois provavelmente se arrependerá MUITO. Mas são ainda os seus sentimentos, não nenhuma lei cósmica, ou mesmo os outros, que estão determinando o sentido da sua vida.
Então em resumo, eu acho que nem o mal nem o bem sejam coisas e si. Nossa percepção do que é bom e do que é mau reflete a nossa personalidade e a nossa individualidade assim como, digamos, o faz o nosso gosto musical. Só que ao contrário do nosso gosto musical, isso define e determina de uma forma profundíssima quem nós somos. E se eu vir que uma ação minha vai causar extrema infelicidade a alguém, eu vou parar e pensar cuidadosamente sobre o assunto. Não porque deus mandou, não porque se não o fizer serei punido, não porque foi o que me ensinaram na escola, não para ganhar pontos de prestígio, não para receber favores em troca. Todos esses fatores podem e vão influenciar a decisão, mas potencialmente muito mais importante do que todos eles é o meu sentimento de que causar a infelicidade alheia é ERRADO. Isso não é para mim um teorema, um mandamento ou uma lei. É um sentimento, tão intangível e ao mesmo tempo tão real quanto sentir o calor do sol no meu rosto num glorioso amanhecer após um longo inverno. Não existe argumento que supere alguém genuinamente não se importar com os outros.
Beijos,
Sergio
“Em outras palavras : ‘Por acaso sou o guarda do meu irmão?’. Essa é uma resposta completamente covarde, desonesta, hipócrita e vil.”
Mas não é uma resposta, é uma pergunta. E eu não sou, não sou “guarda do meu irmão”. Não é minha culpa, não é meu problema.
Precisamente, essa tenta não ser uma resposta, essa é uma forma de buscar fugir a responder à pergunta “Onde está o seu irmão?”.
Mas veja, uma não-resposta continua sendo uma resposta, por mais que o respondente queira em sua covardia e confusão mental achar que se não se comprometer com nenhuma posição então não poderá ser acusado de nada. Então sim, essa é uma resposta. Aliás, muitas vezes, uma não-resposta, uma incapacidade ou recusa em responder pode dizer algo ainda mais significativo sobre o respondente do que uma resposta direta.
Aliás, ironicamente, caso a citação tenha lhe escapado, a resposta honesta para esta pergunta seria “Eu o matei.” Que é uma resposta terrível, mas pelo menos é honesta. A resposta que de fato foi dada, no entanto, traduz-se em “Eu o matei e sou covarde demais para admiti-lo.”
Então, ainda mais ironicamente, nesse caso *é* de fato cem por cento culpa do respondente, e essa resposta vai além de ser somente covarde e mentirosa para ser completamente hipócrita e vil.
E para elevar a ironia a níveis, digamos, irônicos :-), o título do meu próximo texto, que eu já tinha começado a escrever quando recebi o comentário ao qual presentemente respondo, era precisamente “Não é minha culpa, não é meu problema”. Agradeço por ter espontaneamente explicitado a prevalência desse raciocínio antes que eu mesmo a apontasse.
Saudações,
Sergio
Sérgio, o que me deixa confuso é que, admitindo não haver nenhum sentido para a vida (o que não acho nenhum absurdo) e pregando que as pessoas sejam críticas e não aceitem posições arbitrárias, você, ao mesmo tempo, clama pela adoção de um sistema ético baseado no que VOCÊ acha correto. VOCÊ pode achar a covardia, a hipocrisia e várias outras características muito vis e até mesmo reclamar deles aqui, mas não pode querer que os demais vivam de acordo com os mesmos princípios. A não ser que você, na verdade, acredite que estes princípios são universais.
Eu preguei que as pessoas sejam críticas e intelectualmente honestas e aceitem que algumas de suas posições mais caras são arbitrárias, que desistam das explicações delirantes sobre porque seus valores são os “corretos”, não que desistam de seus valores por causa disso. Aliás muito pelo contrário. Meu ponto é precisamente que em sendo qualquer sistema moral baseado em posições em última análise perfeitamente arbitrárias escolhidas por nós mesmos, a responsabilidade por fazer tais escolhas é inteiramente nossa, e a relevância de considerarmos muito bem o que estamos escolhendo é imensa. Tão imensa, aliás, que grande parte das pessoas simplesmente se recusa a assumi-la, e então inventa histórias da carochina para justificar seus valores, ou decide que é tudo culpa da sociedade ou das circunstâncias, ou decide (fantasiosamente) delegar sua (indelegável) responsabilidade por fazer escolhas morais para alguma autoridade de plantão, seja seu chefe, o governo ou o sua infalibilidade o papa.
