Homem, Sexo Frágil

January 26th, 2011 by Sergio de Biasi

Suicide rates (female)

 

Suicide rates (male)

Recentemente eu estava discutindo uma estatística apontando que os homens universalmente se suicidam mais do que as mulheres (um fato sociológico repetidamente observado e essencialmente incontroverso) e eu sugeri diante disso que ser homem não é tão bom assim e que ao contrário do que se possa por vezes querer fazer crer não decorre automaticamente do fato que as mulheres sofrem com questões específicas do seu gênero que os homens não sofram também com as questões específicas ao seu. E que, no balanço total, ser homem não seja lá esse passeio no parque que algumas ideologias querem pregar.

As reações que recebi ao expressar esse tipo de pensamento foram variadas, mas algumas foram tão exageradamente agressivas que despertaram meu interesse. Por que é um tabu tão grande sugerir que talvez o “poder” dos homens não seja assim tão grande? Por que é que qualquer estatística social colocando as mulheres numa posição desfavorável tende a ser automaticamente interpretada como sintoma de opressão, enquanto que as que colocam os homens como vítima ou prejudicado tendem a ser ou ignoradas ou “explicadas” como resultado de uma suposta irresponsabilidade / violência / estupidez  endêmica tipicamente masculina?

Os homens não só cometem mais suicídios como genericamente morrem mais cedo e levam vidas que por uma grande coleção de critérios são mais tensas, infelizes e perigosas do que as mulheres. A questão é : por quê? Querer dizer que é porque são uns idiotas é tão perverso quanto querer sem nem olhar as evidências afirmar que uma vítima de estupro provavelmente provocou o ataque. E se vamos olhar mais de perto, vemos que grande parte dos homens não se mata de tanto trabalhar porque ache dinheiro ou sucesso assim tão intrinsecamente importantes. Eles fazem isso porque, estatisticamente, acham que têm a obrigação e o dever de colocar o pão na mesa de suas famílias. Porque sentem-se responsáveis, como homens, por pagar as contas, e por zelar pelo bem estar material e segurança física de sua esposa e filhos, e não podem esperar encontrar uma esposa para começar se não o fizerem. Enfim, porque nisso – e em muitos outros aspectos – são prisioneiros de um gender role que não escolheram e sobre o qual não têm controle.

Agora vejamos, é absolutamente óbvio que o gender role tradicional feminino inclui uma grande coleção de aspectos opressivos. Eu não estou de nenhuma forma questionando isso. O que eu estou sim questionando é que isso implique que o gender role tradicional masculino não possa ser igualmente opressivo para um homem. Só que se por um lado nas últimas décadas houve um avanço enorme em conscientizar a todos, a começar pelas próprias mulheres, mas depois disso a sociedade em geral, de que certos aspectos do gender role tradicional feminino precisam ser questionados e em vários casos superados, não houve um despertar similar nem um movimento correspondente pelo lado masculino para se libertar dos aspectos opressivos do seu gender role tradicional.

Um dos motivos para isso ter ocorrido desta forma é que os movimentos feministas caíram na armadilha de acreditar e então bradar exaustivamente que se as muheres estão sendo vitimizadas, então deve haver um grupo opressor, e este só pode ser os homens. Ora, como se mulheres não oprimissem mulheres, e homens não oprimissem homens, e pessoas não oprimissem a si mesmas. O problema de libertar as mulheres da camisa de força de cumprir certos papéis incondicionalmente foi então em grande parte associado a lutar contra os homens e antagonizá-los. Essa atitude porém ignora completamente o fato de que, como mencionado, o papel tradicional masculino também é opressivo, e é incentivado e perpetuado com igual fervor por homens e mulheres, assim como o papel feminino. Todos perdem com essa falsa e fradulenta representação das relacões tradicionais entre homens e mulheres como sendo uma desprovida de problemas para algum dos lados. O fato histórico é que tradicionalmente se espera que ambos os sexos cumpram papéis desumanizantes e opressivos, e as mulheres, por diversos motivos, começaram a transicionar antes dos homens para uma situação mais justa e humana, algo tornado possível por enormes progressos culturais e tecnológicos (dificilmente poderíamos nos dar a esse luxo para qualquer dos sexos se nossa primeira prioridade fosse não morrer de fome no meio da selva).

