You Will Die

February 15th, 2009 by Sergio de Biasi

Leiam e se não acreditarem confiram em fontes independentes :

The Burden of Modern Taboos

3 Responses to “You Will Die”

  1. [...] The Burden of Modern Taboos [...]

  2. Fernando Carneiro says:

    Meu comentário anterior pecou por ter um espírito meio besta e várias bobagens escritas. Tentarei consertar isso aumentando o nível, dessa vez.

    ‘Marijuana users are happier overall than non-users”

    Felicidadologia: a ciência do futuro!

    Talvez fosse um livro mais completo se o autor mencionasse um grande tabu atual: a “ciência”. Qualquer coisa que chegue pelo crivo da “ciência”
    através da mídia se torna indiscutivel. E isto quando você evita diferenciar o que está sendo feito pelos cientistas e a versão que chega na mídia e que influi inclusive em várias decisões políticas, além da grande mitologia em torno de figuras célebres como Galileu e Darwin, anti-religiosa, anti-Igreja, a mesma Igreja que criou a universidade.

    Não precisa procurar muito no google e você percebe que esta afirmação sobre a maconha não está estabelecidade, e que há controvérsias
    (http://www.rand.org/pubs/research_briefs/2007/RAND_RB9265.pdf).

    “Jesus Christ denounced lying – not pre-marital sex, contraception, abortion, or drug use.”

    Jesus denunciou a mentira… Jesus, nos Evangelhos, é um dos poucos, que eu me lembre, que foi denunciado. E se coloca no meio do caminho quando outra é denunciada, para impedir um linchamento. O espírito de denúncia é contrário à mensagem cristã.

    O problema é exatamente este. Se a educação é aprender com a experiência dos outros, é um problema quando você se restringe a um pequeno período e um pequeno grupo – modernos – e joga fora milhares de anos de experiência humana como atrasados. Na verdade nem precisa se restringir a um período já que grandes historiadores de nossa época como Girard, Voegelin ou Eksteins são ignorados. Essa forma pretensamente bombástica e humorística de romper com tabus e antiguidades esteve presente no ambiente cultural que preparou as carnificinas do século passado (ver Eksteins). E continuamos
    a incorrer no mesmo erro.

  3. Oi Fernando,

    Antes de mais nada, concordo com você que o livro que eu citei está aí é para ser questionado mesmo – aliás, como todo o resto. No mínimo ele provê uma excelente fonte para reflexões; é sempre saudável questionarmos nossos paradigmas e verificarmos quão saudáveis / corretos / razoáveis eles são. Agora, mesmo que o livro não seja completamente acurado ou muitas vezes aborde assuntos sobre os quais a verdade seja discutível, em um número preocupante de casos ele coloca afirmações que apesar de surpreendentes e revolucionárias se revelam assustadoramente acuradas. Mas sim, a atitude crítica razoável que eu defendo e apoio é mesmo não sair aceitando afirmações, principalmente afirmações que soam fantásticas, sem tentar buscar evidências na realidade.

    Isso sendo dito, passemos aos comentários específicos que você fez.

    Sobre a busca da felicidade, esse é um assunto muito antigo, e eu entendo as críticas que se podem levantar a uma visão excessivamente niilista / epicurista da condição humana. Porém, eu também acho que cada um deve ter em princípio a liberdade de buscar a própria felicidade pessoal por quaisquer meios que escolher, desde que não faça mal a ninguém. “The pursuit of happiness” é uma das atividades mais fundamentais a serem respeitadas num ser humano, e acho que os Estados Unidos são provavelmente a única nação do mundo que cita isso explicitamente em um dos documentos sobre os quais foi criada. O direito de ser deixado em paz pelo governo e pela sociedade para buscar a felicidade do jeito que eu achar melhor. Infelizmente em tempos modernos isso está historicamente se perdendo, e hoje em dia os princípios fundadores dos estados são mais na direção de “você tem direito à educação”, que é algo que para todos os propósitos práticos significa “você tem o direito de que retiremos por coação uma parte da sua renda para financiar a escravização não opcional de seus filhos e os dos outros durantes os primeiros dez anos de suas vidas durante os quais serão implacavelmente submetidos a condicionalmento social e lavagem cerebral”. Então, sim, eu acho que a busca da felicidade deve ser respeitada e que isso é algo muito importante.

    Mas o seu comentário vai mais na direção de que isso é difícil de medir, e eu concordo. Porém, note, pelo que eu acabei de dizer acima, cabe a cada um escolher como quer ser feliz, e não ao governo dizer “oh, este caminho não traz a sua felicidade então eu vou proibi-lo”. Então a crítica à posição padrão do governo americano de que “drogas produzem perdedores infelizes” se dá em dois níveis. Um deles é que “não, não produz” – que é o que você comenta mais diretamente. Outro é que mesmo que produzisse, o governo não tem nada com isso. Talvez resolver ser tocador de oboé produza perdedores infelizes e diminua seu valor social, mas é evidentemente soviético decidir então a cota anual máxima (aliás conhecendo o sistema soviético também mínima) admissível de tocadores de oboé. Mas como o livro está mais preocupado em localizar crenças generalizadas que na verdade são falsas do que recomendar ação política, ele gasta mais tempo com a primeira crítica do que com a segunda.

