A Ideologia do Cinismo

November 5th, 2008 by Sergio de Biasi

Talvez tenha escapado ao Pedro que eu não disse que quero ir pra cama com o Obama, nem que o Obama é meu ídolo, nem que pelo Obama ter sido eleito agora andaremos todos de mãos dadas em direção à felicidade. Acreditar sinceramente que eu pense isso baseado no que eu escrevi teria sido mera obtusidade.

Mas como o Pedro não costuma ser intelectualmente obtuso, provavelmente ele sabe perfeitamente bem que não foi isso que eu disse.

A questão aqui me parece portanto ser que ironicamente o cinismo também precisa de uma ideologia, mesmo que meio que às avessas. Então se você quer demonstrar a sua superioridade exibindo enfado e ennui diante de tudo e de todos, se você está entre aqueles cuja resposta padrão é “whatever”, que é too sexy for this song e too cool for school, então coerentemente você precisa denunciar como ridículas e patéticas quaisquer manifestações de esperança e idealismo.

Esquizofrenicamente, estamos falando de alguém que simultaneamente em que denuncia a idolatria defende que existe um ser humano na terra (codinome “o papa”) que supostamente teria o poder de entrar em modo de infalibidade papal sempre que suficientemente inspirado e então transmitir a nós o dogma da semana ao qual devemos então nos curvar enquanto fazendo uma auto-lavagem cerebral para achar uma forma de acreditar – ou melhor, “entender” – internamente que aquilo ali é o certo.

Agora, eu não acho que nem sequer o Jabor imediatamente após ter escrito aquele artigo – e certamente não eu – aceitaria acriticamente qualquer coisa que o Obama dissesse. Certamente há pessoas que o fariam, e isso realmente é um erro. Mas não foi sua consciência que o Jabor depositou no Obama. Não foi seu julgamento ou sua independência de pensamento. Foi sua esperança. A esperança de que o Obama seja pelo menos um pouco do que parece que é, que ele seja uma pessoa idealista e decente e esclarecida tentando de alguma forma impedir que os Estados Unidos caiam nas mãos do obscurantismo fundamentalista. O mesmo obscurantismo fundamentalista que acredita em verdades reveladas e em aceitar obedientemente argumentos de autoridade. O mesmo obscurantismo que acha que se a ciência contradiz a autoridade religiosa, então naturalmente é a ciência que está errada. O mesmo obscurantismo que acha que sua moralidade alienígena e seus dogmas revelados devem se tornar lei.

Agora, naturalmente, se alguém ousa expressar uma opinião que vai nessa linha genérica, então deve constituir hate speech, não é? Afinal de contas, não é um discurso moderado e são como achar que os gays passarão o resto da eternidade sendo torturados no fogo do inferno por terem ingenuamente acreditado que a forma como fazem sexo não é da conta de ninguém.

27 Responses to “A Ideologia do Cinismo”

  1. Fernando Pergentino says:

    Notei que foi o Biasi que não compreendeu o Pedro…

  2. É claro que isso não prova nada e não invalida nada, mas… macacos me mordam, quantos advérbios!

  3. Ronald says:

    Acho interessante esse negócio de que a “acha que se a ciência contradiz a autoridade religiosa, então naturalmente é a ciência que está errada.”, quando acabamos de ver uma mulher ser massacrada simplesmente por ser religiosa. Palin é burra, cretina, criacionista, queimadora de livros, uma aberração. Ou seja, é religiosa, logo está errada!

    No campo das idéias há um eventual combate às religiões por parte da “dita” ciência. Ora, a maior parte dessas idéias devem-se às religiões, como a liberdade, o direito à vida, a igualdade e justiça – que são mesmo os fundamentos do Estado moderno. Se tudo isto está errado, é razoável concluir que há necessidade da criação de um novo estado, mas fundamentado no quê? Na Ciência que tem um caráter totalmente restritivo e, por isso, muda constantemente seus conceitos?

    Quanto a comparação do Obama com o Papa, é totalmente desproporcional. Obama é o novo messias – mas não nasceu em manjedoura. Papa é um mero mortal servo do Altíssimo.

    O grande problema, entretanto, será a constatação de que este Messias fake não faz milagres. Não retirará as tropas do Iraque tão cedo e nem resolverá a crise econômica como quem transforma água em vinho.

  4. Alô Christian,

    Inegavelmente. :-)

    Saudações,
    Sergio

  5. Oi Ronald,

    A Palin não foi massacrada “meramente” por ser religiosa. Ela foi massacrada por ser burra, ignorante, despreparada e completamente fora da realidade. Qualquer pessoa, religiosa ou não, que defendesse as coisas que ela defende e falasse as coisas que ela fala seria massacrada. Aliás ainda bem.