O que vivemos hoje, porém, é uma situação na qual as mulheres já conseguiram ganhar uma quantidade considerável de opções que antes não estava disponível para elas, libertando-se parcialmente de seu gender role, enquanto que dos homens ainda se espera que cumpram sem reclamar basicamente os mesmos e opressivos papéis tradicionais de sempre. E quando isso é sequer mencionado, as reações freqüentemente incluem indignação revoltada. Como assim os homens ousam querer questionar seu papel tradicional? Pois têm mais é que questionar mesmo, assim como as mulheres questionaram o seu.

O fato é que por uma coleção enorme de critérios, o resultado dessa liberação assimétrica é que em muitas sociedades modernas é o homem que hoje é disparadamente o sexo frágil, o sexo menos em controle de sua própria vida e de sua própria identidade, o sexo com menos opções profissionais e afetivas, o sexo mais vitimizado por todo tipo de violência e indignidade, o sexo que é mandado para morrer em guerras e depois abandonado pela sociedade para mendigar pelas ruas. Os homens estão, nas sociedades modernas, muito mais vulneráveis do que as mulheres, e tradicionalmente um homem sequer pedir por socorro ou protecão é considerado indigno e vergonhoso. Não é surpreendente então que os homens se matem aproximadamente muito mais do que as mulheres em quase todas as sociedades. Se eu mostrasse uma estatística dizendo que as mulheres americanas (ou alguma etnia, ou classe econômica, ou qualquer outro grupo social) se matam 5 vezes mais do que os homens, isso não seria automaticamente interpretado como significativo de que alguma grande violência está sendo cometida contra este grupo? Por que é então quando se mostra uma estatística deste tipo mostrando os homens como vitimizados a reação é um dar de ombros ou mesmo querer achar uma explicaçao para culpá-los por isso? Isso equivale a mostrar uma estatística de que um determinado grupo social apresenta escolaridade muito abaixo da média geral e alguém concluir “ah, isso só pode ser porque eles são burros e preguiçosos mesmo”. Sinto muito, não é aceitável. É uma droga ser mulher e sentir uma enorme pressão para se enquadrar num gender role tradicional destrutivo e vitimizante? Sim, é, e eu apoio isso ser questionado. Mas isso não ocorre porque “os homens” conspirem para que ocorra, isso é uma estrutura perpetuada pela sociedade como um todo, e cuja perversidade de forma alguma afeta somente as mulheres. É também uma droga ser um homem num papel tradicional de homem. Ambos os sexos precisam se libertar disso, e precisam da ajuda um do outro para fazê-lo.

Dentro de uma unidade familiar padrão (que com certeza vem se alterando, mas ainda arquetípica) a quantidade de responsabilidade que um homem médio sente depositada sobre seus ombros é imensa. É sobre ele que é colocada a expectativa de fazer o que for necessário para garantir a existência de recursos materiais para a subsistência de sua família. É para ele que se voltam os olhares de reprovação e censura se não há comida na mesa. E espontaneamente, o homem médio sente fortissimamente o dever, o chamado, o imperativo de proteger objetivamente a sua família da privação e da necessidade, de pegar um porrete e suicidamente ir lá dar pauladas no urso que ronda a caverna. Claro que isso é uma forma completamente diferente de cuidar dos entes queridos comparada com trocar fraldas ou dar conforto afetivo, uma forma menos yin e mais yang, mas não venham me dizer que os homens sejam menos abnegados que as mulheres em cuidar de sua família; isso é tão capenga quanto dizer que a função yin que as mulheres exercem seria menor ou menos importante, ou que todas as mulheres espontaneamente a exerçam direito. Assim como evidentemente há homens que também não fazem sua parte direito, mas me parece extremamente injusto – e condescendente – dizer que as mulheres seriam por isso vítimas ou “mais abnegadas”. Espera-se delas que expressem sua abnegacão de uma forma diferente, mas tradicionalmente não se espera menos dos homens. Só que sim, de fato, após ir lá dar pauladas no urso e enfrentar o frio e o vento e a neve, o homem freqüentemente volta pra casa pra ser recebido como um estranho, como um veterano de guerra, como o samurai que após salvar a vila se torna indesejável por sua dureza e calosidade, as mesmas qualidades previamente indispensáveis e salvadoras quando foi necessário enfrentar uma realidade ameaçadora.

