The truth is out there.
Mulder
Para qualquer pessoa que já tenha pensado seriamente sobre o assunto por mais de 30 segundos, espero que esteja abundantemente claro que a afirmação de que “não existem verdades absolutas” é completamente ridícula e indefensável e deveria provocar risos constrangidos ao acabar de ser pronunciada. Para quem não pensou sobre isso por mais de 30 segundos, aponto que essa afirmação claramente se autodestrói diante da pergunta “Ok, e essa afirmação é uma verdade absoluta ou relativa?”. Então ou existem verdades absolutas ou não existem; se elas não existem, então isso seria em si mesmo uma (inconcebível) verdade absoluta, e portanto a única alternativa logicamente viável é a de que elas existem, e com um exemplo de brinde : “Existem verdades absolutas.”
Mas ok, talvez essa verdade seja um pouco excessivamente auto-referencial e o leitor não esteja plenamente convencido de sua relevância. Precisamos de critérios e exemplos melhores para o que vamos chamar de verdade.
Com o risco de ser tautológico, eu diria que a verdade é precisamente aquilo que não varia dependendo de em quê a gente acredita.
Paremos agora para observar mais cuidadosamente por que essa afirmação, ao invés de o que pode parecer superficialmente um truísmo, contém na verdade as sementes de um conceito filosófico fundamental. Uma tautologia é, na linguagem popular (que segue a acepção usada em retórica), uma afirmação na qual reescrevemos uma outra afirmação usando diferentes palavras com o mesmo significado. Então por exemplo “o elefante preto” e “o paquiderme negro” significam a mesma coisa. (Suponhamos para efeito deste argumento que não exista ambigüidade quanto à interpretação dessas sentenças.) Então se eu digo que “existe um paquiderme negro se e somente se existe um elefante preto” eu estou dizendo algo que é patentemente verdadeiro, de fato absolutamente verdadeiro, mas por outro lado permanece de certa forma completamente vazio de conteúdo, no sentido em que não me diz nada sobre o mundo, dado que a rigor isso é apenas uma reafirmação de que “existe um elefante preto se e somente se existe um elefante preto”. Note-se que sem recorrer a nenhum conceito muito misterioso já esbarramos aqui na existência de mais afirmações sobre cuja verdade podemos ter certeza absoluta. Isso pode ser transformado em algo perfeitamente rigoroso usando lógica matemática, e se as tautologias tecnicamente não levam automaticamente a novas afirmações sobre propriedades do mundo que antes desconhecíamos, elas nos levam a novas formulações dessas propriedades. Mas talvez o leitor ainda esteja insatisfeito – se esse é o único tipo (ainda auto-referencial) de verdade absoluta que conseguimos demonstrar, será difícil ir muito longe.
Então chegamos aqui a um ponto menos óbvio que eu quero levantar. Digo acima “na linguagem popular” porque em lógica matemática uma tautologia é algo sutilmente diferente. Em lógica matemática, uma tautologia é algo que é sempre verdade não interessa de quais hipóteses você parta. Então é claro que as equivalências lógicas como descrita acima são todas exemplos de tautologias. Se eu consigo mostrar que a afirmação X é apenas uma forma de reescrever a afirmação Y, então é claro que “a afirmação X é verdade se e somente se Y é verdade” será uma (trivial) verdade absoluta. Porém, esse não é o único tipo de tautologia possível. Se eu afirmo por exemplo que “ou existe um elefante preto ou não existe um elefante preto” isso também é uma tautologia, e uma verdade absoluta, mas não é a afirmação de uma equivalência lógica. E da mesma forma, se eu digo “se existe um elefante preto então existe um elefante” temos aqui uma implicação lógica um pouco mais sofisticada, que é também uma tautologia e uma verdade absoluta. Em outras palavras, podemos não saber absolutamente nada sobre se X é verdade ou sobre se Y é verdade mas mesmo assim sabermos que X implica Y é uma verdade absoluta.
Agora notemos que em nenhum desses casos conseguimos escapar de algum tipo de auto-referência. Coloco então que isso é mais ou menos inevitável; a não ser que assumamos algo como axioma, como verdadeiro por princípio, tudo o que seremos capaz de provar será sobre a verdade absoluta de implicações lógicas obrigatórias dadas certas suposições – às quais teremos que nos referir quando tirando conclusões. E de fato, isso é tudo o que podemos esperar provar com certeza absoluta. Então a auto-referência, ou recursão, está no centro da verdade ou mais precisamente no centro de tudo o que podemos esperar realmente conhecer com certeza. Esse é um conceito absolutamente fundamental em lógica matemática, em teoria da computação, e em filosofia : o de que as verdades que nos são objetivamente acessíveis são precisa e exatamente as que podem ser descritas recursivamente.
