Caridade

June 15th, 1999 by Sergio de Biasi

Estamos vivendo uma época em que está em falta – aguda! – um valor fundamental de todo o pensamento cristão : a caridade. Pensa-se demais no progresso da humanidade através da ciência, da tecnologia, da educação, da inteligência, do sistema jurídico, social, político e econômico, e no final das contas nada disso terá nenhum valor se as pessoas não estiverem determinadas a usar isso tudo para o bem.

“Se eu falo nas línguas dos homens e dos anjos, e não tenho caridade, não passo de uma trombeta estridente, um címbalo barulhento. E se tenho o dom da profecia, e entendo todos os mistérios, e todo o conhecimento, e embora tenha toda a fé, de forma a poder remover montanhas, se não tenho caridade, não sou nada. E mesmo que eu entregue todos os meus bens para alimentar os pobres, e dê meu corpo para ser queimado, se não tenho caridade, não terei realizado nada.

A caridade sofre longamente, e é gentil; a caridade não inveja, não se vangloria, não se infla; a caridade não se porta inadequadamente, não busca seu próprio benefício, não é facilmente provocada, não pensa em nenhum mal; não se regozija com a iniqüidade, mas sim com a verdade; suporta todas as coisas, acredita em todas as coisas, tem fé em todas as coisas, resiste a todas as coisas; a caridade nunca falha, mas onde houver profecias, elas falharão, onde houver línguas, elas se calarão, onde houver conhecimento, ele desaparecerá.

Pois nós apenas conhecemos em parte, e apenas profetizamos em parte.

Mas quando aquilo que é perfeito chega, aquilo que é em parte está terminado.

Quando eu era uma criança, falava como criança, entendia como criança, e pensava como criança; mas quando me tornei um homem, deixei de lado as coisas de criança.

Pois agora nós enxergamos através de um vidro obscurecido, mas então veremos face a face; pois agora eu conheço em parte, mas então eu saberei tanto quando sou conhecido.

Observa, portanto, a fé, a esperança, e a caridade, mas a mais importante de todas essas é a caridade.”

(1 Coríntios 13)

Nestes tempos difíceis, inspiro-me nessas palavras para lançar a todos os que me lêem um chamado, uma exortação, um brado de alerta e despertar; sejam íntegros! Não se deixem levar pela vaidade, pela auto-condescendência, pelas aparências e pela superficialidade; não troquem sua alma por meia dúzia de feijões. Não se deixem arrastar pela âncora da comodidade que certo como um novo dia carregará seus corpos, mentes e corações para o fundo de um mar de lodo e futilidade. Não tolerem a falsidade, a hipocrisia, a desonestidade, a ambigüidade; que o seu sim seja sim e o seu não seja não! Ao ver uma injustiça, não calem! Diante da traição, não sejam covardes! Não deixem a conveniência torná-los todos cúmplices de uma mesma mentira! Não celebrem a podridão! Não se tornem cegos guiados por cegos em direção a um grande nada!

E se sua espada estiver pesada, e sua vontade estiver fraca, e seu julgamento anuviado, e o que é certo e justo e bom não lhe parecer claro, se o conhecimento lhe faltar, e a fé lhe escapar, e a esperança lhe parecer impossível, mesmo assim, acima de tudo e sempre, tenha caridade! Não há iniqüidade maior do que desprezar as conseqüências de suas ambições, de seus prazeres, de seus caprichos sobre aqueles à sua volta. Ninguém precisa de nada a não ser seu próprio coração para saber o que machuca os outros. Não se enredem nas suas próprias teias de justificativas e racionalizações, de auto-enganos, de motivações lindas para fazer coisas horríveis. Jamais subestime o sofrimento alheio. E não se deixe enganar por aqueles que o fazem. Não se deixe encantar pelas palavras melífluas dos lobos que acusam os cordeiros por sua fome insatisfeita de destruição; não dê abrigo ao mal, não o receba em sua casa, não lhe dê espaço em seu coração; pois que ele sempre saberá semear degeneração e perversão por onde pisar…

Seu julgamento poderá lhe falhar, seu conhecimento, sua experiência, sua inteligência, sua força poderão ser todos inúteis diante do mal, que torcerá fatos e palavras e aparências até fazer o branco parecer preto e o preto parecer branco; decida com caridade, porém, e toda essa farsa se dissipará sob o brilho de uma alma íntegra.

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