Canibalismo Socialmente Chique

April 23rd, 2009 by Sergio de Biasi

Uma das minhas maiores críticas à religião é o quanto (com raras exceções como certas variações do budismo) ela não só encoraja como literalmente exige do sujeito que desligue o seu senso crítico e a sua consciência e siga cegamente o que os líderes religiosos proclamam.

Muitos religiosos talvez se levantem para dizer que não é nada disso, que a religião é compatível com o senso crítico e com a consciência individual, etc, mas eu estou cansado de argumentar esse ponto. Não, não é. Para se juntar a quase qualquer religião, você tem que prometer que vai acreditar cegamente no que algum (ou alguns) líder religioso disser. Por exemplo, se você resolver se juntar à religião muçulmana, você tem que acreditar no que Maomé disse, como interpretado por Ulemás e coisas parecidas. Se seu senso crítico e sua consciência disserem que pensando bem sobre tal e qual ponto Maomé estava errado, nada feito. Quem está errado é você.

Isso não só gera uma deturpação patológica do senso individual de ética como faz com que as pessoas sejam forçadas a viver num mundo esquizofrênico em que seu modelo de mundo não tem nada a ver com a realidade concreta enquanto seus atos e escolhas de fato ocorrem na realidade concreta. Enquanto as pessoas estão só achando que estão falando com seus antepassados no centro espírita isso ainda pode parecer mais ou menos inofensivo, mas quando começam a querer se curar de câncer com operações espirituais deixa de ser engraçado.

Somando as duas coisas – viver num mundo de fantasia e seguir cegamente as intruções dos líderes religiosos sobre moralidade – resulta em que é possível induzir uma pessoa seriamente religiosa a fazer praticamente qualquer coisa, por mais grotesca que seja, e ela o fará não só acreditando que era a coisa certa a fazer, como que era absolutamente necessária.

Então num contexto religioso vários comportamentos que em outras circunstâncias seriam encarados como no mínimo estranhos e em vários casos francamente patológicos tornam-se não só aceitáveis como normais e até virtuosos. Aí repentinamente condenar à morte uma mulher que foi estuprada (por ter tido sexo sem ser casada) torna-se um ato moralmente justo e necessário. Não que seja impossível esse tipo de situação acontecer sem religião; sempre haverá pessoas com preconceitos absurdos querendo realizar atrocidades. Mas a religião provê um arcabouço cultural e psicológico para validar e incentivar tais aberrações, dizendo “não olhe para este ato de violência em si mesmo, enxergue como o significado transcendente dele num contexto maior é na verdade positivo”. Daí as pessoas saem a fazer coisas que sem a validação provida pela religião muitas vezes elas mesmas encarariam como altamente duvidosas.

Imagine por exemplo se eu propusesse uma religião com as seguintes características. Periodicamente nós vamos nos reunir num ritual em que encenaremos canibalismo enquanto simultaneamente usamos drogas. Como parte do ritual, seremos informados e lembrados sobre que opinião devemos ter sobre determinados assuntos. Ter opiniões contrárias não é uma opção; estaremos literalmente sendo instruídos sobre qual deve ser a nossa opinião, como revelada diretamente pelo criador do universo aos nossos líderes religiosos, e reportada a nós por um líder religioso presente, e como parte do ritual pode-se pedir de nós que declaremos solenemente que de fato acreditamos nessas verdades sobre as quais fomos instruídos. Deixar de seguir as conseqüências lógicas de tais opiniões, ou mesmo conhecê-las, porém, não é o que realmente se pede de nós. Se formos extensamente ignorantes sobre em que deveremos acreditar e mesmo se agirmos de forma precisamente contrária, tudo estará bem, desde que reafirmemos nossa convicção de que acreditamos que essas são as opiniões certas. Não existe crime maior, porém, do que questionar essas opiniões; é parte fundamental do sistema de pensamento desta religião que não seguir cegamente seus líderes indica uma falha moral absolutamente indesculpável, imperdoável e intolerável que será punida pelo criador do universo com, literalmente, tortura por toda a eternidade, ou mesmo com tortura e morte neste mundo nos casos em que houver poder político para tanto.

Eu poderia continuar, mas acho que já está bem ilustrado. O que eu disse acima, evidentemente, descreve alguns aspectos de um subconjunto dos rituais praticados na religião católica. Uma parte substancial do que ela faz e ensina seria encarado com horror e repúdio se apresentado em qualquer outro contexto. Mas doses maciças de lavagem cerebral e de pretender oferecer respostas a questões fundamentais para as quais não existe realmente uma resposta conseguem tornar socialmente aceitável que pessoas sob outros aspectos normais e razoáveis se reunam semanalmente para encenar canibalismo.

38 Responses to “Canibalismo Socialmente Chique”

  1. Aline says:

    Se eu entendi, vc é ateu(? )…Defina ateísmo.

  2. barney says:

    Francamente d´Biasi, nessa vc se superou…
    Primeiro tenta colocar todas as religiões no mesmo saco esfarrapado. Esfarrapado sim, por ser notória a fragilidade do mesmo, não resistindo a qualquer aprofundamento na matéria que lhe exigirá, por conseguinte, resistência. Só sendo possível impedir o rompimento desse saco, se, com cuidado- como vc fez- for feita a opção pela superficialidade.
    Esse seu posicionamento sobre a religião católica só pode ser fundado numa atenta e brilhante formação nas escolas do Brasil. Que interpretação é essa? Nota 10 em humanas! Sei, vc estudou em colégio católico. Sei, vc se formou uma universidade católica. Vc já foi a um hospital. Vc sabe que existem asilos e orfanatos e acredita na importância dos mesmos. Vc acha que as mulheres devem ser respeitadas. Vc exige que todos sejam respeitados independente de classe, cor ou sexo. Vc acredita na conciliação. Vc acha que o perdão é uma via a ser considerada. Assim sendo Sérgio, mesmo sem perceber, vc vive em um mundo católico. A não ser que a barbarie retornou… sem perceber, vc é um paradoxo ambulante.

  3. barney says:

    A convicção dos ateus é limitada até o ponto em que se sentem ainda confortáveis sob o pálio da estrutura social formada pela crença em um Deus . Após, na hora de por em prática os seus fundamentos e “razões”, se acovardam. Se aproveitam de toda a estrutura , para ficar articulando teorias inexequíveis. Lamentável tanta fanfarronice. Desarticulem tudo e voltem os barbaros, ou melhor, os barbaros limitados pela legalidade, ou ainda, barbaros com respeito pelo homem, pode também, barbaros racionais, quem sabe, barbaros educados em escolas rígidas, melhor ainda, barbaros sem pecado.
    Acorda, mais informação e menos rebeldia!

  4. Fernando Carneiro says:

    Se há dois canibalismos socialmente chiques hoje em dia, seriam o primeiro o aborto de crianças – chique por ser visto como emancipação feminina – e o segundo a crítica da autoridade católica – chique há uns quinhentos anos.

    Aliás, juntando os dois assuntos, você na sua crítica aos anti-abortistas distingue o ser humano como portador de uma consciência, coisa que o
    feto não possui ainda desenvolvida, e coisa que você não enxerga nos religiosos – a consciência. Isto fica meio ambiguo: se você é a favor ou
    contra a perseguição dos religiosos, pela falta de uso da consciência. Já imagino a sua resposta: não. Mas esta ambiguidade continua no seu
    discurso, que decreve católicos e religiosos como tendo menos humanidade (consciência) que ateus.

    Quanto ao canibalismo católico, a dizer: se você é ateu, estão comendo pão e vinho, se você é católico, está comendo um corpo vivo, que não está morto no pão e no vinho, e que a doutrina não supõe que morre quando você come, ao contrário do que ocorre no canibalismo real, em que você come uma vítima morta. Não só isso, é curioso que no mundo moderno pouco se diga contra as culturas em que há canibalismo, há muito mais a defesa de que sejam respeitadas essas culturas a ponto de que se defenda sua permanência. É engraçado até, você é contra o canibalismo, bata na Igreja Católica; é contra o terrorismo religioso, hoje em dia praticado no Ocidente por muçulmanos em sua grande maioria, bata na Igreja Católica. É a religião moderna, o canibalismo moderno: bater na Igreja Católica, nos católicos. Está na cartilha do mundo moderno.