    Claro, ela não foi *universalmente* massacrada. Ela teve excelente aceitação entre as pessoas que acham que devem aceitar acriticamente quaisquer dogmas que seu pastor lhes receite e para as quais é herético recorrer à própria capacidade intelectiva para decidir o que é verdadeiro e à própria consciência para decidir o que é certo. E por isso mesmo foi escolhida para candidata a vice-presidente; para atrair e acomodar esse tipo de eleitor.

    Note-se além disso que ela foi “massacrada” pela mídia e pela intelectualidade (inclusive conservadora) basicamente no terreno das idéias e do debate. Ninguém foi lá apedrejar a casa dela ou sugerir que ela devesse ser presa por acreditar no que acredita. Se ela quer acreditar nessas coisas, boa sorte, mas não venha querer administrar o país baseada nelas.

    Eu não acho que haja um “eventual” combate à religião presente na “dita” ciência. Eu acho com todas as palavras que há (e deve mesmo haver) um *constante* combate à religião por parte de uma grande parte das pessoas que produzem, ensinam e defendem ciência da mais alta qualidade.

    O problema é que quase todas as religiões (certamente todas as mais populares) têm a seguinte característica : as pessoas são pressionadas através de todos os artifícios possiveis (inclusive coação física se a opção estiver disponível) a abdicarem de decidir por si mesmas o que é verdadeiro e o que é bom. Devem ao invés disso delegarem tal prerrogativa a alguma autoridade não apenas moral mas quase sempre também com poder para se pronunciar sobre verdades mais objetivas relativas a como o mundo efetivamente funciona.

    Isso é, naturalmente, completamente incompatível com o espírito científico de buscar a verdade mesmo que inconveniente ou inconciliável com as tradições correntes. Então sim, eu acho que qualquer cientista sério tem mesmo é que ser anti-religioso (pelo menos contra a religião na forma como geralmente se manifesta).

    Mas mais do que isso, esse embarcar numa fantasia mitológica coletiva em que me pedem que jogue fora minha consciência e capacidade de julgar por mim mesmo é para mim incompatível com a dignidade humana, então mesmo que eu não me opusesse a isso em nome da ciência, me oporia como pessoa.

    Agora, por outro lado eu concordo plenamente com você que daí para então eleger “a ciência” como critério último de significado da existência humana e bússola moral é uma sandice. Nossa inspiração para fundamentar as relações sociais e os valores que queremos defender têm que vir de outras considerações, afinal de contas, em termos de lógica, não existe qualquer motivo para estarmos vivos ou fazermos o que quer que seja. Então sim, faz sentido recorrer à Bíblia como inspiração para valores e decisões de consciência. Mas não como um livro de regras, e não renunciando (falsamente) à responsabilidade última de decidir por si mesmo.

    Agora, da mesma forma como é uma sandice recorrer a “ciência” para decidir o que é certo é o que é errado, é igualmente uma sandice recorrer à Bíblia ou ao corão para decidir sobre fatos científicos.

    Quanto ao Obama ser ou não o Messias, ora bolas, ninguém esclarecido, mesmo os mais entusiasmados, acha que ele seja. Tranformar água em vinho não é pra qualquer um. Já destruir coisas boas é muito fácil, e um presidente dos EUA está em posição de destruir muitas coisas boas se não for a pessoa certa.

    Saudações.

  6. Lúcio says:

    “Obama é o novo messias – mas não nasceu em manjedoura. Papa é um mero mortal servo do Altíssimo.”

    Verdade? Um monte de outros “servidores do Altíssimo” garantem que não. Como é que se resolve isso? Sufrágio universal, par ou ímpar ou esperamos a mesma voz que fala na cabeça do Papa falar nas nossas? Enquanto o “Altíssimo” não manifesta sozinho o que acha melhor, o que temos é um homem (vários!) falando em nome de Deus. E esse “mero servidor” pretende ser infalível e perfeito quando se manifesta sobre alguns assuntos. É muito mais do que Obama- ou até Stalin!- demanda da minha credulidade. Outro que-segundo os pensadores alemães dos anos 30- tinha linha direta com Deus era Hitler.

  7. Fernando Carneiro says:

    Se a ideologia do Pedro é a do cinismo a sua é qual? Da desonestidade? Sarah Palin, entre outras, teve seu e-mail invadido. Você sabe que o Pedro não é cínico em relação a muitos assuntos e só pq é em relação a esta eleição cujo resultado lhe é tão caro, virou um cínico. Que pecado! É triste ver Nerds posando de porta-vozes da ciência. Trabalho com ciência e nunca vi um cientista sério defendendo o que você defende. Talvez seja esta a razão pela qual você não seja um cientista, não é verdade?