Mas voltemos ao conceito original. Quando eu afirmo que a conjectura X é de fato verdade, eu estou precisamente dizendo que X não depende de quais hipóteses você está partindo. Já concluímos que tais proposições de fato existem. A questão é, como identificá-las, e serão todas elas triviais? (no sentido em que sejam todas óbvias ou pelo menos demonstráveis). E meio supreendentemente, quando tentamos aprofundar formalmente este conceito, e aplicá-lo de forma mais geral a todo tipo de proposição que poderíamos fazer sobre o mundo, concluímos que há verdades que, apesar de serem absolutas – isto é, verdadeiras não interessa de quais hipóteses você parta – não é possível demonstrar que tais proposições sejam verdadeiras! E este fato pode ser formalmente demonstrado como sendo uma verdade absoluta!
Uma outra forma de colocar a afirmação acima é : já que a verdade não pode depender daquilo em que acreditamos, “a verdade é aquilo em que somos logicamente forçados a acreditar quando não acreditamos em nada a priori”. Poderíamos concluir apressadamente disso que nenhuma conclusão pode ser tirada do nada, mas dessa objeção já demos conta logo no começo, isso é claramente falso. Poderíamos então concluir um pouco menos apressadamente que somente conclusões triviais podem ser tiradas do nada, tornando a frase acima bem menos interessante apesar de verdadeira, mas o fato é que isso também não é verdade. O que de fato ocorre é que existem verdades absolutas que não dependem da opinião de ninguém mas ao mesmo tempo comprovadamente não existe nenhuma forma de enumerar todas elas ou sequer de determinar com certeza, no caso geral, se uma determinada afirmação é uma delas.
Por um lado, isso pode parecer meio desanimador. Por outro lado, no final das contas, como seres humanos, nós nunca temos acesso direto ao que “realmente é” e ao invés disso temos somente acesso àquilo em que acreditamos. Então talvez o fato de que a verdade não dependa do que acreditamos seja precisamente o que nos dá alguma esperança da possibilidade de conhecermos qualquer coisa. Mais do que isso, a verdade é o que nos une a todos, em todas as nossas diferentes crenças, sentimentos, histórias e acidentes de percurso. A verdade, não a fé, a revelação, a tradição ou o instinto é o que há realmente em comum entre todos nós, entre todas as nossas consciências, entre todas as nossas individualidades. Infelizmente, determinar o que é de fato verdade é algo extraordinariamente complexo, e na maior parte dos casos, literalmente impossível. Então toda essa profunda identidade existencial subjacente que une todos os seres do universo permanece apenas latente e apenas esporadicamente pressentida enquanto nos reduzimos a brigar até a morte para defendermos nossos preconceitos preferidos. E e aí que é preciso dar dois passos para trás e transcender o que sabemos ou pensamos saber e olhar para tudo aquilo que é verdade mas nunca conseguiremos demonstrar ou conhecer. Segue sendo verdade assim mesmo, e agir como se só o que entendemos existisse é uma atitude que está segura, demonstravelmente, universalmente, garantidamente equivocada.
O seu texto me provocou a seguinte reflexão: será que a existência de uma Verdade que transcende a matéria, o pensamento e até a própria lógica não seria justamente uma das definições da palavra “Deus”? Quando os cristãos dizem que Jesus Cristo é a Verdade, o Logos divino, etc, não seria uma maneira metafórica (simbólica, literária, sei lá qual é o melhor termo para isso) de dizer a mesma coisa que Gödel provou matematicamente?
Ok, uma objeção óbvia a esse argumento é a de que a maioria das pessoas (inclusive sacerdotes) não pensam ou se comunicam nesses termos. A linguagem metafórica é tratada de modo mais ou menos literal por essas pessoas. Mas não sei se essa objeção é válida, uma vez que — e esse é justamente o ponto central do seu texto — as verdades absolutas não dependem daquilo em que se acredita. Ou seja, supondo que Deus seja a “profunda identidade existencial subjacente que une todos os seres do universo”, acreditar que Deus é um sujeito barbudo que comanda o universo não muda em nada a essência das coisas, certo?
Mas aí parece que caímos apenas em um problema de definição de termos e não em uma questão teológica, propriamente dita.