    Voltando às cartilhas, ao seguimento cego de líderes religiosos, você não estaria seguindo Dawkins e similares com a mesma cegueira? Não os segue em suas visões caricaturais do que é a religião, em particular a católica? Não os segue quando afirma que Hitler era católico? Isto quando os depoimentos de quem fez parte das altas esferas nazistas afirmam que o nacional socialismo era, dito por Hitler, baseado em Karl Marx. Era tão católico quanto qualquer político que se declara católico para atrair o apoio de católicos, como Lula hoje em dia, por exemplo.

    Na verdade a autoridade faz parte de todo circulo de conhecimento. A comunidade científica se baseia na autoridade. Autoridade de quem chegou antes e resolveu problemas, aos quais se reportam os que chegam agora à comunidade científica. Seria injusto dizer que as pessoas seguem a cartilha da comunidade científica quando seguem as regras para se tornar cientistas e mantém sua confiança nos resultados e métodos dos cientistas anteriores? Porque mesmo quando contestam um ou outro resultado, alguma coisa é mantida: outros resultados, o método, etc, isso sem grande conhecimento material de tudo o que foi feito antes e é feito no momento, pois seria materialmente impossível dada a imensa quantidade de trabalhos – aliás, alguns hoje em dia tocam neste problema. Não seguiriam os biólogos evolucionistas a cartilha de Darwin, cuja autoridade não é grandemente contestada pela
    comunidade científica, mesmo sendo poucos, se os há, que conhecem boa parte do que ele escreveu?

    No fundo, o conhecimento funciona assim: muita gente antes de você pensou sobre o que você quer pensar, e faz parte se reportar a essas discussões anteriores, às autoridades sobre tais assuntos. Consciência, conhecimento, autoridade intelectual, são todas partes da mesma moeda, e você finge que do lado católico há só a autoridade, e do lado científico, moderno, ateu, há só a liberdade de consciência.

    Fica a questão de se a consciência do indivíduo para você é isso: é o indivíduo que em sua consciência cria uma opinião do que é catolicismo,
    e cria um jogo em que critica esse catolicismo, e em sua cabeça sai lindamente vitorioso, e que se vier depois algum doido que decida a pena do julgamento que você fez – perseguição, talvez – tudo bem, foi outra consciência que fez, você não tem nada com isso, não é mesmo? Porque o problema me parece ser este, no fundo: você quer julgar a tudo e todos, o mundo, mas Jesus é a concorrência.

  5. Otávio Macedo says:

    Sergio,

    Leio sempre os seus posts e invariavelmente concordo com as suas opiniões. Não obstante, ultimamente tenho lido vários textos de Olavo de Carvalho, que apresentam uma visão diferente das que eu conhecia sobre de Deus, religião e coisas do gênero.

    Por exemplo: segundo ele, Deus seria algo como o princípio metafísico de toda existência. Todas as religiões (e nisso ele cita René Guénon) são manifestações históricas e culturais de uma mesma Tradição transcendente a todas elas. As religiões seriam responsáveis por transmitir, de geração em geração, o conhecimento de Deus, mas do modo mais apropriado a cada cultura em particular. Assim, o Cristianismo seria mais adequado para os ocidentais, o Islamismo, para os árabes e assim por diante. Os dogmas e a fé seriam apenas artifícios secundários para levar esse conhecimento às camadas menos letradas das sociedades, que de outro modo não teriam acesso direto aos princípios metafísicos que fundamentam esse conhecimento.

    Diante dessa perspectiva, não acreditar em Deus ou achar que as religiões são uma idéia perigosa não faz muito sentido. Por outro lado, a idéia de um Deus antropomórfico, cheio de defeitos humanos, que ouve preces e castiga os homens me parece ao mesmo tempo ingênua e perversa.

    Bem, como pode perceber, minha ignorância no assunto me impede de defender uma lado ou outro da questão. Limito-me senão a contrapor os argumentos (e esses do Olavo são os únicos que já encontrei a favor de Deus que façam algum sentido).

  6. Sergio Luís says:

    Caro Sergio,

    Acreditar que existem anjos, demônios, paraíso e inferno é questão de fé. É crer, com Tomás de Aquino, Anselmo de Aosta, Agostinho e outros, que “la realidad total es mucho más vasta de la que aprehendemos con el simple conocimiento natural, basada solamente en experiencias sensibles, razonamientos inductivos y deductivos y en el cálculo matemático”, e que “es indispensable que no ignoremos jamás las auténticas dimensiones de lo existente”.

    Para continuar na linha do “parece auto-ajuda”:
    “Cuando en ciertas ocasiones se apodera de nosotros la depresión y el desaliento a causa de lo que sucede bajo el cielo, dentro y fuera de la cristiandad, el remedio más efectivo frente a tal espectáculo decepcionante consiste precisamente en repensar en la efectiva extensión del universo, que comprende justamente el mundo invisible, ese mundo invisible que ya ha vencido al mal y que ya es nuestro; ese mundo invisible que está lleno y exuberante de una energía sobrehumana de la que (inclusive también cuando no nos damos cuenta) la tierra está revestida sin tregua.”

    Tudo que está em espanhol é de uma homilia do Cardeal Biffi, em: http://chiesa.espresso.repubblica.it/articolo/1338134?sp=y

    Quanto aos milagres, deixo a palavra com o Olavo: http://www.olavodecarvalho.org/semana/081225jb.html

    Quanto à questão da submissão da consciência às autoridades eclesiásticas, relembro a famosa palavra do Cardeal Newman: ‘Se for obrigado trazer religião para dentro de brindes depois da ceia, beberei – para o papa se quiseres – todavia, à consciência primeiro, e ao papa depois’, cardeal esse louvado por outro cardeal, Joseph Ratzinger, Prefeito da Congregação para Doutrina da Fé, em 28 de abril de 1990:

    “De Newman aprendemos a compreender a primazia do Papa: a liberdade de consciência assim ensinava Newman com a Carta ao Duque de Norfolk não se identifica de modo algum com o direito de ‘dispensar-se da consciência, de ignorar o Legislador e o Juiz, e de ser independentes de deveres invisíveis’. Deste modo a consciência, no seu significado autêntico, é o verdadeiro fundamento da autoridade do Papa. De facto, a sua força vem da Revelação, que completa a consciência natural iluminada de maneira apenas incompleta, e ‘a sua razão de ser é o facto de ser o campeão da lei moral e da consciência’”.

    A Igreja não impõe sua autoridade a ninguém e nem força o homem a engolir dogmas de maneira arbitrária. O Concílio Vaticano II destaca a dignidade e a autoridade invioláveis da intimidade da consciência moral, especialmente no documento Gaudium et Spes. Sobre isso, cito literalmente palavras do Cardeal Hummes:

    “Destaco aqui a importantíssima doutrina da Gaudium et Spes sobre a dignidade da íntima consciência moral do sujeito humano. Diz o texto: “Na intimidade da consciência, o homem descobre uma lei (…), uma lei escrita por Deus em seu coração.

    Obedecer a ela é a própria dignidade do homem, que será julgado de acordo com esta lei. A consciência é o núcleo secretíssimo e o sacrário do homem onde ele está sozinho com Deus e onde ressoa a voz de Deus. (…) Pela fidelidade à consciência, os cristãos
    se unem aos outros homens na busca da verdade e na solução justa de inúmeros problemas morais que se apresentam, tanto na vida individual como social (…). Acontece não raro que a consciência erra, por ignorância invencível, sem perder, no entanto, sua dignidade” (GS 16). É, portanto, próprio da dignidade do sujeito humano, e seu dever seguir sempre sua consciência, mesmo quando ela se apresentasse errônea, por uma ignorância invencível. Neste último caso, então, supõe-se que tenha havido
    um prévio e normal esforço de formar retamente a consciência, buscando discernir o bem a fazer e a verdade a acolher, mas sem resultado positivo.

    Essa doutrina conciliar responde à exigência da modernidade de que a moral não pode vir simplesmente de fora sobre o homem, como algo exterior que o submeta, mas deve de alguma forma partir também de dentro do homem. A lei inscrita por Deus no coração de cada ser humano é esta raiz, esta voz da interioridade, esta cumplicidade interior, que é a capacidade de acolher as normas objetivas da moral, sem ferir a dignidade e a inviolabilidade da íntima consciência moral do homem, cujo primado deve prevalecer sempre na decisão moral, ou seja, o homem deve sempre seguir sua consciência, supondo-se que procurou formá-la retamente, também à luz da moral objetiva.