    Termino citando Chesterton, que dizia que o homem que não acredita em Deus acredita em tudo.

  8. [...] Biasi me chama de cínico e arremata, contagiado pela audácia: A esperança de que o Obama seja pelo menos um pouco do que [...]

  9. José Luis Bomfim says:

    (corrigido)
    Repito o que disse em outro blog: “José Oswaldo de Meira Penna em seu preciso e esgotado “O Espírito das Revoluções” (TopBooks: Rio de Janeiro, 1997) já notava que as revoluções modernas estão apoiadas em heresias das virtudes teologais, a saber: esperança, fé e caridade. Julio Lemos me fez notar outro dia que a sacada não é nova e talvez já estivesse presente nas análises de Henry de Lubac e Vöegelin acerca dos neo-gnosticismos modernos. O que sobra, a meu ver, é que a esperança de Obama é uma esperança vã. Por quê? Pois concentra em mudanças limitadas a realização de expectativas desproporcionais. É razoável que queiramos mais justiça, nunca haverá, no entanto, justiça perfeita. O reino da emoção é volátil e mesmo a psicologia mística séria o despreza: sem vontade, uma iluminação ou uma angústia podem ser apenas uma dor de barriga má-resolvida. A retórica bem construída pode despertar os sentimentos mais agudos em um homem, porém a razão bem armada, o famoso day-after, nos vai garantir aquela dose de realismo necessária: ainda que fosse verde, amarelo, branco, azul ou anil, Obama teria de tomar decisões mais pragmáticas sobre assuntos os quais quase ninguém saberia como tratar. O mais irritante é que Obama, ao invés de tomar uma atitude concreta em relação a estas decisões, concentra todo seu discurso em frases de efeito: “Yes, we can”, ou “Change”. Neste sentido minha decepção é mais com os eleitores de Obama do que para com Obama em pessoa. No mais, é normal que os entusiasmos sejam políticos. Eu queria ser como o Fray Luís de Leon dos versos

    Vivir quiero conmigo,
    gozar quiero del bien que debo ao cielo,
    a solas, sin testigo,
    libre de amor, de celo,
    de odio, de esperanzas, de recelo.

    Mas confesso minha fraqueza conservadora. Nutro simpatia por Palin, não conheço um só discurso da moça, e contudo o símbolo de uma família com seus percalços e defeitos, pronta a viver segundo o evangelho, me comove sim. Talvez porque minha família é um pouco assim, não sei. O fato é que este símbolo não basta para que Palin seja a fiel depositária dos Founding Fathers, assim como não basta a Obama ser negro, atlético e ter aquela pinta toda de homem evoluído aos píncaros do progressismo cosmopolita. O que basta então? Serão as eleições um mero jogo de convencimento alheio a toda sorte de racionalidade? A disputa verdadeira se daria em torno da manipulação do imaginário coletivo por meio de uma sedução pessoal?

  10. Paulo Martins says:

    Deus do céu! Invadiram o e-mail da Palin!

    Pensar que a religião criou a liberdade, o direito à vida, a igualdade e justiça é ignorar uns 70% dos seus feitos.

    Infantil por infantil eu prefiro os que não usam saias.

  11. Fernando,

    Seu comentário infelizmente é tão incoerente quanto, ironicamente, desonesto.

    Não faço a menor idéia do que seja o “trabalho com ciência” ao qual você se refere, mas evidentemente seu círculo de contatos sociais “científicos” não deve ser muito amplo ou muito representativo porque conheço pencas de cientistas “sérios” que expressam idéias muito similares às minhas.

    Ou talvez, claro, seu critério para cientistas “sérios” seja não serem ateus ou anti-religiosos. Ou possivelmente os cientistas desprovidos de idéias religiosas não se sintam particularmente atraídos à sua companhia social por motivos inexplicáveis.

    Mas mesmo descontando a sua experiência social como irrelevante, naturalmente existem tantos exemplos de cientistas publicamente reconhecidos como absolutamente sérios (por qualquer critério minimamente, digamos, “sério”) que declaram seu ateísmo e mesmo sentimentos francamente anti-religiosos até mais fortes que os meus que sua afirmação de que “nunca viu” um cientista “sério” defendendo tais idéias é ou uma alienação monumental ou desonestidade mesmo.