Bem, o assunto é muito vasto e complexo. Mas fica aí a “provocação” e parabéns pelo excelente texto! Sou leitor fiel do seu blog.
Oi Otávio,
Se vamos chamar isso de “deus” estamos como você apontou dando apenas um outro nome para a mesma coisa, e de fato algumas pessoas não religiosas (como Einstein) escolheram usar por vezes usar a palavra “deus” nesta acepção.
Porém evidentemente que daí (da necessidade de existir uma causa primeira, da existência de verdades absolutas, da existência de verdades inatingíveis, etc) não podemos deduzir que deus seja idêntico a qualquer um dos diversos conceitos mais amplos que aparecem em conceitos religiosos – como ser um barbudo celeste e assim por diante. Essa parte vem de brinde. Você faz a colocação de que isso seria possivelmente indecidível e talvez inócuo então porque se preocupar com o assunto? E sobre isso eu faço duas observações.
Uma é que o o fato de que não podemos provar tudo que é verdade não significa que não podemos provar nada, nem que todas as coisas que não podemos provar sejam igualmente verossímeis – vide o argumento da xícara de chá em órbita de Marte. Mas claro, até aí poderíamos acreditar em toda uma coleção de coisas inverossímeis mas perfeitamente inócuas.
O que me leva à segunda observação, que é que o fato de que algo não pode ser provado não significa que não tenha conseqüências. E eu diria que algumas (várias) das crenças freqüentemente sustentadas sobre a natureza de deus de fato têm conseqüências muito importantes – como por exemplo, a crença de que deus definiu absolutamente o que é certo e errado e que isso é algo que possa ser encontrado num livro sagrado ao invés de ser algo que cada um tem a responabilidade de decidir por si mesmo.
Saudações,
Sergio
Apenas um comentário: “Se eu afirmo por exemplo que “ou existe um elefante preto ou não existe um elefante preto” isso também é uma tautologia, e uma verdade absoluta, mas não é a afirmação de uma equivalência lógica.” depende do princípio da não-contradição ser válido.
Imaginar que a lógica matemática possa representar o que é verdade ou não é meio complicado, pois implica em crer que as sentenças são sempre ou completamente falsas ou completamente verdadeiras quando na maior parte elas tem um certo grau de aderência a realidade (lógica difusa).
Ah, mas eu não afirmei que isso vale para qualquer sentença. Por exemplo, se eu digo “ou isso está seco ou não está”, concordo que é altamente discutível que se possa dar uma resposta binária objetiva para a questão. Então o que eu estava pretendendo ilustrar aqui era o princípio de que é possivel formular sentenças que são verdadeiras por causa de sua estrutura, sem qualquer referência à realidade. E claro, mesmo com o exemplo de “elefante” e “preto” é possível levantar esses argumentos fuzzy, se formos um pouco mais insistentes.
Então para ser mais formal, o meu ponto é : partindo da suposição que algo uma certa entidade necessariamente tenha uma certa propriedade ou não tenha, e que não possa simultaneamente tê-la e não tê-la, então se eu observo que ela tem essa propriedade, posso concluir que é impossível que ela não tenha. Ora, dirá você, mas isso além de completamente tautológico, é baseado em um monte de suposições! E de fato é. Porém – e esse é o X da questão – o fato de que essa implicação é válida é em si mesmo uma verdade absoluta e que se aplica à realidade! Ou seja, eu sei lá se é obrigatório ou não que certas coisas sejam verdade, mas se elas forem, isso automaticamente restringe o escopo das realidades logicamente concebíveis nas quais habitamos. E estendendo esse tipo de raciocínio é possível tirar conclusões muito mais sofisticadas do que essa.
Claro, isso tudo, naturalmente, supondo que não estejamos aceitando contradições. Todo raciocínio lógico sempre tem implícito ao final o comentário “ou chegaríamos a uma contradição” – que é outra forma de dizer que estaríamos negando algo que previamente afirmamos. É qual é o problema com isso, talvez possamos filosoficamente perguntar? Bem, formalmente, a conclusão à qual chegamos afirmando simultaneamente algo e sua negação lógica é que a partir daí conseguimos provar qualquer coisa. Se aceitarmos a possibilidade de dizer coisas que contradigam a si mesmas, isso automaticamente gera um universo no qual tudo é automaticamente verdade. O qual até é com um pouco de forçação de barra logicamente concebível, mas não é muito útil, e não corresponde em geral à realidade que observamos. Com bastante clareza, certas coisas acontecem e outras não, e isso com impressionante regularidade. Naturalmente que isso não prova nada, e sempre podemos supor que *na verdade* qualquer coisa poderia acontecer a qualquer momento e arbitrariamente não aconteceu, por nenhum motivo. Agora, novamente, o fato de que não sabemos provar que existam regras não significa que isso não seja verdadeiro, e neste caso eu sugiro diante da nossa experiência que é muito mais verossímil acreditar e supor que vivemos num universo no qual certas coisas são possíveis e outras não e a questão é tentar determinar quais. Mas claro, o fato de que existem regras para começar é no atual estado da ciência uma suposição, e talvez permaneça assim para sempre.