    Essa lei interior, inscrita no coração de cada homem, nos remete justamente ao que a modernidade chama de autonomia do homem, ou seja, ninguém pode submeter o homem, porque ele é um sujeito e não objeto, nenhuma norma lhe pode ser imposta (…)”

    Um grande abraço,
    Sergio Luís

  7. Arthur says:

    Essa questão sobre religião e senso crítico é um ponto-chave mesmo. Eu, por exemplo, nasci e fui criado numa família católica, ‘pratiquei’ durante vários anos, mas há um tempo finalmente usei meu cérebro e me afastei totalmente. Aquilo não fazia realmente sentido, era fruto da criação, era cultural. Lendo seus posts, tive um ‘estalo’ e percebi todos os absurdos que escutei todos esses anos. É realmente uma lavagem cerebral, sem nenhum exagero.

    Lembro que um padre uma vez, num sermão, falou que um casal foi até ele e falou que, apesar de frequentarem a igreja, não conseguiam acreditar na comunhão. O padre ficou escandalizado e falou, obviamente com outras palavras, que se aquele casal não acreditava na comunhão não podiam se dizer católicos.

    Ou o bispo que afirma que usar células-tronco embrionárias é pecado e errado, mas não tá nem aí se os fiéis sabem ou não o que é uma célula-tronco embrionária, só quer que repitam em uníssono. Aí está a questão entre os dogmas e o senso crítico dos quais você falou.

    Além disso, eu observo que a fé da maioria das pessoas é rasa, muito rasa. Acho que muitos jamais se questionaram sobre as próprias crenças. O resultado é que poucos sabem sequer fundamentá-las. Não adianta simplesmente citar a bíblia pra dizer que Deus existe, ou qualquer outro livro para justificar outra divindade.

    A bíblia, por exemplo, quem a escreveu? Se os religiosos atuais afirmam que Deus existe por causa da bíblia, então têm que acreditar num deus sádico; que pune e mata sua própria criação; que pune quem decide, por qualquer razão, não acreditar nele.

    Sem falar no conformismo, no “ah, eu quero tanto passar num concurso, mas ainda não consegui. Mas que seja feita a vontade de deus”. O sofrimento terreno é justificado se eu acreditar em uma vida depois desta. Aí eu não preciso pensar em ser totalmente feliz e satisfeito aqui, porque Deus garante minha felicidade no céu. Isso que é realmente triste. Sem contar o espírito vingativo do tipo “um dia ele vai pagar pelo mal que fez”.

    Quanto à questão do ateísmo, interessante sua distinção, Sérgio. O que eu percebo é que há, em geral, uma distinção um pouco simplória, do tipo “se você não faz parte de nenhuma religião, é ateu”, aquela forma meio pejorativa, sabe?, “ele é ateu, brr”. Pode-se discutir saudavelmente com uma pessoa dessas?

    Abraços,
    Arthur

  8. André Morais Filho says:

    “Atheism is indeed the most daring of all dogmas . . . for it is the assertion of a universal negative.” G.K. Chesterton

    Há também um excelente ensaio de Chesterton, onde ele afirma, ao comentar a antinomia entre razão e fé, que crer que o nosso pensamento está de acordo com a realidade já é um ato de fé, rs. O que você acha desta observação do nobre inglês?

    Abraços

  9. Fabiano Costa says:

    Você não acha que uma pessoa desesperada com uma doença considerada incurável pela medicina oficial tem o direito de, se quiser, buscar uma cura dita “espiritual”? Afinal, a esperança é a última que morre.

  10. Pesto Genovese says:

    Então tá. Acho que eu entendi.
    Esse blog é sobre o indivíduo, porque só ele tem consciência. Certo.

    Mas e aí? Alguém já viu alguma consciência? A ciência já explicou o que é, do que é feita, de onde vem e como existe? Já conseguiram replicar consciências em laboratório? Transplantar consciências? Já conseguiram incuti-la em quem não a tinha, como um cachorro, um urso ou uma árvore?

    “Mas PG, o que a ciência não fez ou não sabe até agora não significa que ela não o fará ou saberá no futuro! Basta esperar!”

    Hmm…. Alguém está sentindo cheiro de fé?

    Não seria o Livre Arbítrio , que é a própria consciência, uma das bases da experiência religiosa? (Bom, convenhamos, ao menos da Católica. Não sei defender os protestantes nesse ponto…)

    Mas por alguma razão, todas as pessoas cujas consciências resolveram apontar para a religião são consideradas inconscientes ou inferiores pelo autor.

    Quer dizer que o que vale mesmo é a sua (do Sérgio) consciência, e o resto do mundo está todo errado até que pense como você. O que vale mesmo é O Indivíduo, com maiúsculas, quer dizer, você mesmo. Quem não pensa como você não é indivíduo. Devo te chamar de Grande Guia ou de Mein Führer? Daí pra câmara de gás é um pulo….

    “Mas PG, a religião é dogmática, e um dogma não deixa espaço para a consciência. Já vem pronto e você é obrigado a aceitar!”

    Claro, porque alguém já pensou as conseqüências por mim. Se eu não aceitar tal dogma, isso significará tais coisas, racionalmente, que irão contra certos princípios ou deduções básicas da Religião, que foram descobertas, intuídas ou reveladas por outras fontes, mais confiáveis, certamente.

    Eu posso sentar e pensar sozinho o que a rejeição àquele dogma vai significar. Na maioria das vezes eu (PG) o faço, mas há situações em que não tenho cacife para isso. Tenho que confiar em alguém que a minha consciência diz que tem ou teve.

    Se não for assim, a ciência não significa nada, pois eu não consigo imaginar nem provar tudo que eu vejo ao meu redor. Não sou consciente dos átomos, mas eles estão lá. Alguém me falou e eu acreditei, por quaisquer motivos que eu achei justos na hora. Pudim de passas? E a teoria da relatividade? E o big bang como origem de tudo? E o aquecimento global? Ou você acredita, ou é pária, mesmo se sua consciência te diz que há algo errado ali. Eis a ciência e sua moral. No fundo, meu velho, a ciência é tão ou mais relacionada à fé que a religião.
    A ciência pode explicar as coisas pequenas muito facilmente, mas quanto mais abrimos o foco da questão, mais começam as adivinhações, os erros, as incertezas e o dogma científico….

  11. Fernando Carneiro says:

    Talvez eu devesse ter falado em violência e não canibalismo, que seria uma espécie de violência à natureza racional do ser humano. De qualquer forma é irônico que você seja tão sensível a violências em casos que envolvam católicos, mas não que envolvam idéias que te são caras, como a de não impor o que se acredita aos outros. No caso do aborto, o ataque à sua legalidade equivale, para muitos, ao ataque à legalidade do homicidio para determinado tipo de seres humanos. Não me parece ser este o seu caso, o de atacar a legalidade do homicidio. Mas de qualquer forma, é isso, você, como os religiosos que você critica, vê algumas violências como mais válidas, ou menos graves, que outras. Não precisa ser religioso para isso, não é?

    Quanto ao IRA, e ao Hitler, claro, devo ser um péssimo católico ao não perceber que o nacionalismo é um dos dogmas da Igreja. O IRA é nacionalista, e Hitler defendia a superioridade da raça ariana, a mesma de Jesus, não é mesmo? Afinal de contas o catolicismo é genético, passa de pai para filho, e pessoas criadas em meios católicos e que se tornam coroinhas nuncam deixam de ser católicas. Se Hitler se dizia católico, dizia que o nazismo era baseado em Marx, trocando a idéia de luta de classes pela luta de raças, e seus métodos de tomada de poder devem muito à tomada de poder dos bolcheviques na Rússia.

    A violência é parte da natureza humana. E todos os grupos humanos apresentaram alguma forma de violência. Agora, a mensagem cristã, de que todos são pecadores, e não deixam de ser por se tornarem cristãos ou católicos, que todos estão envolvidos na crucificação, que é vista como um momento vergonhoso inclusive dos discípulos de Cristo, é a que mais ajuda a evitar cair em violência, de todas, incluindo as crenças de grupos ateus. Não faz parte da pretensão da Igreja a de ser um grupo moralmente superior, e que por isso todos deveriam ser católicos, mas parece ser algo que você defende, a superioridade moral dos ateus. Aliás, superioridade moral que é um dos motores das violências coletivas desde há muito tempo.