    Quanto aos nerds, meu caro, quem eles pensam que são para representarem a si mesmos, certo? Aparentemente você nunca entrou por exemplo num departamento de matemática ou pós-graduação em engenharia (ou se entrou estava de olhos vendados) porque se algum dia o fizer perceberá em 5 minutos que uma parte substancial da ciência que move o nosso mundo atualmente é feita por hordas de nerds. É quase ridiculo eu ter que apontar esse fato, mas aparentemente para você os conjuntos “nerds” e “cientistas sérios” apresentam uma interseção diminuta, a ponto de os nerds serem uma má escolha para porta-vozes da ciência. Em que mundo fantástico essa conclusão foi atingida eu desconheço.

    Mas talvez como no caso anterior (ateísmo ou anti-teísmo), o fato de serem “nerds” os desqualifique instantaneamente como cientistas “sérios”, né? Talvez possamos economizar tempo e pular logo para uma definição mais simples de cientistas “sérios” que seria “aqueles que compartilham das suas opiniões”.

    Sobre Sarah Palin ter tido seu e-mail invadido, ninguém está defendendo que isso seja algo apropriado ou razoável. Ela, por outro lado, de fato *está* defendendo que certas políticas sejam.

    Sobre o cinismo do Pedro, bem, ele é um pouco mais abrangente do que esta eleição. Declaradamente e explicitamente, é do tipo “política, especialmente em grande escala, é irrelevante e não vai mudar nada realmente fundamental”. O que até aí, ironicamente, eu não acho nem tão cínico, apenas um pouco desanimador, e talvez um pouco exagerado, mas não exatamente cínico. A parte cínica vem quando se pula de “eu estou achando que isso não vai mudar nada” para “olhe para esse bando de patetas ridículos achando que alguma coisa vai mudar, que coitados, hahaha”. Um cínico não precisa necessariamente estar errado; é mais uma questão de atitude.

    Finalmente, sobre a extensamente repetida citação de Chesterton, ele está essencialmente certo. O homem que não acredita em Deus está em princípio receptivo a acreditar em qualquer coisa. Que aliás é uma precondição para conhecer a verdade quando esta viola nossos preconceitos. Então somos colocados diante do sério problema de escolher em que vamos acreditar, munidos de informações parciais, inteligência finita e tempo contado. Não é uma situação confortável. Mas essa é a inescapável realidade humana. Achar que podemos magicamente fugir dela acreditando em “Deus”, e que isso vai então nos liberar de termos que escolher em que vamos acreditar, é simultaneamente :

    1. Logicamente contraditório (Como escolher em que “Deus” acreditar, para começar, o que ele de fato quer, e quem são seus legítimos porta-vozes?)
    2. Despersonalizante (Envolve desautorizar a si mesmo e aos outros de decidir por si mesmo o que é verdade e o que é certo.)
    3. Em última instância intrinsicamente desonesto (Dizer “Deus mandou eu fazer isso” não o exime da responsabilidade de que foi *você* em última análise que decidiu que era aquilo que Deus queria e que escolheu obedecer.)

  12. José Roberto Hall Brum de Barros says:

    Você e Pedro estão próximos de re-editar o diálogo de Nelson Rodrigues e Otto Lara Resende;

    Otto (Sérgio): Ah Nelson (Pedro), você é a própria Idade Média.
    Nelson (Pedro): Pior é você, que é o século XIX; o século XIX é muito anterior à Idade Média.

  13. Roger Prado says:

    O que me incomoda é a tendência nem sempre velada que os deístas (ou teístas, ou relgiosos, enfim) têm de monopolizar o bem, o justo, o certo. Eu me sinto ofendido com isso, pois sou um ateu que tem como norte o bem, a justiça, o equilíbrio, o respeito, etc.
    Muito já se disse sobre o paralelo que há entre comunismo (e outros ismos, inclusive o cientificismo) e o fervor religioso. A proclamação do monopólio do Bem e da Verdade é mais um ponto que reforça esse paralelo.
    Um comunista, por exemplo, diz que o outro, ou seja, aquele que está fora de seu domínio, é um alienado. No auge de seu poder, esse outro deve ser eliminado. Algumas instituições representantes dos deuses fizeram e ainda fazem o mesmo.
    Ora, alienar é delegar algo a alguém. Delegar a terceiros o poder de conhecer é algo que se vê bem mais claramente entre religiosos e partidos políticos.
    Naturalmente, o trabalho científico exige alguma alienação. Um cientista que pretenda seguir uma linha de pesquisa vai partir de um conjunto de premissas, pois seria impraticável e improdutivo refazer todo o percurso novamente. A diferença é que esse conjunto de conhecimentos acumulados foi testado e retestado, não foi um SER INFALÍVEL que o anunciou, não foi um Partido nem um Papa nem um Profeta a fonte das verdades postas. Sem falar que o edifício científico se reconstrói. Não há dogmas: se algum conhecimento já tido como axioma se mostra defeituoso, descem-se alguns degraus, mesmo que isso custe a demolição dos andares superiores. A ciência tem a HUMILDADE de recuar, pois sabe que isso é requisito básico para que o edifício não desabe ao custo de se manter uma falsa imagem de infalibilidade.