E não se deve subestimar a quantidade de solidão a que um homem típico é submetido. Se você, como mulher, acha que o homem médio não é muitíssimo mais solitário, nem recebe ordens de grandeza menos atenção do que uma mulher média, e se você acha que essas coisas não causam um impacto profundíssimo em sua felicidade, é porque você provavelmente não mede quão radicalmente diferente é a experiência social de um homem típico comparada com a de uma mulher típica. Se você está olhando desde o ponto de vista de uma mulher, você está acostumada a receber um certo nível básico de gentileza e atenção em qualquer ambiente social no qual ingresse. Talvez você suponha automaticamente que seja assim para todas as pessoas. Eu estou tentando trazer à sua atenção que absolutamente não é. A experiência que um homem típico tem entrando num bar, numa festa, numa sala de aula, enfim, em qualquer ambiente social, é *completamente*, *radicalmente*, *abissalmente* distinta da que uma mulher tem. Espera-se que *ele* tome a iniciativa, que *ele* seja interessante e divertido, que *ele* faça algo para demonstrar proativamente o seu valor, que *ele* faça as coisas acontecerem. Ninguém se sente obrigado a ser espontaneamente gentil com um homem, ou a pensar no seu bem estar, ou fica se oferecendo para fazer todo tipo de favores e dar presentes só por ele existir. Esse tipo de generosidade e afetividade básica e gratuita que dá a um ser humano a sensação de que é aceito e querido em algum nível fundamental é reservada pela sociedade a crianças e mulheres. Dos homens se espera que “take it like a man”.

Agora, querer enxergar os homens caricatural e unidimensionalmente como opressores e as mulheres como vítimas abnegadas e indefesas requer fechar os olhos para uma enorme fatia da realidade.  Como se dos homens também não se exigisse abnegação! Só para começar, os homens também cuidam *sim* de filhos, esposas e pais idosos, só que em geral se concentram em fazê-lo fornecendo recursos e segurança material. É absurdamente injusto colocar seu papel como inferior ao da mulher por isso. Também acho injusto colocar como superior, mas querer inverter as coisas e colocar como inferior é ir longe demais. Mas mesmo fora da família e na sociedade em geral, se por um lado mulheres escolhem profissões nas quais se dedicam a cuidar dos outros de uma forma afetiva e yin, os homens se dedicam a cuidar dos outros de uma forma agressiva e yang. São as mulheres que estão lá dando comida da boca dos idosos e das crianças, e isso tem sim enorme valor humano, mas enquanto isso são os homens que entram em prédios em chamas para salvar as pessoas de morrerem carbonizadas, com risco real de sua própria vida! Os homens sentem um chamado tão real e abnegado quanto as mulheres para cuidarem dos outros, só que as formas que eles encontram de fazer isso são diferentes das que as mulheres encontram. Eu acho extremamente injusto dizer que os homens não pensem nos outros, ou que eles não tenham capacidade ou vocação para abnegação. Note, reitero que em nenhum momento eu estou dizendo que o valor dos papéis que as mulheres arquetipicamente buscam (ou seja a elas imposto) tenha valor menor do que os que os homens arquetipicamente buscam (ou seja a eles imposto), mas estou sim defendendo que inverter a equação incorre no mesmo tipo de julgamento generocêntrico cego e chauvinista de que as mulheres buscam modernamente se defender. Então eu não estou defendendo que o papel – tanto em princípio quanto na prática – que as mulheres se sentem chamadas (ou coagidas) a cumprir seja fácil ou florido. Mas o dos homens também não é.