    Mas como de fato verificar se as pessoas são mais ou menos felizes fazendo algo? Bem, se não há como medir isso, então o governo (ou qualquer um nessa posição) não tem qualquer base sequer para fazer afirmações sobre isso. E se há, então é melhor o governo definir muito bem do que está falando e apontar para os fatos que suportem solidamente suas conclusões ao invés de retórica e exemplos específicos de representatividade duvidosa. Conceitos como felicidade, sucesso e dependência são usados de forma completamente fraudulenta ao se construírem argumentos a favor da proibição de drogas. Basta olhar historicamente para o passado não tão distante quando as drogas simplesmente não eram proibidas e absolutamente nada mais fantástico do que já acontece com álcool, tabaco e cafeína acontecia. Basta olhar para o fato de que uma fração substancial das pessoas de fato usa maconha hoje e nada remotamente similar ao que a propaganda do governo descreve acontece com as pessoas. Claro, é possível ferrar a sua vida fumando maconha, mas também é possível ferrar a sua vida cheirando cola ou dirigindo perigosamente. Os motivos para construir histeria em torno das drogas não têm nada a ver com sua real periculosidade ou intrínseca ameaça à felicidade humana. O que a maioria das pessoas sente no momento em que toma uma cerveja é ficar um pouco mais alegre e desinibida, só isso. Essa é a reação saudável da maioria das pessoas ao álcool. Reações igualmente brandas no caso geral valem para quase a totalidade das outras drogas, se tomadas em doses similares àquelas em que são usadas as drogas legais. De longe o maior problema de que sofrem os usuários de drogas, a maior causa de longe de elas causarem infelicidade e transtornos é o fato de elas serem ilegais.

    Sobre Jesus – ou a imagem mítica padrão que chamamos de Jesus – ter sido contra a posição denuncista, eu concordo plenamente tanto que essa foi uma de suas mais importantes mensagens, como que é uma excelente mensagem, quando que *deveria* ser a mensagem cristã. Só que é quase risível defender que essa de fato *seja* a mensagem daqueles que se intitulam cristãos atualmente. São essas as pessoas que vão para a rua com cartazes escritos “God hates fags” e que levam adolescentes ao suicídio de tanta culpa por terem tido sexo antes do casamento. Os cristãos conseguiram ao longo da história distinguir-se como um dos grupos mais absurdamente denuncistas e acusatórios jamais concebidos. Os protestantes americanos em seu puritanismo são quase uma referência exemplar do espírito de denúncia. Mas se formos ficar com os católicos, que são mais historicamente caros à realidade brasileira além de terem uma tradição supostamente cristã de mais longa data, os católicos são implacáveis. Por mais clichê que seja, considere-se a inquisição. Ou em tempos mais modernos, considere-se a posição dos católicos sobre precisamente as questões citadas acima – sexo antes do casamento, métodos anti-concepcionais, abortos, uso de drogas. Eles não se contentam em não praticá-los, e a ensinar civilizadamente seus filhos a não praticá-los, que seria a posição não denuncista. Eles apresentam uma retórica absurdamente acusatória (você está MATANDO BEBÊS, oohhhhh!) e querem impor tais coisas ao resto da sociedade a qualquer custo.

    Aliás, se formos ser completos, até mesmo Jesus não foi perfeitamente não acusatório. Ao entrar no tempo e sair virando barracas dos camelôs lá presentes ele expressou sua indignação moral de forma perfeitamente acusatória. Não chegou a apedrejá-los, o que demonstra mais tolerância do que os que queriam apedrejar a adúltera, mas por outo lado concretamente os julgou e expressou publicamente seu julgamento com atos e palavras.

    Dito isso, eu acho que defender que Jesus não denunciou x ou y porque ele não era denuncista é um pouco tapar o sol com a peneira. Jesus de fato defendeu certos valores, mesmo que não de forma primordialmente denuncista, e entre eles não estava, por exemplo, “não use drogas”. E note que usar drogas não é de forma alguma uma questão moderna; a sociedade daquela época já conhecia e usava um grande número de drogas, inclusive uma boa parte das usadas atualmente. Jesus não ficou fazendo discursos sobre como só pessoas ruins usam drogas. Ele de fato fez discursos sobre como vender coisas no templo é aviltante. Ironicamente vender coisas no templo é uma atividade altamente comum e muito aceita em grande parte das seitas cristãs atuais.

    Finalmente, sobre ciência. Eu até concordo que uma parte substancial da produção acadêmica atual é uma farsa (como todo o resto). Porém, eu não acho que exista um tabu no mesmo sentido em que existe sobre religião por exemplo. Entre outras coisas, não existem por exemplo, em geral, leis proibindo as pessoas de discordarem da ciência. Se eu sair na rua dizendo que o Sol gira em torno da Terra no máximo vão achar que eu sou maluco. Já se eu sair na rua na Arábia Saudita e ficar anunciando que “Deus não existe” corro o risco de ser preso ou muito pior.

    Saudações,
    Sergio

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