    Eu acredito que você se aproveita de uma confortável posição: nos estudos das religiões não há muito a respeito do ateísmo, nem particularmente do ateísmo militante. Tem muitas semelhanças com os protestantes da época da Reforma. O moralismo, o ataque à autoridade eclesial, o desmembramento da Biblia, o entendimento raso dela sem nenhum critério de forma que ela possa servir de defesa de qualquer coisa que convenha ao sujeito. E guarda semelhanças com o exemplo de Galileu, que é seguido não no que ele fez para desenvolver a ciências, mas no ataque ao Papa através de uma peça de teatro por ele escrita em que denegria o pontífice como um aristotélico dogmático (até parece que este deve ter sido o grande avanço científico promovido por Galileu).

  12. Aline says:

    http://www.imdb.com/title/tt0050976/
    “Quero morrer, mas antes espero pelo conhecimento. É tão inconcebível tentar compreender Deus? Por que ele se esconde em promessas e milagres que não vemos? Como podemos ter fé, se não temos fé em nós mesmos? (…) Ninguém consegue conviver com a morte e na ignorância de tudo. Temos de imaginar como é o medo e chamar esta imaginação de Deus.”

  13. Ari says:

    Oi Sergio

    Tem uma questão que ainda não foi tratada aqui. O maligno. E aí?

    Agora, tratar de Deus pode ser um exercício de debate como está sendo aqui, ou, uma coisa séria. Quem quiser conhecê-lo, saber se realmente ele existe ou não, terá que enfrentá-lo, claro. Terá que falar diretamente com Ele. Ou você acha que o Cara que tudo fez e tudo sabe e tudo ver, não vai te escutar? Uma questão de lógica. Se Deus é isto mesmo que os crentes dizem, não precisa nenhuma discussão. É só se dirigir diretamente a Ele.
    Duvido quem tem medo do ridículo, do não saber ou de qualquer coisa além da razão pura tenha coragem de enfrentá-Lo.
    Você acha que precisa de “Religião” para sebê-Lo?
    A Religião é apenas uma instituição encarregada de levar a relação divina com o homem através dos tempos, e, é claro que, aonde se multiplicam os homens se multiplicam confusões. É da natureza intrínseca do ser humano. Mesmo assim, teremos que levar este fardo nas costas. No fim encontraremos o Criador pessoalmente com a nossa Religião na forma mais preservada que pudermos.
    Temos uma sede imanente de Deus.
    Somos um animal ritualista
    Fazemos rito com tudo.
    É a nossa cerveja “religiosa” aos domingos, o cafezinho depois do almoço, o cigarro depois do café, e tudo mais.
    Sendo assim, de rito em rito, o rito religioso, propriamente dito, se insere no contexto individual. A Religião é extremamente individual. Para cada ser criado há uma religião… isto é, uma religação com Deus, através de um ELO, individual. As instituições religiosas é um esforço monumental da humanidade de confraternizar-se na quase impossibilidade, não fosse por Cristo. E também de levar sua relação com Deus para as descendências, pelos séculos dos séculos.
    No mais, é lido nestes diálogos aqui muitas meias verdades, Sergio. Sostô você, tão meticuloso, pinçar fatos históricos da religião fazendo de partes o todo. Inútil essa discussão, a não ser pelo exercício.
    Você duvida, é?
    Não diga pra mim nem pra ninguém. Fale diretamente para Ele.

  14. Edson says:

    Não tenho o costume de escrever longos textos nesses comentários, e portanto não o farei…

    Como sou grande admirador de Kiekegaard, talvez por compartilharmos o mesmo instinto “dialético” , deixo a você, caro Ségio, este singelo paradoxo que me veio numa dessas noites mal dormidas: é,sim, perfeitamente possível viver sem Deus, mas é humanamente impossível não pensar Nele.

    Saudações

  15. AriAri says:

    Olá Sergio… Já falei o que tinha de falar. Mais agora, seria proselitismo.
    Só quero te dizer que gosto de você mesmo assim. Sigo oindividuo desde o começo, há uns nove anos, é isso? Vocês podem representar a ponta da esperança de Banânia – quem primeiro surgiu se estressando com o progressismo acadêmico. Às vezes parecem meio brutos, só parecem, mas é só o estresse de ser conservador no meio do mar coletivista, acho eu. Se te digo mais uma coisa, não leve a mal – nem publique para que outros também não levem a mal – não pense que estou xingando – É que, você e o Pedro às vezes parece meio caretas. Bem, essa palavra fala por si – não achei outra, desculpe – Mas, vocês são muito jovens e muitas águas vão rolar .
    Também, conservadorismo não combina exatamente com caretice, não.
    Porque esse medo de esquizofrenia? Oxe… Não conheço nem um “crente” esquizofrênico, a não ser uma família que tem problemas cerebrais mesmo, operam o crânio, tomam remédios e tal – Agora, ateus, materialistas, comunistas, esquizofrênicos diagnosticados, aí sim, eu tenho um monte nas minhas relações. Posso te contar a história de todos.
    Minha irmã é psicanalista e atéia, mais histórias.
    É dimensionar a mente subestimando e muito seu poder de percepção. Você vai amadurecer e perceber isso, mesmo que não seja para refletir a religião. Ainda terás outros milhões de argumentos contra a fé, os dogmas, e tudo mais, e, todos irão envelhecer e você buscará outros.
    Gosto muito é de seus posts vindos dos EUA, com as fotos, os comentários e tudo mais.
    Olha – Desejo sucesso, inspiração e muita felicidade neste ano.
    E, já que o Pedro não deixa link – transmita os mesmos desejos meus para ele-.

  16. Se eu entendi, vc é ateu(? )…Defina ateísmo.

    Oi Aline,

    Bem, essa questão de definir ateísmo costuma ser controversa. Eu diria que há gradações de posições que podem ser razoavelmente chamadas de ateísmo. Vou listar algumas sem a pretensão de explorar todas as possibilidades :

    - Achar ou querer que deus exista mas não ter certeza
    - Suspeitar que deus não exista mas não se achar autorizado a afirmar com certeza
    - Acreditar que é mais provável que deus não exista do que que ele exista
    - Ter certeza (além de qualquer dúvida razoável) de que ele não exista
    - Não só ter certeza de que ele não exista mas achar a idéia completamente absurda
    - Não só achar a idéia absurda como perversa e danosa.

    As primeiras posições na lista tendem a receber nomes como agnosticismo, enquanto que as últimas, nomes como anti-teísmo. Todas elas, naturalmente, gravitam em geral em torno da idéia de que deus não existe (e/ou que religião é uma má idéia, mas vamos deixar esse aspecto de lado para simplificar; o significado mais literal refere-se apenas à crença em deus).

    O problema é : o que significa dizer que “deus não existe” quando deus é um conceito definido de forma tão variável por uma quantidade tão grande de religiões? Novamente, para simplificar, podemos colocar da seguinte forma – ser ateu é de alguma forma questionar ou não acreditar na existência de deus em nenhuma das formas como ele é mais comumente descrito.

    Aliás, ironicamente, quem segue a sério alguma religião específica é perfeitamente ateu com relação a todas as outras definições incompatíveis de deus usadas pelo resto das religiões do mundo, e não vê qualquer problema com isso, aceitando e acreditando sem qualquer problema que tais outros deuses obviamente não existem, que são criações culturais, mitologia, etc. Ao mesmo tempo, tais pessoas conseguem freqüentemente escandalizar-se com um ateu não achar “óbvio” que uma certa versão específica de deus na qual elas crêem, ah, essa é completamente diferente de todas as outras e não só ele existe como obviamente existe e qualquer um que não esteja cego pelo preconceito e pela má vontade pode facilmente ver isso.

    Saudações,
    Sergio

  17. Isso é “promover o obscurantismo místico”?:

    A resposta curta é que sim, é. Esse argumento é como dizer que Hitler também estimulou os alemães a praticarem esportes.

    Note, não é necessário que exaustivamente tudo que alguém ou alguma instituição faça seja absurdo até o último detalhe para que mereça certas críticas. Como já dizia o Nélson Rodrigues, provavelmente até o Conde Drácula eventualmente dizia boa noite para seus vizinho ao voltar para casa satisfeito após uma noite chupando pescoços. Saindo do terreno da metáfora, o governo comunista soviético também provomoveu o progresso da ciência, assim como os nazistas. E os hospitais do governo de Cuba de fato trataram e tratam muitos doentes. Isso não elimina o absurdo essencial (e muito maior) das conseqüências menos lindas dessas ideologias. As quais aliás não se baseam em dizer “vamos sair matando pessoas porque isso é maravilhoso”; é construído todo um arcabouço de justificativas e explicações para explicar por que aquilo ali é bom.