Agora, isso colocado, seja qual for o caso, a lógica matemática serve sim para descrever coisas que não são apenas verdadeiras ou falsas. Alias um dos grandes triunfos da matemática moderna foi justamente conseguir decifrar como descrever realidades contínuas genéricas em termos de entidades discretas ou binárias. Esse foi um gigantesco problema em aberto durante muito tempo, e foi necessário um grande esforço teórico para construir uma ponte entre os dois. Hoje em dia porém isso é bem melhor compreendido do que quando se falava intuitivamente do assunto sem uma contrapartida formal. Veja por exemplo http://en.wikipedia.org/wiki/Dedekind_cut
Saudações,
Sergio
Caro Sérgio,
Apesar de algumas inconsistênicias nos termos, vc parece defender algo meio místicpo: o que de que há verdades, porém nós nunca teremos acesso a elas. A implicação disso é que, no fi als das contas, seja lá o que alguém disser, isso não podera ser mostrado falso. Essa idíea é perigosa.
Em qquer caso, se isso que vc diz é sustentável, me diga, por exemplo, como resultado de 3 + 2 pode dar alguma outra coisa que não 5. Se isso não for justificável, então algumas verdades absolutas talvez existam e n´so tenhamos acesso a elas.
[]s,
Nypoa
“Inconsistências?”
E o que eu disse não tem nada de místico – são teoremas em lógica matemática. E uma idéia não se torna verdadeira ou falsa por ser ou não “perigosa” – ela é verdadeira ou falsa dependendo de se corresponde ou não à realidade das coisas.
E sim, de fato há toda uma coleção de afirmações que podem ser feitas e que não podem ser demonstradas falsas. Mas até aí para todos os efeitos práticos já temos que conviver com isso diariamente mesmo sem a necessidade de recorrer quaisquer teorema sobre incomputabilidade. Se eu te digo que neste momento existe uma nota de um real enterrada na face oculta da Lua, por todos os critérios práticos, jamais será possivel demonstrar que isso era falso. Inclusive neste caso a situação é até de certa forma pior, porque isso é fisicamente possivel, logicamente possível – só não é verdade. Mas para todos os efeitos práticos é indemonstrável que isso seja falso. Saltar do fato de que é impossível demonstrar que algo seja falso para acreditar que seja verossível é muito pouco razoável como base para um sistema de crenças.
Sobre o 3 + 2 dar 5, bem, eu nem sequer entendi o seu argumento. É claro que existem verdades absolutas, e é justamente daí que eu começo o texto. E é claro que muitas delas podem ser categoricamente demonstradas além de qualquer dúvida. A parte meio surpreendente é que mesmo no reino da lógica abstrata quando temos em princípio pleno acesso a todas as informações pertinentes, mesmo nesse caso existem verdades indemonstráveis.
Sergio
O problema, em minha opinião é o numero de variáveis em questão: se vc delimita um ambiente pequeno e simples, controlado, é fácil então identificar as verdades “absolutas” naquele contexto. Esse é basicamente o metodo de testes da pesquisa científica, e não há nada de errado com ele, mas temos um pequeno porem: se tirar esse controle, e as vezes mesmo com o controle, sempre teremos infinitas variáveis que desconhecemos ou mesmo nem sonhamos que existam, e quando uma delas mudarem, pode ser q tudo mude com ela! Uma simples flag do nosso universo pode gerar uma existência totalmente nova! Não da para ter certeza de nada… verdades absolutas podem existir… mas como vc mesmo disse, podemos estar muuuuito, muuuuito longe delas!
Aaaah… outro ponto:
Quando vc comenta sobre a lógica auto-referencial da afirmação “não existem verdades absolutas”, você esta certo, o que não impede ninguém de continuar afirmando a mesma coisa.