  14. Luis Gonçalves says:

    Sr. Sérgio,
    Essa foi a primeira vez que li um texto seu. O senhor escreve bem, mas é ingênuo e desinformado. Arnaldo Jabor odeia todas as religiões. O texto dele deixa claro que ele não gostaria que pessoas religiosas existissem. Para azar dele, os EUA são uma democracia, onde há liberdade de culto, algo que não existia nos países comunistas que Jabor tanto admirava.
    Em relação ao Obama, o senhor deve desconhecer a amizade do novo presidente dos EUA com Jeremiah Wright . Esse pastor celebrou o casamento de Obama e batizou as duas filhas dele. Procure no Youtube os vídeos com os sermões de Jeremiah Wright. É puro ódio racial contra os brancos e desprezo contra os EUA. Obama só se afastou da igreja de Wright após a amizade dos dois se tornar pública, mas Wright já afirmou que Obama pensa como ele, mas está impedindo pelas circunstâncias de expressar seu pensamento.
    A principal consequência da eleição de Obama será na política em relação ao Oriente Médio. Israel perderá o apoio dos EUA e terá que se defender sozinho. É por isso Ahmadinejad comemorou a vitória de Obama.
    Atenciosamente,
    Luís

  15. Adriano says:

    Em 2002, no Brasil, a esperança venceu o medo. Em 2008, nos Estados Unidos, ocorreu o mesmo?

    Obama é muito melhor que Lula, concordo. Mas é cristão e como W. Bush é contra o casamento gay, embora seja a favor da “união civil”.

    O Partido Democrata tem tradição estatista e intervencionista, o que muda em relação a “W”?

    Digo o que muda: Obama em seu discurso da vitória disse que quer unir o país. Isso sem dúvida inclui todos aqueles a quem você quer, emocionalmente, excluir o status de racionalidade.

  16. Adriano,

    Note, eu não acho que o partido democrata seja assim tão maravilhoso. Na verdade, em termos de partidos, para mim tanto republicanos como democratas passam muito longe de defender as liberdades individuais como eu gostaria, mas infelizmente não há nenhuma opção libertária séria / viável (e talvez isso se deva nem tanto à inexistência de possíveis candidatos qualificados quano ao fato de que a maioria absoluta das pessoas quer mesmo é alguém lhes dizendo o que fazer).

    Dito isso, entre as duas opções realistas, o Obama realmente me parece bastante superior. E que diferença prática ele ter sido eleito faz? Bem, reitero que para mim depositar esperanças demais no governo é não só uma utopia, como uma utopia perigosa. Mas se por um lado o governo tem um poder bastante limitado de fazer o bem, ele tem um poder consideravelmente maior e mais concreto de fazer o mal. Então entre o Pato Donald e o Hitler, eu prefiro o Pato Donald.

    E nem eu acho que o Obama seja assim tão progressisita. Aliás, pelo menos para mim, essa é uma das virtudes dele; apesar de estar (ou pelo menos dizer que está) olhando para o futuro e para a “mudança”, ele é basicamente um conservador. Seus votos no senado não foram de forma alguma “revolucionários”. Seu discurso, seu temperamento, seus planos são basicamente moderados e bastante tradicionais. A não ser que repentinamente ele vá mudar esquizofrenicamente de comportamento, ele não parece estar querendo sair botando pra quebrar, e sim apenas planejando colocar ordem na casa através de políticas completamente ortodoxas. Que é *bem* mais do que se pode dizer de George Bush, cuja atuação alterou e desvirtuou *completamente* a natureza do poder executivo nos EUA. Então acho que sim, muda bastante com relação a W.

    Quando ao Obama querer unir o país, eu acho ótimo, e por uma série de motivos ele está arquetipicamente qualificado para promover essa causa, e nenhuma quantidade de brilhantismo da parte dele poderia substituir certas coisas que ele simplesmente, concretamente, é.

    Agora, eu acho muito engraçado acusações de autoritarismo dirigidas àqueles que consideram a religião em geral algo essencialmente maligno, especialmente quando é o caso de virem de pessoas religiosas. Afinal de contas, os religiosos se acham no direito de acreditar que o homossexualismo é essencialmente maligno, que o sexo antes do casamento é essencialmente maligno, que uma lista infindável de “pecados” é essencialmente maligna. E que isso é apenas liberdade de opinião e coisa e tal. Mas se eu acho que religião é algo essencialmente maligno, então automaticamente sou autoritário? Sinto muito, não é coerente.

