Coisas Estranhas em Nova York

August 9th, 2008 by Sergio de Biasi

Há muito tempo penso em fazer uma lista aleatória de coisas que são diferentes do Rio de Janeiro em Nova York, mas só agora finalmente sentei para de fato escrever. Mais uma vez, são coisas que nem sequer questionamos até vermos que elas poderiam ser diferentes. Então, sem nenhuma particular ordem ou relevância, lá vai :

As paredes são de papel
Tente pregar qualquer coisa que pese mais que uma pena na parede e cairá tudo no chão abrindo um rombo. As paredes são feitas literalmente de papel com gesso ou algo similar, um negócio que eles chamam de drywall. Então para pregar prateleiras, por exemplo, você tem que achar as vigas que sustentam a parede e aparafusar nelas, atravessando o drywall. Mas como é que você vai saber onde estão as vigas, para começar? Bem, felizmente estamos em tempos suficientemente modernos que você possa comprar um detector eletrônico de vigas na loja de hardware mais próxima.

Os prédios são de aço
No Brasil a forma padrão de se construir um prédio com mais do que um ou dois andares é utilizar concreto armado e lajes. Não aqui. A estrutura interna do prédio é toda de vigas de aço, e os andares são feitos com chapas de metal sanfonado. É estranho ver um prédio em construção aqui – é completamente diferente.

Os banheiros não têm ralos no chão
Isso mesmo. O chão do banheiro não tem um ralo em lugar algum. Não existe isso de lavar o chão jogando um monte de água; você usa um paninho. Quero dizer, na maioria dos casos, você não usa coisa alguma, porque aqui empregada doméstica é coisa de rico e quem é que tem tempo de ficar lavando o chão do banheiro? Aliás, a maioria das pessoas nunca em tempo algum lava as janelas.

Bidês são desconhecidos
Ninguém aqui jamais ouviu falar em bidês. Nem sequer existem para vender.

Não existe porta no chuveiro
Exceto em lugares extremamente luxuosos e altamente atípicos, todo chuveiro americano é isolado do banheiro por uma cortina de plástico.

Os preços anunciados não são os que você paga
Aqui quando você vê na prateleira algo com o preço “dez dólares”, pega e vai até o caixa pagar, o preço que você efetivamente paga pode ser qualquer coisa. É costume aqui não incluir entre outras coisas os impostos (que variam com a localidade e com o produto, então é impossível prever) no preço anunciado, então você só sabe o preço que vai realmente pagar ao chegar no caixa. Logo que cheguei isso era uma surpresa constante. Eu sempre acabava gastando mais do que o planejado. Isso pra mim é maluquice. Exceto como forma de constante conscientização política, quero lá eu saber qual seria o preço sem impostos? Quero saber é quanto vou pagar… Mas o mais interessante é que isso é sim em parte uma atitude de hostilidade com relação aos impostos. Outro dia eu estava fazendo cópias de umas chaves e o velhinho ao terminar me disse “it’s 5 dollars plus the tip to the governor”.

É permitido avançar o sinal vermelho para dobrar à direita
Aliás, é permitido fazer um monte de coisas que no Brasil deixariam as pessoas de cabelos em pé. Tipo, espera-se constantemente que você use seu próprio julgamento para não fazer bobagens. Tem havido uma tendência cada vez maior para o estado virar babá do cidadão, mas ainda há uma herança muito forte de autonomia individual, tipo até você começar a abusar da sua liberdade, você pode fazer um montão de coisas.

Não é possível falar no celular no metrô
Pelo menos não em Nova York. Que é o maior sistema de metrô do mundo. A burocracia e guerra política para decidir quem instalaria o sistema e quanto custaria foram intransponíveis a ponto de nunca ter sido feito. Isso é em parte resultado do fato de que o metrô aqui está sob administração (blargh) da MTA, uma empresa semi-governamental absurda que todos odeiam.

É possível sacar dinheiro de qualquer banco em qualquer caixa eletrônico
Basicamente, qualquer ATM serve a qualquer banco. Não tem essa de procurar uma agência do seu banco. Ah, e existem ATMs em todos os lugares possíveis. A birosca do chinês da esquina tem um ATM no canto.

Não existem assaltos
Isso é obviamente um exagero, claro que existem, mas em três anos eu nunca passei nem perto de algo que parecesse motivo para me preocupar, e não conheci, encontrei ou conversei com nem uma única pessoas que tenha sido assaltada. Isso faz uma diferença que não dá nem pra descrever na qualidade de vida. Os prédios não têm grades em volta e as janelas dão para a rua. As pessoas usam laptops no metrô, no bar, no banco do parque sem qualquer preocupação. Anda-se pela rua bem vestido e com uma bolsa no ombro às três da manhã e nada acontece. Entra-se no banco pela porta da frente (não por uma porta giratória cheia de guardas de tocaia) e ninguém olha duas vezes pra você. Em contraste, acabo de passar um único mês no Brasil e roubaram meu celular no centro do Rio em plena luz do dia.

Paga-se para receber ligações no celular
Embora eu já tenha acostumado, a princípio isso foi um choque. Você paga basicamente pelo tempo em que está usando o sistema de telefonia, não interessa o motivo. Claro que dependendo do que estiver fazendo (tipo uma ligação internacional) há taxas adicionais, mas cada minuto em que você está conectado tem uma tarifa. Ah, e isso vale para mensagens de texto também. Então se alguém te manda uma mensagem de texto indesejada, ou se você recebe um telefonema com número errado, você paga assim mesmo. Que tal?

Eu provavelmente poderia pensar em mais coisas mas acho que já está comprido que chegue no momento…

6 Responses to “Coisas Estranhas em Nova York”

  1. any says:

    Muito bom. Quando chegar em casa vou comentar sobre outras coisas que observei também – agora estou no parque, onde, a propósito, as mulheres tomam sol de biquíni na grama e as pessoas navegam na internet pelo celular :)

  2. Puxa, eu amei este post. De verdade. Achei genial. Fiquei super curiosa para saber um pouco mais sobre a liberdade que você fala que não temos muito aqui no BRasil, tipo de passar no sinal vermelho para virar a direita. Faz um post sobre isto? Depois me dá um toque para eu ler.

  3. Carla Cristinac says:

    Sabe que eu chego a pensar que somos bem civilizadinhos? :-)

  4. Jorge Campos says:

    gostei do blog, fiz o teste apareceu que sou centrista, hehehe, acho que essa termologia ofendeu a minha liberdade pessoal ao me pôr em um grupo com respostas fechadas, brincadeira à parte, vou tentar ler o blog qse todo antes do final da eleição, quem sabe eu mudo alguma coisa aqui na minha cidade :P

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