Aquele que “pensou sobre isso por mais de 30 segundo”, em vez de simplesmente jogar essas palavras ao vento, percebe a auto-referencia e é obrigado a aceitar a possibilidade da verdade absoluta, sendo isso o CUMULO da não negação e da mente aberta, pois aquele que diz essa frase sem aceitar a possibilidade de seus próprios erros, não sabe o q esta afirmando de verdade, pois sem perceber esta acreditando em uma verdade absoluta: a sua própria!
A conclusão é que, qualquer coisa levada pensada como absoluta simplesmente te cega as novas possibilidades, incluindo esse mesmo pensamento! Isso aliais me lembra uma ótima passagem da filosofia budista: “Não se apegar nem à verdade”
link sobre a passagem: http://www.nossacasa.net/SHUNYA/default.asp?menu=501
E obrigado ao ótimo momento filosófico! =]
Oi William,
Hehe excelente o link. :-)
Claro, uma verdade ser auto-evidente não impede ninguém de negá-la. Algumas pessoas inclusive se orgulham em fazê-lo – em continuar sustentando opiniões contra toda a lógica e contra todas as evidências, e em não poucos círculos isso é estimulado e considerado meritório.
Ironicamente, quem diz esse tipo de coisa está em geral pretendendo ser ultra liberal e democrático. Mas no final, é precisamente o contrário – é só hipócrita ou esquizofrênico querer afirmar seriamente algo desse tipo. E sim, é preciso ter mesmo muita falta de autocrítica para encher a boca para afirmar que “não existem verdade absolutas”, e sem autocrítica não se vai nem até a esquina intelectualmente falando. Quem não é capaz de estar continuamente se policiando para conferir se o que está dizendo realmente corresponde à realidade dos fatos e de ter a honestidade de questionar sua própria opinião se objetivamente não corresponder estará se auto-impondo gigantescas barreiras ao próprio crescimento e se autoconvidando a fazer papel de bobo.
Saudações,
Sergio
Oi William,
Pois é, então ambas as posicões mais estereotipicamente encontráveis em ambos os lados do debate estão erradas – tanto aqueles que defendem que seria impossível conhecer qualquer verdade absoluta quanto aqueles que defendem que seria possivel conhecer absolutamente tudo através da lógica e da ciência. Agora, daí não decorre que “outros métodos de conhecimento” poderiam dar acesso à verdade. Qualquer método de conhecimento que de fato funcione é legítimo e como tal deve ser aceito e ser legitimamente chamado de científico. A questão é que comprovadamente existem verdades que mesmo que nos sejam apresentadas magicamente numa bandeja nunca poderemos ter certeza absoluta de que sejam mesmo verdade. O conhecimento é impossível, mas a incompletude é incontornável.
Saudações,
Sergio
É Inaceitável, porque contraditório, para a mente que só faz ansiar pela verdade, ler que a determinação da verdade é algo [literalmente] impossível.
O triunfo do relativismo é desqualificar a possibilidade de se alcançar a verdade.
O relativismo é fruta sem sabor, emética, vendida e comprada no mercado das inconsequências, mas sem lugar à mesa, ali onde a vida precisa funcionar.
Não dura a amizade onde vigora o faz-de-conta de que cada um tem sua verdade, que ela depende ou não é fazível.
Quando se tem a certeza de que a verdade é possível o coração descansa, os pés se libertam, a dor se suporta, : o humano se humaniza.
Oi Almeida,
Pois é, por um lado é desanimador saber que nem toda verdade pode ser conhecida, mas por outro lado isso não implica em relativismo – a verdade segue existindo, apenas não temos certeza de qual ela seja.
Concordo plenamente (embora você não o tenha colocado com essas palavras) que o maior valor humano da verdade está precisamente em ser aquilo que nos une a todos.
Saudações,
Sergio
Todos nós temos certezas e verdades ,que é aquilo em que acreditamos.São os alicerces da nossa individualidade.
Outra coisa são verdades absolutas universais,essas são muito perigosas.
São acausa de muito sofrimento no mundo.
Hitler e Estáline tranformaram as suas certezas em verdades absolutas,
hoje sabemos ao que elas levaram..
MUITO OBRIGADO..