    Para mim, desde que deixem as pessoas em paz para viverem suas vidas do jeito que quiserem, os religiosos podem acreditam no que bem entenderem. Se você não quer ser gay, não seja. Se não quer fazer sexo antes do casamento, você é que sabe. Se não acha que deve usar pílula anticoncepcional, não use. Se não quer usar drogas, não quer se prostituir, não quer andar na rua sem burka, é com você. Mas não venha querer fazer leis me forçando a seguir as *suas* regras, pois *isso* é ser autoritário.

    Comparado com isso, meramente dizer “Como é que é? O papa fala com Deus? Isso é absurdo. Eu acho que você está delirando.”, não me parece particularmente autoritário.

    Eu acho sim que religião deve ser combatida, mas não com armas e leis, e sim com idéias e liberdade de escolha. E *certamente* não acho que deva ser papel do governo combater a religião. (Mas também acho que *certamente* não é papel do governo promovê-la, ou muito pior, subordinar-se a ela.)

  17. Caro Luis,

    Suponho que todos nós estejamos em desvantagem quando se trata de julgar a extensão da própria desinformação ou ingenuidade, mas creio que você está partindo da premissa de que *se* eu estou dizendo certas coisas então *naturalmente que* eu devo desconhecer certas outras. Sugiro considerar a explicação alternativa de que eu as conheça e mesmo assim tenha chegado a conclusões diferentes das suas.

    Quanto ao Jabor odiar todas as religiões, não é novidade para mim. Não sei até que ponto eu concordaria com todos os detalhes do que ele pensa sobre o assunto, ou com os motivos dele. Mas posso dizer que eu pessoalmente acho que as religiões em geral são essencialmente malignas, e não acho assim tão absurdo preferir que pessoas religiosas não existissem.

    Note que isso *não é* o mesmo que dizer que eu acho razoável que as pessoas religiosas sejam exterminadas, ou coagidas a não serem religiosas, ou qualquer coisa assim. Acho perfeitamente aceitável preferir que elas não existissem, mas o que o fulano gostaria não é a única coisa que importa, e eu acho que o direito das pessoas de viverem sua vida como bem entenderem tem precedência sobre a preferência de quem quer que seja de que elas não existissem.

    *Esse* é o salto de tolerância e respeito que ironicamente uma boa parte das pessoas “religiosas” não concebe. Então quando alguém expressa o desejo de que as pessoas religiosas não existissem, tais pessoas religiosas automaticamente supõem autoritarismo, pois mais freqüentemente do que o razoável parecem crer que o único caminho possivel de ação quando preferimos que alguém certas pessoas não existissem é eliminá-las à força. Porque afinal de contas é isso que se faz com quem vive a vida de uma forma que não aprovamos, certo?

    Errado.

    No meu entendimento, preferências genéricas de que pessoas defendendo certas crenças não existissem não entra minimamente em conflito com democracia, liberdade de expressão, de opinião, ou de culto. Pelo contrário, democracia não é todo mundo concordar; isso é um estado antinatural que só ocorre com muita lavagem cerebral. Democracia (no sentido mais amplo e informal da palavra) é justamente todos terem a liberdade de discordar sem serem instantaneamente punidos ou forçados a se retratar.

    A meu ver, o que conflitaria com a “democracia” seria por exemplo fechar igrejas à força ou prender quem se declarasse religioso. Não que não haja quem defenda isso, mas aí nesse caso você tem a minha total concordância de que é intolerável. Aliás, aproveito para comentar que o uso da palavra “democracia” aqui é extremamente escorregadio pois tecnicamente se a maioria da população decide tornar algo ilegal então isso é perfeitamente democrático, não interessa quão opressivo ou absurdo. O que já nos diz muito sobre as limitações de uma política de liberdades civis baseada meramente em “democracia”.

    Quanto ao Obama e ao Jeremiah Wright, essa polêmica perdurou por meses aqui na imprensa americana até ninguém mais agúentar ouvir falar do assunto. A amizade entre os dois não se “tornou” pública, ela sempre foi completamente pública. Porém, ela foi repentinamente colocada em evidência no começo do ano quando a imprensa veiculou de forma razoavelmente sensacionalista o conteúdo de alguns sermões de Wright, que foram extensamente escrutinados e repetidos ad nauseam. O Wright acabou fazendo mais algumas declarações não tão politicamente corretas quando a diplomacia requereria, e aí o Obama repudiou oficialmente o pensamento de Wright e se desligou da igreja à qual pertencera por muitos anos. Diante disso, a imprensa progressivamente perdeu o interesse, e o assunto caiu na quase irrelevância. Podemos discordar sobre que interpretação ter dos fatos e etc, mas concluir que eu “devo desconhecê-los” me parece ser uma suposição apressada baseada primordialmente no fato de que eu cheguei a conclusões diferentes das suas.