A mulher moderna média numa sociedade ocidental provavelmente não tem em geral idéia da quantidade de questões das quais ela está protegida e que o homem médio tem de lidar diariamente ao interagir com o mundo. Se ela pudesse passar qualquer período de tempo na identidade de um homem, compreenderia bem melhor várias das coisas aparentemente bizarras que os homens fazem.  A maioria dos homens não vai sair por aí dizendo isso abertamente porque os coloca numa posição muito vulnerável, mas o homem médio é muito mais solitário do que a mulher média. As mulheres estão acostumadas a receberem um certo nível básico de carinho e atenção praticamente incondicionais só por existirem. Similar ao que quase todos nós recebemos quando crianças. Mas os homens crescem e de repente descobrem que a reação social padrão, se eles não tomarem a iniciativa, tornou-se ninguém mais querer ter nada a ver com eles. A condição default do homem padrão é um isolamento atroz que só é superado com muita perseverança. E somado a isso encontram-se inundados de hormônios que gritam, berram, exigem acesso a sexo. Acho que a mulher média não tem a mais remota idéia do quanto é desagradável para um homem típico não ter acesso a sexo. Mas olhe em volta e veja os sintomas – veja do que os homens são capazes para obter acesso a sexo. Então sim, o homem moderno é basicamente um ser fadado à solidão e geneticamente assolado por uma dor medonha… a qual por outro lado essencialmente qualquer mulher do mundo tem o poder quase místico de fazer passar. Então quando achar que um homem está sendo bruto, ou caótico, ou agressivo, ou mandão… tente entender quão complexo é ser um homem, e ao mesmo tempo quão fácil é fazê-lo feliz, e quão imensamente grato ele ficará se você escolher cuidar dele usando com amor e generosidade recursos simplíssimos ao alcance de qualquer mulher do mundo. Ambos os sexos precisam tratar o outro com gentileza e estarem atentos às necessidades e aspirações que a sociedade tradicionalmente exige serem reprimidas em nome de se conformar ao seu gender role. Ambos os sexos precisam de ajuda para fazê-lo. Está na hora de os homens começarem a recebê-la também.

13 Responses to “Homem, Sexo Frágil”

  1. Thiago says:

    Deus… ou melhor, Sergio, obrigado por esse texto! Senti-me menos sozinho e melhor entendido com ele. Sim, somos o sexo frágil.

    • Bom saber que o texto faz alguém se sentir mais compreendido. Eu mesmo me senti muito mais compreendido ao encontrar textos similares escritos por alguns autores modernos; eles me colocaram para pensar enormemente. Eu nunca senti qualquer vontade de antagonizar, dominar ou de qualquer outra forma oprimir ou subjugar as mulheres (ou aliás quem quer que seja), e me ressinto de ver por vezes num automatismo ideológico minha masculinidade ser assumida como portadora e agente de algum tipo de maldade, estupidez ou falta essencial de humanidade que precisaria ser controlada, neutralizada, esterilizada.

      Saudações,
      Sergio

  2. Interessante sua análise, mas creio que considera o aspecto meramente ideológico da argumentação opressiva. Diria que o coitadismo reinante no mundo feminista é tão somente a exteriorização de outras regalias então já conquistadas, mas que a longo prazo se mostraram irrelevantes e irresponsáveis. Não é questão de percepção social e independência financeira; falo, antes, de uma percepção meramente competitiva que culmina no antagonismo homem/mulher, rivalidade social e competitividade conjugal, que é em regra algo destrutivo, mas ideologicamente justificável à mulher.

    • Eu acho que o ponto central no qual o feminismo mais ortodoxo (ou pelo menos mais politicamente ativo) erra é justamente em colocar a mulher como “dominada” pelo homem, e o processo de libertação de um gender role opressivo como libertação dos homens. Isso é extremamente antagônico, raivoso, contraproducente, e talvez até meio surpreendentemente, nem sequer corresponde concretamente à realidade por uma quantidade enorme de critérios bastante objetivos. E nesse paradigma, algumas das “liberdades” que as mulheres almejaram conquistar foram na direção de imitar comportamentos masculinos destrutivos que em imitados não as estariam libertando de coisa alguma, apenas tornando-as prisioneiras de um outro gender role também insatisfatório. Homens e mulheres precisam *ambos* ajudarem um ao outro a se libertarem da camisa de força dos papéis opressivos que a biologia, a sociedade, a historia, a cultura tentam lhes impor.