    Então se a igreja decide financiar, digamos, um observatório, isso em si mesmo não é a parte que está sendo criticada. A questão é simultaneamente a isso continuar defendendo, ensinando e incentivando (em muitos casos exortando) as pessoas a acreditarem que existem anjos e santos e demônios e milagres e almas e paraíso e inferno e etc, etc, e pior ainda – porque não tem como ser de outro jeito – isso tudo com base em dogmas e na submissão da consciência pessoal ao julgamento das autoridades eclesiásticas. É aí que está a promoção do obscurantismo místico.

    Saudações,
    Sergio

  18. Aline says:

    Obrigada, Sérgio
    E em qual dessas posições que vc citou, vc se insere?
    Eu sou católica…aliás, vc já ouviu falar em Mário Sérgio Cortella?

  19. Primeiro tenta colocar todas as religiões no mesmo saco esfarrapado. Esfarrapado sim, por ser notória a fragilidade do mesmo, não resistindo a qualquer aprofundamento na matéria que lhe exigirá, por conseguinte, resistência. Só sendo possível impedir o rompimento desse saco, se, com cuidado- como vc fez- for feita a opção pela superficialidade.

    Não mesmo. As religiões do mundo têm fortíssimas raízes em comum e na maior parte dos casos só muda o grau de parentesco. Entre as cristãs (e existem muitas!) é até covardia, estão declaradamente no mesmo saco, que de esfarrapado não tem nada. Indo um pouquinho mais longe, o parentesco entre islamismo, catolicismo e judaísmo é evidente, muito forte, e nem um pouco misterioso ou secreto. E olhe que aí já temos uma boa parte da população do mundo. Mesmo se formos ainda mais longe, tanto em religiões atuais como históricas, encontraremos inúmeros parentescos fortíssimos em mitologia, imaginário, dogmas, rituais, e até nas origens. Então não, esse saco não tem absolutamente nada de furado, e só alguém desonesto ou com muito pouco conhecimento de religião poderia afirmá-lo.

    Obviamente que as religiões não são todas idênticas, e naturalmente que existem também religiões mais e menos atípicas, mas afirmar que não existem características recorrentes no fenômeno religioso em suas diversas manifestações é ridículo.

    Esse seu posicionamento sobre a religião católica só pode ser fundado numa atenta e brilhante formação nas escolas do Brasil. Que interpretação é essa? Nota 10 em humanas! Sei, vc estudou em colégio católico. Sei, vc se formou uma universidade católica. Vc já foi a um hospital. Vc sabe que existem asilos e orfanatos e acredita na importância dos mesmos. Vc acha que as mulheres devem ser respeitadas. Vc exige que todos sejam respeitados independente de classe, cor ou sexo. Vc acredita na conciliação. Vc acha que o perdão é uma via a ser considerada.

    Oh, claro, naturalmente, como se não existissem colégios, universidades, hospitais, asilos, orfanatos, respeito à mulheres, direitos, ou conciliação, ou perdão, etc fora do universo católico!! E isso vindo de uma religião que abertamente rejeita certos grupos como os homossexuais. Isso é precisamente a visão profundamente distorcida de que não existe possibilidade de bem ou verdade fora da obediência dogmática ao establishment católico. É o mito, em seu total esplendor, de ser portador de uma mística superioridade moral que não existe – que aliás é uma das características mais comuns e problemáticas da religião em geral, cada uma se achando iluminada de uma forma que não seria possível sem submissão a uma particular ortodoxia.

    Assim sendo Sérgio, mesmo sem perceber, vc vive em um mundo católico.

    Isso demonstra horizontes tão curtos que chega a ser patético. Não, são os brasileiros que vivem em um mundo primordialmente católico, e mesmo assim não completamente, não exclusivamente, e recheado de sincretismo. Outras partes do mundo, porém, vivem de acordo com seus próprios sistemas locais de crenças. Experimente ir à China, ou à Arábia Saudita, ou a Israel, ou ao Japão, ou à Índia para ver se você estará num mundo “primordialmente católico”. Aliás, ironicamente, os EUA mesmo não são de forma alguma primordialmente católicos.

    A não ser que a barbarie retornou… sem perceber, vc é um paradoxo ambulante.

    Você por outro lado busca ser perfeitamente consistente através da reafirmação mântrica de que a realidade tem que ser como rezam certos dogmas sem qualquer concessão à necessidade de haver coincidência entre seu modelo de mundo e o que realmente é verdade.

    A necessidade psicológica e emocional de certezas absolutas é sem dúvida um dos maiores alimentadores de sentimentos religiosos mas decidir que teremos certezas absolutas sem fundamentação adequada (e dificilmente há) leva inevitavelmente à desonestidade intelectual e serve de terreno fértil para intolerância, opressão e violência.

  20. A convicção dos ateus é limitada até o ponto em que se sentem ainda confortáveis sob o pálio da estrutura social formada pela crença em um Deus. Após, na hora de por em prática os seus fundamentos e “razões”, se acovardam. Se aproveitam de toda a estrutura , para ficar articulando teorias inexequíveis.

    Essa é uma afirmação francamente ridícula. A estrutura das sociedades modernas não se baseia na crença em deus e sim em um governo civil centralizado com poder de coerção; num sistema jurídico e na preponderância da lei. Se retirarmos isso temos infelizmente o caos absoluto, com ou sem religião. Quase a totalidade dos somalianos, por exemplo, é muçulmana e ficará consideravelmente contrariada se você tentar convencê-los que deus não existe. No entando a somália é dominada há anos por guerras tribais genocidas e as piores atrocidades imagináveis. Todas (ou com raríssimas exceções) cometidas por pessoas proclamando a mais tradicional fé em deus. Enquanto isso, alguns dos países com estrutura social mais estável e organizada – como Suécia, Holanda, Bélgica e Japão – são também aqueles com os maiores índices de ateísmo no mundo. Isso sem sequer discutir a maravilhosa e “confortável” estrutura social que surge sob a maior parte dos governos abertamente teocráticos. Aliás, se for para construir um argumento deste tipo, eu diria que evidentemente existem mutíssimo mais religiosos migrando para países com estrutura social organizada com base em princípios que não têm nada a ver com religião para usufruírem do conforto de suas estruturas sociais do que ateus migrando para sociedades teocráticas em busca do “conforto” derivado de uma “estrutura social formada pela crença em um Deus”.

    Acorda, mais informação e menos rebeldia!

    Você é que aparentemente precisa acordar do universo paralelo no qual habita.

  21. Se há dois canibalismos socialmente chiques hoje em dia, seriam o primeiro o aborto de crianças – chique por ser visto como emancipação feminina – e o segundo a crítica da autoridade católica – chique há uns quinhentos anos.

    Em primeiro lugar, nem com um grande esforço de criatividade metafórica me parece que faça qualquer sentido chamar qualquer das duas coisas de canibalismo.

    Em segundo lugar, aborto nunca foi considerado chique por ninguém. Possivelmente o combate á ilegalidade do aborto o seja em alguns lugares, mas isso é completamente diferente de dizer que o aborto em si é uma coisa linda que toda mulher deveria experimentar, e é absolutamente desonesto insistir repetidamente em misturar as duas coisas como é de costume daqueles que querem ver o aborto colocado irrestritamente na ilegalidade.

    Finalmente, de fato em uma boa parte das sociedades modernas é chique falar mal da autoridade católica. Aliás, essa é uma importante diferença entre uma sociedade teocrática e uma baseada no respeito aos direitos individuais sem referência ou base em princípios religiosos. Na Europa medieval não era apenas chique ser católico; era obrigatório. Em se invertendo a situação, não ser católico deixou de ser chique mas não se tornou proibido.

    Aliás, juntando os dois assuntos, você na sua crítica aos anti-abortistas distingue o ser humano como portador de uma consciência, coisa que o
    feto não possui ainda desenvolvida, e coisa que você não enxerga nos religiosos – a consciência. Isto fica meio ambiguo: se você é a favor ou contra a perseguição dos religiosos, pela falta de uso da consciência. Já imagino a sua resposta: não. Mas esta ambiguidade continua no seu discurso, que decreve católicos e religiosos como tendo menos humanidade (consciência) que ateus.