    Finalmente, quanto a Israel, o que eu acho mais provável mesmo é que nada de radical mude. Impossível saber o que Obama *realmente* pretende fazer sobre o assunto. Seu discurso sobre o assunto tem sido absolutamente claro no sentido de manter o suporte a Israel. Mas naturalmente, ele sempre pode estar mentindo deslavadamente. Descobriremos nos próximos anos. Enquanto isso eu prefiro alguém que diz estar defendendo coisas razoáveis mas pode estar mentindo do que alguém que está oficialmente e publicamente defendendo coisas absurdas.

  18. Felipe S. says:

    Oi Sergio, com todo respeito, mas seu argumento não é valido, pois o mesmo se poderia dizer no sentido contrario sobre o “obscurantismo” positivista. Se a religião contradiz a ciência positivista, logo a religião está errada. No entanto essa discussão não leva a nada. A questão é: quem está disposto a proporcionar liberdade para que cada um siga o dogma que preferir, o religioso com sua religiosidade, o positivista com seu positivismo? A resposta não está justamente no liberalismo? Esse liberalismo, pelo que vejo, é muito mais defendido pelos republicanos do que pelos democratas. Também o Pedro me parece defender esse liberalismo. O texto do Jabour é de uma ignorância monumental!!

  19. Adriano says:

    Se alguém disser que uma certa pessoa não pode ter sua voz ouvida em questões de políticas públicas ou governo só porque é religiosa, isso é autoritarismo. Quanto ao papa, sugiro não nos preocuparmos com ele, porque quando ele diz que os católicos devem se comportar desta ou daquela maneira, quem deve se preocupar com isso são os católicos.

    Além do mais, o Estado moderno não é ateísta, é laico. Isso significa que o corpo político e legal não está subordinado à Igreja ou a qualquer outra instância religiosa; daí, porém, não se segue que pessoas religiosas não possam lutar pelas políticas públicas que lhe interessem.

    E não cabe ao tal Estado democrático de Direito permitir tudo. Podemos partir de um fato simples: matar alguém em um caso que não seja de legítima defesa é simplesmente crime. Certo? Só que a partire daí e de outros casos passa a haver discordâncias grandes. Deve ser legal o “casamento gay”? Veja o caso de um dos estados mais progressistas, a Califórnia. Pode-se falar o quanto quiser do lobby religioso ou do lobby liberal. Mas o que temos ali é que não se deve necessariamente tomar o ponto de vista de um dos dois grupos. Não se deve de saída dizer que em um Estado de direito o aborto deva ser legal, por exemplo. Essas questões devem, no mínimo, ser debatidas.

  20. Felipe,

    Peraí, a ciência não usa o argumento “Você está errado porque me contradiz”. É justamente esse o ponto. Esse seria um argumento completamente não científico. A própria essência da ciência é que as crenças são provisórias e sujeitas a serem reexaminadas. O que a ciência de fato diz é, “Ok, você acha que existe uma entidade que você chama de Deus e com tais e quais propriedades. Mostre-me evidências que eu possa verificar de que isso seja verdade.” A resposta invariavelmente é, sinto muito, bizarrices como “é o mistério da fé” ou “é óbvio” ou “são as vozes na minha cabeça” ou “Deus tem que existir porque senão minha vida não faz sentido”. E então o cientista diz “Cerrrrto, ok, quando você tiver de fato alguma evidência verificável que não se resuma essencialmente a “porque eu quero acreditar” me avise.”

    Já por outro lado o religioso, quando confrontado com proposições científicas que contradizem suas crenças, esse sim tem bem menos problemas em simplesmente dizer “Ah, isso não pode estar certo porque contradiz o que eu já acredito / o que o papa disse / o que esta na Bíblia / etc.”

    Então quando estamos falando de fatos concretos e verificáveis sobre o mundo, não é nem um pouco simétrico.

    Claro que quando estamos falando de moralidade e questões existenciais, por outro lado, a coisa fica mais complexa, e aí eu tenho que concordar que tentar construir respostas para isso usando a ciência como simulacro de Bíblia tende a dar em besteiras. A ciência não tem respostas para esse tipo de questão. Ou melhor, até tem no sentido de que parece indicar que não há absolutamente qualquer significado ou propósito para a nossa existência tanto quanto seja possivel determinar racionalmente. Só que essa resposta não é satisfatória emocionalmente, e como lidar com isso é algo que precisa ser respondido num nível que não vai ter como ser ancorado exclusivamente na racionalidade.