      Saudações,
      Sergio

  3. Vinícius Cortez says:

    Ótimo texto, Sérgio! Bem na linha de um que vc já tinha postado antes, bastante tempo atrás, mas este está mais completo!

    Agora me passou uma ideia bem politicamente incorreta pela cabeça. Sempre tive a impressão de que o número de homossexuais masculinos era mais pronunciado que entre as mulheres. Para lá de todo julgamento hipócrita de certo ou errado, natural ou não, que se poderia fazer sobre isso, vc acha que esse problema apontado por vc, essa constante frustração dos homens em precisar de sexo e não conseguir, pode influenciar nisso?

    Quer dizer, seria muito errado pensar que alguns homens, não por preferência de nascimento, desistam de se relacionar com mulheres por causa do modelo social frustrante que precisam seguir com elas?

    • Oi Vinicius,

      Olha, com relação à homossexualidade, eu acho que não. Eu acho que isso é algo que é tão profundo na identidade de um ser humano que não dá simplesmente para escolher, por mais frustrado que se esteja. E além disso me parece – posso estar errado – que homossexualidade não é um fenômeno que tenha sofrido algum tipo de pico moderno de ocorrência, hipoteticamente derivado de uma nova dinâmica de relação entre sexos. Se algo mudou foi que hoje se fala muito mais abertamente disso.

      Isso tendo sido colocado, eu de fato vejo sim reações radicais dos homens a esse modelo social profundamente frustrante. Uma delas, diante da privação de acesso a sexo e contato e afeto humano, é pura e simplesmente o suicídio. Se a taxa de suicídio entre homens já é universalmente maior do que entre as mulheres, a taxa de suicídio entre homens após um divórcio é ainda mais incrivelmente superior do que entre as mulheres após um divórcio.

      Agora, se por um lado eu não acho que considerar a homossexualidade como caminho para acesso a sexo e a uma relação emocionalmente recompensadora seja uma opção psicologicamente viável para a maior parte dos homens heterossexuais, eu vejo sim claramente que muitos homens modernos escolhem nem sequer tentarem se relacionar com NINGUÉM como reação extrema a um gender role opressivo, frustrante e destrutivo no qual não querem se colocar.

      E aí nós vamos parar em coisas extremas como esta :
      http://www.youtube.com/watch?v=gqUhuXzHnYY

      Claro, é possivel – e obrigatório – questionar quão representativa (ou mesmo heterossexual) seria a sexualidade deste sujeito, e quão preparado ele estaria para ter uma relação afetiva com algo que não fosse um objeto, mas note-se que por outro lado essa relação que ele construiu implica em um comprometimento considerável em *cuidar* de algo, em tratar alguma entidade signiticativa em sua vida com carinho e atenção, e isso dá trabalho e consome energia. Muito nitidamente ele NÃO estava buscando somente algo macio com furos, e o tipo de recompensa emocional e vazio afetivo que ele preenche dessa forma vão muito além do ato sexual em si.

      Saudações,
      Sergio

  4. Pedro Bruno says:

    Sergio, nossa… Não vou dizer que é um ótimo texto, excelentes escritores estão fadados a isso. Você expressou, com palavras, algo que eu sempre pensei. Não vou fazer um comentário pseudo-erudito, tentando ganhar sua atenção e comentários como vi em alguns comentários. Você foi incrível nesse artigo de opinião. Mas você polemizou muito. Estou ansioso pelos comentários desse texto…

    E obrigado por nos presentear com esse nível de texto. De verdade.

    • Oi Pedro,

      Opa, valeu. Infelizmente esse assunto é muito pouco discutido. Seria preciso trazê-lo um pouco mais para o centro do debate público, porque (na minha opinião) ele é crucial para construirmos uma sociedade mais equilibrada!

      Saudações,
      Sergio

  5. Cidadão Preocupado says:

    Se os gender roles tradicionais são opressivos, vamos virar gays e lésbicas. Oh, mas gays e lésbicas se suicidam ainda mais que os outros. Ach scheiß!

    • Cidadão Preocupado,

      Para começar, não confundamos “gender roles”, que são um construto social imposto a cada um de nós, com as dificuldades intrínsecas de ser homem ou mulher, ou heteressexual ou gay, ou de ter uma personalidade individual para começar.