    Esse argumento evidentemente usa duas acepções diferentes de consciência e não faz nenhum sentido. Ou talvez eu não tenha sido claro que no caso do feto eu não estava falando de consciência moral e sim consciência mental, e que no caso dos religiosos eu não acho que eles não tenham em geral a capacidade para o julgamento moral independente e sim que não a usam em prol de se submeterem à autoridade eclesiástica.

    Quanto ao canibalismo católico, a dizer: se você é ateu, estão comendo pão e vinho, se você é católico, está comendo um corpo vivo, que não está morto no pão e no vinho, e que a doutrina não supõe que morre quando você come, ao contrário do que ocorre no canibalismo real, em que você come uma vítima morta.

    Fala sério que o que você tem a dizer quando ao fato de a comunhão ser canibalismo simulado é que na verdade não é porque consiste em comer o corpo “vivo”!!! Isso é tão alucinado em tantos níveis que dispensa comentários. Quem olhar para isso e não pensar “caramba” provavelmente não iria mudar de opinião com comentários adicionais, de qualquer forma.

    Não só isso, é curioso que no mundo moderno pouco se diga contra as culturas em que há canibalismo, há muito mais a defesa de que sejam respeitadas essas culturas a ponto de que se defenda sua permanência.

    Você fala como se a aceitação do canibalismo fosse algo moderno, ou coisa de ateus, quando é precisamente o contrário. A igreja católica (e aliás a maioria das religiões) diz muito pouco sobre o canibalismo. O canibalismo cai numa espécie de “vácuo” da teoria ética da maior parte das religiões. E uma fração razoável das religiões envolve ou envolveu historicamente em algum momento rituais canibalísticos. E mesmo sem religião canibalismo já foi algo considerado bem mais normal; na Europa medieval a ingestão de diversas partes do corpo de cadávers humanos era rotineiramente receitada para fins medicinais. O repúdio ao canibalismo, este sim é algo moderno, e freqüentemente contrariando rituais religiosos.

    É engraçado até, você é contra o canibalismo, bata na Igreja Católica;

    Eu nunca disse que eu era contra o canibalismo. O que eu disse é que a lavagem cerebral da igreja católica leva as pessoas participarem de atos que sem todo um conjunto de justificativas teológicas alucinadas elas instintivamente repudiariam como estranhos, absurdos ou indesejáveis.

    é contra o terrorismo religioso, hoje em dia praticado no Ocidente por muçulmanos em sua grande maioria, bata na Igreja Católica.

    Oh, sim claro! Os cristãos em geral e católicos em particular não praticam terrorismo! Eu tinha esquecido disso! Eles apenas cumprem civilizadamente seu legítimo dever moral de bombardear clínicas de aborto e assassinar médicos com o objetivo de salvar fetos!

    É a religião moderna, o canibalismo moderno: bater na Igreja Católica, nos católicos. Está na cartilha do mundo moderno.

    O que diachos isso tem a ver com canibalismo?

    Voltando às cartilhas, ao seguimento cego de líderes religiosos, você não estaria seguindo Dawkins e similares com a mesma cegueira?

    De forma alguma. Só para começar, ao contrário do papa e similares eles nunca pediram de mim ou de ninguém mais que seguissem suas opiniões com base em nenhum tipo de autoridade divina ou de qualquer outro tipo. Eles apresentam argumentos independentemente verificáveis e não esperam nem incentivam ninguém a segui-los com base na fé.

    Não os segue em suas visões caricaturais do que é a religião, em particular a católica?

    A igreja católica não precisa de qualquer ajuda para ser caricatural. É difícil ler a lista de “dogmas” nos quais um católico tem obrigação de acreditar sem começar a rir.

    Não os segue quando afirma que Hitler era católico?

    Errr, quem afirmava que era católico era o próprio Hitler…

    Isto quando os depoimentos de quem fez parte das altas esferas nazistas afirmam que o nacional socialismo era, dito por Hitler, baseado em Karl Marx. Era tão católico quanto qualquer político que se declara católico para atrair o apoio de católicos, como Lula hoje em dia, por exemplo.

    Ah, claro, não existem maus católicos porque se alguém é mau então automaticamente não é católico, mesmo que tenha sido batizado, vá à missa, se confesse, e seja reconhecido pela igreja católica como católico. Assim é fácil. Eta raciocínio circular!

    Na verdade a autoridade faz parte de todo circulo de conhecimento. A comunidade científica se baseia na autoridade.

    De forma alguma. A autoridade é apenas um mecanismo prático usado provisoriamente pelo motivo pragmático de que é impossível verificar todos os fatos continuamente. Mas a comunidade científica se baseia em última instância em quem tem razão, se baseia na correspondência entre afirmações verificáveis e a realidade observável ou intelectível. Nenhuma afirmação é considerada acima de qualquer suspeita. Mas naturalmente é necessário apresentar argumentos para questionar verdades para as quais há abundante evidência. E naturalmente, como o processo envolve pessoas reais, o progresso pode ser obstruído ou enuviado por egos e política. Mas não existe de forma alguma já na fonte a proposição metodológica de submissão à autoridade. Isso é acidental e temporário.

    Autoridade de quem chegou antes e resolveu problemas, aos quais se reportam os que chegam agora à comunidade científica. Seria injusto dizer que as pessoas seguem a cartilha da comunidade científica quando seguem as regras para se tornar cientistas e mantém sua confiança nos resultados e métodos dos cientistas anteriores?

    Para começar, não existe uma “cartilha”. Existe o corpo de publicações acumuladas pela comunidade científica, ao qual todos têm acesso e diante do qual tiram suas conclusões. E o motivo para seguir as opiniões mais populares ou dominantes boa parte do tempo é exclusivamente baseada na suposição de que se eu tomasse a iniciativa de verificar todos os seus detalhes eu chegaria às mesmas conclusões que os outros que já pensaram sobre o assunto. Mas no caso de eu de fato questionar algum detalhe e verificar erros, é perfeitamente normal e aceitável que eu os apresente à comunidade científica que então tratará de examinar meus argumentos e mudar de opinião se eles forem suficientemente convincentes. Ou seja, trata-se de uma atitude radicalmente diferente do dogmatismo religioso, no qual a “verdade” é basicamente decretada e ainda por cima com a absurda pretensão em certos casos de ser eterna e infalível.

    Porque mesmo quando contestam um ou outro resultado, alguma coisa é mantida: outros resultados, o método, etc, isso sem grande conhecimento material de tudo o que foi feito antes e é feito no momento, pois seria materialmente impossível dada a imensa quantidade de trabalhos – aliás, alguns hoje em dia tocam neste problema.

    Isso não é verdade. As pessoas que trabalham nas fronteiras da ciência precisam sim conhecer profundamente detalhes do que estão fazendo, aliás precisamente porque em estando na beira do desconhecido não podem confiar implicitamente na “autoridade” de ninguém. É absolutamente comum um pesquisador ler um artigo científico e concluir que o autor está errado. O senso crítico é usado o tempo todo. Nenhum pesquisador sério “acredita” no que outros pesquisadores escreveram sem passar pelo crivo do seu julgamento.

    Não seguiriam os biólogos evolucionistas a cartilha de Darwin, cuja autoridade não é grandemente contestada pela comunidade científica, mesmo sendo poucos, se os há, que conhecem boa parte do que ele escreveu?

    A resposta é que não. Quem tenta fazer ciência sem saber do que está falando escreve um monte de bobagens que em não muito tempo se revelam como tal e passam a ser completamente ignoradas.

    No fundo, o conhecimento funciona assim: muita gente antes de você pensou sobre o que você quer pensar, e faz parte se reportar a essas discussões anteriores, às autoridades sobre tais assuntos.

    Essas “autoridades” não tem qualquer poder de “decretar” o que seja verdade. Elas dizem o que pensam e não existe qualquer obrigação formal de ninguém concordar.

    Consciência, conhecimento, autoridade intelectual, são todas partes da mesma moeda, e você finge que do lado católico há só a autoridade, e do lado científico, moderno, ateu, há só a liberdade de consciência.

    Ora, na igreja católica faz parte das *regras* a irrelevância – ou pior ainda, a supressão – da opinião individual sobre assuntos de fé. Na atividade científica, quando isso ocorre, é um desvio e um acidente. São sim sistemas radicalmente diferentes.