Não, certezas de fato são aquilo em que acreditamos, mas verdades por outro lado são precisamente aquilo que independe do que acreditamos. E se as certezas são de certa forma o alicerce da nossa individualidade, as verdades são o alicerce de tudo que temos em comum. E as verdades absolutas universais são a única coisa que possibilita dois seres humanos aspirarem qualquer comunicação ou troca de idéias e enriquecimento mútuo. O problema não são as verdades absolutas universais, cuja existência é logicamente necessária e intelectualmente óbvia. Isso não é sequer uma controvérsia ou questão em aberto. Afirmar que “não existem verdades absolutas” é logicamente incongruente e tão evidentemente falso a ponto de ser embaraçoso.
Aliás, o problema não é nem sequer confundirmos nossas freqüentemente precárias e provisórias certezas com verdades absolutas. Isso é danoso e indesejável mas não é o maior problema. O maior problema é quando, munidos do que achamos serem verdades universas absolutas, decidimos então impô-las à força e por coerção e intimidação (ao invés de por argumentação e convencimento) a todos que pudermos. O que cria Hitler e Stálin não é acreditar-se capaz de enxergar verdades absolutas, e sim a tosca idéia de que isso nos autorizaria a sair por aí queimando livros e prendendo pessoas.
Olá Sergio,permita que o trate assim.Em relação ás verdades absolutas,
convenceu-me,dou o braço a torcer como se costuma dizer.
Gostaria de ver outros temas,tais como.Há ó não consciÊncia colectiva,
aplicado há humanidade, acredita ou não,no Determinismo ou Livre-
Arbitrio.A música contribui ou não para o desenvolvimento cerebral.
Sei que estes temas,estão na fronteira entre o conhecido e desconhe-
cido,mas teremos de as forçar e alargar;Porque é esse o caminho da
humanidade.Quer queiramos ou não..
MUITO OBRIGADO
Opa, excelentes todos os temas sugeridos. Não sei quando/se terei oportunidade de escrever sobre eles mas posso dizer que todos eles me interessam. Mas brevemente…
Sobre consciência coletiva em particular eu tenho uma opinião bastante sedimentada : não existe. A sede da consciência é a mente individual, pelo menos neste estágio atual de seu desenvolvimento. Não me lembro quem uma vez criou para isso a imagem do “psicopata coletivo”, que é uma entidade / organização / estrutura social na qual nenhum de seus membros está individualmente fazendo nada que isoladamente chamaríamos de patologicamente psicopático mas que em cada um fazendo o seu papel social implícita ou explicitamente prescrito pela norma vigente o grupo coletivamente realiza atos terrivelmente psicopáticos. Esse é um fenômeno que eu diria é até bastante comum e perceber sua possibilidade torna ainda mais urgente questionarmos todos os papéis que se esperam de nós que quase inconscientemente representamos e que podem ser parte de um mecanismo por cujas conseqüências jamais cogitaríamos lutar deliberadamente.
Sobre determinismo versus livre-arbítrio, de fato há aí um grande problema. :-) Uma parte da solução talvez seja temperar o determinismo mecanicista clássico com física quântica por um lado e teoria do caos pelo outro. Isso acrescentaria uma enorme gama de possibilidades ao nosso poder “decisório”. Note que porém esse é o tipo de argumento que por um lado resolve certas questões, por outro parece não resolver o problema da responsabilidade moral – afinal de contas, entre comportamento determinista versus aleatório continuamos não estando realmente no volante, certo? Mas isso é filosoficamente insatisfatório e continua nos parecendo haver uma distinção fundamental entre deliberadamente matar alguém a sangue frio versus ter um ataque do coração ao dirigir, perder a cosnciência e atropelar alguém. Em ambos os casos alguém poderia argumentas que são tudo leis da fisica em ação mas eu não estou preparado para afirmar que responsabilidade moral seja um conceito vazio de conteudo.
Sobre a música, eu pessoalmente acho que sim, contribui, aliás como basicamente toda forma de estímulo, especialmente estímulos com estruturas progressivamente complexas que funcionem como “quebra-cabeças” para o cérebro (que procede então quase automaticamente a desenvolver recursos para decodificar o que está acontecendo).
Finalmente, concordo que está na hora de discutir todos esses assuntos, e não só nos meios acadêmicos e em livros de filosofia mas muito em breve como questão política, econômica e social cada vez mais premente. Me parece que estamos à beira de uma grande revolução da consciência humana e que antes do fim deste século seremos capaz de finalmente estabelecer (ou no mínimo recriar) os fundamentos da consciência humana em outros meios que não sejam cérebros humanos, e quando isso ocorrer, tudo que pensamos sobre o que é ser humano terá que ser seriamente reconsiderado.
Saudacões,
Sergio