      Mas ok, vejamos, supondo que gays se suicidem mais do que não gays – eu não sei e isso é verdade, mas supondo que seja – qual seria a causa mais provável para isso? Não parece absolutamente óbvio que o fator número um de estresse psicológico para um homossexual é a pressão social insuportável para que ele se enquadre e adote um gender role tradicional – nesse caso especificamente no quesito “você só deve se interessar por pessoas de sexo oposto”? Esse argumento só reforça o meu ponto original – de que existe algo quebrado na forma como a sociedade trata gender roles, e exige que as pessoas se violentem para cumprir um papel estereotípico desumanizante.

      Se nós tivéssemos liberdade de escolher agir de forma desviante do gender role tradicional sem uma fortíssima reação social não haveria a questão para começar. A estrutura do seu argumento é : Ah, quer dizer então que as pessoas deveriam ter mais liberdade para escolherem seu gender role? Então como é que as que tentam exercer essa liberdade encontram problemas? E a resposta é que minha crítica está justamente no fato de que quem tenta exercer essa liberdade – gays ou não – ativa instantaneamente fortíssimos mecanismos de controle social.

      Saudações,
      Sergio

  6. Romero says:

    Muito bom texto. Notem que existe muito mais lealdade nas amizades masculinas do que nas femininas. Talvez seja uma maneira inconsciênte de compensar isso, nas relações sociais masculinas.

    • Eu acho que um parte do que talvez ocorra é que as mulheres hoje em dia estão em uma posição tão socialmente assimetricamente confortável comparada com a dos homens que a mulher média tende a não dar grande valor a preservar ou cultivar seriamente suas relações afetivas – seja de amizade ou românticas – com quem quer que seja. A situação degenerou para uma dinâmica em que uma mulher sabe que se quiser receber atenção, afeto ou validação gratuitos basta ingressar em qualquer ambiente social. Do homem espera-se que forneça isso tudo sem esperar absolutamente nada em troca, e ai do homem que espernear, reclamar, ou observar “epa, peraí, isso é injusto”. Se fizer isso, será imediatamente e agressivamente taxado de perdedor, de chorão, de fraco, e muito ironicamente de… pouco masculino. Claro, ter sentimentos é pouco masculino, certo? Então impõe-se ao homem esse padrão desumanizante de conduta social para depois reclamar que os homens são… brutos e insensíveis? Violentos e agressivos? Como é que é?

      Mulheres do mundo, aquelas entre vocês que estão em busca de um COMPANHEIRO e um AMIGO ao invés de um eletrodoméstico cuja função é fornecer sexo, carinho e companhia *quando* e *se* vocês estiverem afim e cujo papel no resto do tempo é não encher o saco… não esperem que um homem com qualquer grau de sensibilidade e vida interior possa cumprir esse papel sem ficar profundamente insatisfeito. Note-se que essa crítica é fantasticamente similar a que as próprias mulheres, cansadas de serem objetificadas, levantaram (com razão) reiteradamente no passado.

      E para aquelas mulheres que acham explicitamente que não precisam fazer sua parte na relação porque o mercado está favorável e os homens não podem se dar ao luxo de estabelecer limites ou condições… bem, isso é (1) evil e (2) condutor a uma relação ridícula na qual não existe qualquer cumplicidade. Boa sorte em ser feliz tratando as pessoas como commodities.

      Agora, claro que muitas pessoas – homens e mulheres – NÃO ESTÃO buscando cumplicidade para começar, não estão buscando compartilhar coisa alguma, nem se darem a conhecer, e muito menos fazer quem quer que seja feliz; estão pensando apenas pragmaticamente em si mesmos e em como aquela relação satisfaz às SUAS necessidade. E nesse caso minhas ressalvas causarão apenas bocejos. Soarão como tentar iniciar um debate sobre imperativos éticos como forma de evitar um estupro. Não, nesse caso meu conselho é para os outros. Eu sugiro que é suicida e indesejável para qualquer um – homem ou mulher – continuar investindo na idéia de desenvolver uma relacão séria e profunda com alguém que pense assim.

      Saudações,
      Sergio

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