    Fica a questão de se a consciência do indivíduo para você é isso: é o indivíduo que em sua consciência cria uma opinião do que é catolicismo, e cria um jogo em que critica esse catolicismo, e em sua cabeça sai lindamente vitorioso, e que se vier depois algum doido que decida a pena do julgamento que você fez – perseguição, talvez – tudo bem, foi outra consciência que fez, você não tem nada com isso, não é mesmo? Porque o problema me parece ser este, no fundo: você quer julgar a tudo e todos, o mundo, mas Jesus é a concorrência.

    Se por perseguir você quer dizer tornar ilegal ou algo assim eu sou completamente contra. Eu detesto a idéia de crimes de pensamento e acho que cada um deve ser deixado livre para acreditar no que quiser. Mas isso não significa que eu tenha que achar lindo, e é justamente essa fronteira que os católicos parecem não enxergar. Nem tudo de que a gente não gosta deve ser tornado proibido aos outros.

    E quanto a julgar os outros, sim, é uma grande responsabilidade que requer muita prudência, mas não ache que você escapa dela apenas porque se sente misticamente autorizado pela aprovação de todo uma massa de pessoas que decidiram seguir a mesma doutrina. Continua sendo você me julgando.

    Finalmente, ter a concorrência de um ser mitológico de dois mil anos de idade não me parece particularmente ameaçador.

  22. Os dogmas e a fé seriam apenas artifícios secundários para levar esse conhecimento às camadas menos letradas das sociedades, que de outro modo não teriam acesso direto aos princípios metafísicos que fundamentam esse conhecimento.

    Oi Otávio,

    Com certeza soa mais razoável, mas caso deus fosse de fato um conceito válido mas inacessível aos iletrados, então deveria ser possível argumentar a favor de sua existência entre letrados sem recorrer a dogmas. No entanto mesmo entre letrados não se abandona a necessidade e o requerimento dos dogmas. E aliás, todas as tentativas de estabelecer a validade do conceito de deus sem passar por dogmas resultam ser, na minha avaliação, francamente ridículas.

    Saudações,
    Sergio

  23. Oi Arthur,

    Obrigado pelo comentário!

    Sobre se é possível discutir saudavelmente com quem olha para um ateu e pensa “brrr”, eu sei lá. Muitas vezes é só frustrante. Possivelmente vários dos diálogos que estou tendo aqui seriam uma perda completa de tempo caso não estivessem sendo registrados para que outros interessados leiam e reflitam. Inclusive certas coisas são por vezes muito melhor ilustradas por exemplos concretos e reais do que com eu ficar dizendo “eles pensam isso” e “eles defendem aquilo”. :-)

    Saudações,
    Sergio

  24. Caro Sergio Luís,

    Por falta de tempo e oportunidade, não vou comentar tudo que você escreveu, apenas brevemente o texto abaixo :

    A Igreja não impõe sua autoridade a ninguém e nem força o homem a engolir dogmas de maneira arbitrária.

    Antes fosse, antes fosse. Mas todos os discursos e encíclicas sobre a importância da liberdade individual de consciência não apagam a questão básica de que de fato se exige profissão de fé e ortodoxia doutrinária dos católicos, e repudia-se como levando ao inferno quaisquer outras opiniões. É como defender a sagrada inviolabilidade da propriedade privada em teoria e então terminado o discurso sair para bater carteiras.

    Saudações,
    Sergio

  25. E em qual dessas posições que vc citou, vc se insere?

    Eu tendo ao final da lista como o presente texto provavelmente sugere. :-)

    Eu sou católica…aliás, vc já ouviu falar em Mário Sérgio Cortella?

    Não…

    Saudações,
    Sergio

  26. Você não acha que uma pessoa desesperada com uma doença considerada incurável pela medicina oficial tem o direito de, se quiser, buscar uma cura dita “espiritual”? Afinal, a esperança é a última que morre.

    Ué, o “direito” claro que tem, assim como de recusar tratamento. Apenas que se a busca por uma “cura espiritual” for feita em detrimento de perseguir opções que apresentem perspectivas reais de ajudá-la, isso a estará efetivamente prejudicando. Não que eu pessoalmente recomendaria ir atrás de uma “cura espiritual” mesmo estando desenganado e sem opções; pra mim isso é na melhor das hipóteses delirante e na pior charlatanismo mesmo.

    Saudações,
    Sergio

  27. Então tá. Acho que eu entendi.
    Esse blog é sobre o indivíduo, porque só ele tem consciência. Certo.

    Mas e aí? Alguém já viu alguma consciência? A ciência já explicou o que é, do que é feita, de onde vem e como existe? Já conseguiram replicar consciências em laboratório? Transplantar consciências? Já conseguiram incuti-la em quem não a tinha, como um cachorro, um urso ou uma árvore?

    Não. O que isso tem a ver com qualquer coisa?

    “Mas PG, o que a ciência não fez ou não sabe até agora não significa que ela não o fará ou saberá no futuro! Basta esperar!”

    Eu não vi ninguém dizendo isso por aqui. Certamente não eu.

    Hmm…. Alguém está sentindo cheiro de fé?

    Mais ou menos. Existem motivos para se imaginar que talvez um dia seja possível explicar ou produzir consciências, mas de fato não parecemos estar nem remotamente longe disso.

    Não seria o Livre Arbítrio , que é a própria consciência, uma das bases da experiência religiosa? (Bom, convenhamos, ao menos da Católica. Não sei defender os protestantes nesse ponto…)

    Não, aí já tenho que começar a discordar. A igreja católica não é a melhor amiga do livre arbítrio. Aliás, pelo contrário, ela exige que você jogue o seu arbítrio no lixo e ao invés disso use o das autoridades eclesiásticas.

    Mas por alguma razão, todas as pessoas cujas consciências resolveram apontar para a religião são consideradas inconscientes ou inferiores pelo autor.

    É que eu não concordo com o seu axioma exposto na citação anterior. Para mim ao contrário de ser a celebração do livre arbítrio, a experiência religiosa é o homem correndo em pânico diante da responsabilidade do livre arbítrio.

    Quer dizer que o que vale mesmo é a sua (do Sérgio) consciência, e o resto do mundo está todo errado até que pense como você.

    Eu não colocaria com essas palavras, inclusive porque diante de novos fatos e argumentos vindos do “resto do mundo” eu posso ser forçado a reformular minha opinião, mas de fato para *mim* é claro que após considerar tudo o que vale é a minha opinião e não a dos outros.

    O que vale mesmo é O Indivíduo, com maiúsculas, quer dizer, você mesmo. Quem não pensa como você não é indivíduo.

    Essa crítica é absurda. Eu evidentemente me refiro a cada outra pessoa como sede de uma consciência individual separada e com a mesma prerrogativa de pensar independentemente.

    Devo te chamar de Grande Guia ou de Mein Führer? Daí pra câmara de gás é um pulo….

    Isso aí foi um non sequitur fenomenal. Quem construiu e operou as câmaras de gás foram primordialmente cristãos seguindo cegamente um líder alucinado. Eu estou falando precisamente contra esse tipo de comportamento.

    “Mas PG, a religião é dogmática, e um dogma não deixa espaço para a consciência. Já vem pronto e você é obrigado a aceitar!”
    Claro, porque alguém já pensou as conseqüências por mim.

    Se você abrir mão de pensar as conseqüências por si mesmo estará aberto à mais abjeta manipulação, e historicamente é precisamente isso que ocorre.

    Se eu não aceitar tal dogma, isso significará tais coisas, racionalmente, que irão contra certos princípios ou deduções básicas da Religião, que foram descobertas, intuídas ou reveladas por outras fontes, mais confiáveis, certamente.

    “Certamente” com base em quê? Isso sem falar que existe uma multidão de religiões defendendo princípios que não raro são completamente incompatíveis. E as “fontes” da religião são coisas como a bíblia que por nenhum critério razoável podem ser nem remotamente chamadas de “confiáveis”.

    Eu posso sentar e pensar sozinho o que a rejeição àquele dogma vai significar. Na maioria das vezes eu (PG) o faço, mas há situações em que não tenho cacife para isso. Tenho que confiar em alguém que a minha consciência diz que tem ou teve.

    E miraculosamente as pessoas que crescem na fé católica quase sempre acham que tal pessoa é o padre, as que crescem na fé judaica que seja o rabino, na fé muçulmana que seja o imam, as que crescem protestantes que seja o pastor… apesar de todos eles dizerem coisas diferentes. Não é uma coincidência incrível? O que é mais provável, que essas pessoas estejam realmente escolhendo o líder religioso mais sábio ou simplesmente seguindo cegamente o seu grupo social?