    Agora, quanto a liberdades e etc, você parece estar cometendo o engano de achar que ser contra a religião significa automaticamente defender a supressão coercitiva de opiniões religiosas. Eu sou 100% libertário e acho que cada um deve ter liberdade de acreditar no que bem entender, da mesma forma que acho que tomar um porre todo dia provavelmente não é uma boa idéia mas que é problema de cada um decidir por si mesmo.

  21. Felipe S. says:

    Sergio, você entende o que é realmente religião? Eu te garanto que não é simplesmente uma questão de fé, religiosos que dão essas respostas não entendem nada de religião. Religião vem de uma compreensão profunda, filosófica, racional e intuitiva da existência. A ciência positivista é uma maneira puramente racionalista de compreender a existência. Provar racionalisticamente que o homem é uma evolução do macaco não prova em nada que o a concepção simbólica de Adão e Eva, por exemplo. São coisas diferentes, de categoria diferentes. Uma não nega a outra. Eu particularmente acho que a visão tradicional é mais completa, pois engloba todas as formas de saber, mas sou um modesto estudioso da física moderna. Talvez seja a ciência que precise aceitar, e estudar mais para compreender, a religião. A maioria dos cientistas modernos não fazem nem idéia do que seja religião. Sugiro a leitura de filósofos como Rene Guenon e Xavier Zubiri, seria bem esclarecedor. Do contrario você acaba ficando com uma compreensão extremamente superficial sobre esse assunto. Mas estou me contradizendo, pois como disse, essa discussão costuma não levar a nada.

    Quanto ao liberalismo, só quis dizer que os republicanos me parecem muito mais adeptos a ele do que os democratas. E, também me parece, que é justamente esse liberalismo o que pode conferir maior liberdade para que cada um viva suas proprias escolhas, seja o positivismo ou a religião, por exemplo. Não é essa liberdade que o Pedro defende? Não entendi a polemica. Já havia lido outros textos seus Sergio, e sempre achei que você era mesmo um liberal, por isso me surpreendi com seu entusiasmo com Obama. Mas respeito, claro. Aliais desculpa minha intromissão por aqui. Sou leitor do “O Individuo” e espero que essa discussão não seja de forma alguma agressiva e desrespeitosa. Não quero parecer pretensioso, não sou dono da verdade, sei que posso estar errado, ainda mais com meu conhecimento ainda em formação.

    Grande Abraço,

    Felipe

  22. Felipe S. says:

    Corrigindo: “Provar racionalisticamente que o homem é uma evolução do macaco não prova em nada que o a concepção simbólica de Adão e Eva seja equivocada, por exemplo.

  23. Caro Adriano,

    Comentando brevemente sobre religiosos quererem tornar todas as suas crenças em política pública -

    Claro que isso seria “democrático” em sendo os religiosos em número suficiente. Isso aliás pra mim demontra um problema sério com a democracia no seu sentido mais literal, que é que os direitos individuais ficam completamente à mercê da turba. Seria igualmente intolerável que os ateus se reunissem democraticamente para tornar a Bíblia um livro ilegal. Sou extremamente libertário e acho que há coisas sobre as quais NINGUÉM deveria ter o poder de legislar.

    Portanto a minha crítica maior no assunto de políticas públicas não é nem sobre os motivos dos religiosos serem mitológicos ou dogmáticos nem sobre o direito deles de como quaisquer pessoas se envolverem no processo político. Meu problema é o *tipo* de coisas sobre as quais os religiosos se sentem autorizados a legislar e patrulhar nos outros, seja usando o aparato do governo ou quaisquer outros meios. E fico muito feliz quando vejo movimentos e iniciativas desse tipo serem repudiados.

  24. Felipe,

    Comentando brevemente sobre o Obama -

    Olha só, seja lá quais forem as ideologias que tradicionalmente republicanos e democratas supostamente defendam, a era Bush foi uma de completa decadência do respeito ao processo politico / jurídico tradicional e na qual os direitos individuais sofreram danos absurdos. De “liberais” no sentido mais libertário da palavra eles não tem absolutamente nada, pelo contrário. A maior qualidade do Obama é não ser eles.

  25. Cristovam says:

    Meu avô já me dizia, filho religião, plitica…. não se discute, se aceita ou não. Mas minha opinião é que a Biblia tem algumas coisas que a ciência devia olhar com menos prconceito. Quanto a não misturar as bolas, JC já foi bem calro: Dai a Cesar o que é de Cesar e a Deus o que de Deus. Mas vou dá mais um palpite, Uns exploram a fé outros a ignorância, cabe aos mais honestos com uns e com outros, apontar as idéias e deixar que eles decidam de per si.

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