Seguir por esse caminho é péssimo em vários, vários, níveis. Para começar, é basicamente motivado por um desejo infantil de isentar-se de responsabilidade pelos valores subjacentes às suas proprias escolhas, de poder dizer “veja, eu estou apenas seguindo o que é logicamente necessário / socialmente aceitável / normal / a lei / recomendação do chefão nazichatólico”. E com esse tipo de desculpa enrolativa as maiores barbaridades são cometidas. O que nos leva ao próximo problema; quando valores são cegamente aceitos com base na autoridade e não elaborados através de julgamento pessoal, as pessoas se tornam altamente manipuláveis, e um líder corrupto, mau ou simplesmente incompetente tem seu poder destrutivo infinitamente amplificado. Finalmente (but most definitely not least) quando as pessoas desistem de julgar o que é certo e verdadeiro por si mesmas, torna-se literalmente impossível argumentar com elas. Desistir de julgar por si mesmo é quase por definição escolher o caminho da cegueira, da ignorância e da intolerância.
Então talvez o psicopata até esteja sendo filosoficamente honesto e perfeitamente são se assumir plena responsabilidade por suas escolhas e não tentar justificar seus atos como sendo comandados por vozes na sua cabeça e sim como pura e deliberada expressão de sua livre vontade. Continuará, porém sendo mau e perverso. Mau e perverso na opinião de quem, dirá você? Ora, na minha opinião para começar. E quem sou eu para julgar os outros, dirá você? Bem, sou exatamente tão autorizado quanto qualquer outra pessoa. Todas essas inacreditáveis bengalas filosófico-teológico-religiosas que as pessoas ficam brandindo umas na cara das outras são só desculpas esfarrapadíssimas para julgarem os outros segundo as suas próprias convicções sem terem a honestidade de admitirem que é exatamente isso que estão fazendo.
Mas do fato de que objetivamente e fora da minha consciência não existe, realmente, certo ou errado, eu não concluo que então devo virar um cínico niilista e que ninguém pode julgar ninguém. Muito pelo contrário; o ser humano individual é precisamente a sede, a morada, a origem e a única fonte legítima de consciência moral. Não é a ciência, a bíblia, a lógica ou as leis. É a nossa consciência individual que é a fonte mais altamente – diria eu a única – autorizada a julgar os outros.
Então sim, eu de fato quero que os outros vivam de acordo com os mesmos princípios. Mas eu tenho plena noção do quão arbitrário isso é, e portanto (ao contrário dos que acham que seus preconceitos mais bizarros só podem ser expresão da mais profunda verdade cósmica) hesito enormemente em sair por aí mandando policiais à casa das pessoas para força-los a dançar conforme a minha música, a tornar a minha vontade lei ou a querer eleger a minha personalidade como modelo para o mundo. Eu continuo achando que existem limites que eu não aceito que sejam ultrapassados e que devem ser, sim, coercitivamente impostos, mas a meu ver sua principal função é maximizar a liberdade que vamos buscar criar para cada um viver sua própria vida como achar melhor. E esse é o grande dilema do libertário; uma sociedade livre precisa de salvaguardas contra a imposição da tirania pela força.
Saudações,
Sergio
A origem de todos os erros do homem está na patologia do conhecimento ou seja, quando alguem tem uma leitura diferente da realidade e adota uma conduta, um caminho, fatalmente cometerá um erro. A maioria das pessoas adotam a desculpa citada no artigo, se todos agem assim…, Varios motivos podem levar o homem a não buscar o saber: a inveja, o sentimento de inferioridade,….Infelizmente poucos homens, e em poucos lugares no mundo onde ainda a a liberdade de procurar fontes diversas, tem a capacidade de buscar o verdadeiro conhecimento. Estes poucos são chamados de Remanescentes.
Eu não concordo que a origem de todos os erros do homem esteja na “patologia do conhecimento”. Essa é uma idéia antiga, mas eu não concordo com ela. Eu acho que é possivel sim cometer erros por ignorância ou burrice, mas a meu ver nenhuma quantidade de estudo ou inteligência do mundo tornará alguém automaticamente bom ou sábio. Existe uma decisão pessoal tomada num nível que não tem nada a ver com racionalidade ou conhecimento sobre qual posição moral escolherei tomar com relação aos outros. Escolher ser ou não ser “guarda do seu irmão”, enxergar isso como um dever e um chamado e uma obrigação em princípio e não derivada de qualquer argumento lógico ou consideração prática, isso é uma escolha absolutamente fundamental que independe de qualquer conhecimento.
Saudações,
Sergio