    Mas pior do que isso, e nos casos em que seu julgamento pessoal diferir do tal sujeito que “tem cacife” para decidir o que é certo? Você pode livremente escolher “este dogma eu quero, aquele ali não”? Seu argumento parece apontar nessa direção, mas nesse caso você está em completa contradição com o que a quase totalidade das religiões espera que você faça, que é seguir *todos* os dogmas não interessa qual seja o seu julgamento.

    Se não for assim, a ciência não significa nada, pois eu não consigo imaginar nem provar tudo que eu vejo ao meu redor.

    Existe uma gigantesca diferença entre não conseguir provar tudo e jogar a lógica pela janela.

    Não sou consciente dos átomos, mas eles estão lá. Alguém me falou e eu acreditei, por quaisquer motivos que eu achei justos na hora.

    Sim, de fato é freqüentemente necessário acreditar que alguém verificou que algo é verdade ao invés de reverificar tudo. Mas na ciência existe ao menos essa suposição. Em religião não é nada disso. As verdades mais fundamentais são reveladas ou tradicionais e de forma alguma determinadas experimentalmente ou abertas a questionamento. Isso é radicalmente diferente da ciência.

    Pudim de passas? E a teoria da relatividade? E o big bang como origem de tudo? E o aquecimento global? Ou você acredita, ou é pária, mesmo se sua consciência te diz que há algo errado ali. Eis a ciência e sua moral. No fundo, meu velho, a ciência é tão ou mais relacionada à fé que a religião.

    Essa afirmação demonstra a mais profunda incompreensão do processo científico. A ciência não é baseada em pessoas delirantes elocubrando o que textos mitológicos aleatórios com dois mil anos de idade têm a dizer sobre a origem do universo. Ela é baseada em lógica, experimentos e verificação independente. O fato de que é em geral impossível a um ser humano apreender todos os detalhes simultaneamente não altera o fato de que o projeto é que os detalhes estejam lá. Se e quando não estiverem, existe uma lacuna a ser sanada. Não é heresia dizer que algo está errado e precisa ser consertado e de fato é assim que a ciência progride. Provavelmente nenhum ser humano sozinho entende todos os detalhes de um avião a jato moderno, e no entanto ele voa. Ao contrário das doutrinas esquizóides que os religiosos cultivam sobre o universo, que só funcionam em suas mentes.

    A ciência pode explicar as coisas pequenas muito facilmente, mas quanto mais abrimos o foco da questão, mais começam as adivinhações, os erros, as incertezas e o dogma científico….

    Não existe dogma científico no mesmo sentido que no religioso. Existem no máximo teorias que funcionam tão bem, que correspondem tão bem a todos os fatos observados, que para desafiá-las é preciso apresentar evidências substanciais. E quando a ciência esbarra no que não sabe explicar ela ou declara sua ignorância ou postula axiomas convenientes por motivos puramente práticos, perfeitamente sujeitos a revisão em se mostrando falsos ou pouco úteis.

  28. Aline says:

    Ok…o Mário Sérgio é filósofo, doutor em Teologia e se não me falha a memória católico.
    Já apareceu em vários programas discuntindo exatamente este tema,
    a existencia de Deus…e ele é bem eloquente. Só estou dizendo isso
    para dar um exemplo de que Fé x razão (discernimento, consciência, inteligência, etc…) é possível.

    Saudações, Sérginho
    Deus te abençõe, rs
    Aline

  29. Ok…o Mário Sérgio é filósofo, doutor em Teologia e se não me falha a memória católico.
    Já apareceu em vários programas discuntindo exatamente este tema,
    a existencia de Deus…e ele é bem eloquente. Só estou dizendo isso
    para dar um exemplo de que Fé x razão (discernimento, consciência, inteligência, etc…) é possível.

    Ah, com certeza é possível ao mesmo tempo ser inteligente e informado e acreditar em deus. Algumas das pessoas mais inteligentes que conheço acreditam em deus. Porém, em primeiro lugar, eu continuo achando que filiar-se a uma religião institucionalizada cujo sistema de crenças seja dogmático inevitavelmente quebra sua honestidade intelectual. Em segundo lugar, para mim a própria crença em deus deriva muito mais de necessidades emocionais e psicológicas do que da razão ou do conhecimento. Em terceiro lugar, toda a minha razão é o meu conhecimento indicam abundantemente, no meu julgamento pessoal, a não existência de deus.

    Deus te abençõe, rs

    :-)

    Saudações,
    Sergio

  30. Talvez eu devesse ter falado em violência e não canibalismo, que seria uma espécie de violência à natureza racional do ser humano. De qualquer forma é irônico que você seja tão sensível a violências em casos que envolvam católicos, mas não que envolvam idéias que te são caras, como a de não impor o que se acredita aos outros. No caso do aborto, o ataque à sua legalidade equivale, para muitos, ao ataque à legalidade do homicidio para determinado tipo de seres humanos. Não me parece ser este o seu caso, o de atacar a legalidade do homicidio. Mas de qualquer forma, é isso, você, como os religiosos que você critica, vê algumas violências como mais válidas, ou menos graves, que outras. Não precisa ser religioso para isso, não é?

    Eu não entendi direito o seu argumento. É claro que eu vejo algumas violências como mais válidas, ou menos graves do que outras, e não vejo nenhum problema com isso. E nem acho que haver violências mais graves invalide a luta contra as violências menores. E além disso, meu problema com a igreja católica praticar rituais canibais não é nem tanto com o canibalismo e sim com a quantidade de lavagem cerebral necessária para induzir as pessoas de participarem de algo como isso. Com certeza quase a totalidade delas se eu dissesse abertamente : “Olha só, estou te convidando para uma cerimônia neste fim de semana na qual vamos encenar canibalismo enquanto bebemos, venha participar!”, elas diriam “De forma alguma.”

    Ah, e adicionalmente eu não acho que um óvulo recém fecundado possa sequer ser razoavelmente chamado de ser humano.

    Quanto ao IRA, e ao Hitler, claro, devo ser um péssimo católico ao não perceber que o nacionalismo é um dos dogmas da Igreja. O IRA é nacionalista, e Hitler defendia a superioridade da raça ariana, a mesma de Jesus, não é mesmo? Afinal de contas o catolicismo é genético, passa de pai para filho, e pessoas criadas em meios católicos e que se tornam coroinhas nuncam deixam de ser católicas. Se Hitler se dizia católico, dizia que o nazismo era baseado em Marx, trocando a idéia de luta de classes pela luta de raças, e seus métodos de tomada de poder devem muito à tomada de poder dos bolcheviques na Rússia.

    Ah, claro, quando um católico explode um carro bomba num país marcado pela perseguição religiosa ele é só um militante político. Quando um país inteiro de cristãos decide genocidar judeus, a religião deles não teve qualquer influência sobre o assunto, isso é exclusivamente nacionalismo. Quando um padre joga o seu carro em cima de uma clínica em nome de deus, isso é só ativismo. Agora, quando um palestino decide se explodir em protesto contra políticas israelenses de ocupação territorial – ah, aí é “terrorismo religioso”, nas suas palavras? Quando sauditas furiosos com haver bases militares americanas em seu país decidem se juntar para jogar aviões em prédios, aí é só religião? Isso é ridículo.

    A violência é parte da natureza humana. E todos os grupos humanos apresentaram alguma forma de violência. Agora, a mensagem cristã, de que todos são pecadores, e não deixam de ser por se tornarem cristãos ou católicos,

    Opa, ah, sim, deixam! Ou melhor, continuam cometendo pecados mas não estão mais em pecado porque reconciliam-se com deus e vão para o paraíso!

    que todos estão envolvidos na crucificação, que é vista como um momento vergonhoso inclusive dos discípulos de Cristo, é a que mais ajuda a evitar cair em violência, de todas, incluindo as crenças de grupos ateus.

    A mensagem cristã é a que mais evita cair em violência? Segundo quem? Isso simplesmente não é verdade.

    Não faz parte da pretensão da Igreja a de ser um grupo moralmente superior, e que por isso todos deveriam ser católicos,

    Peraí, você acabou de dizer que “A mensagem cristã (…) é a que mais ajuda a evitar cair em violência, de todas, incluindo as crenças de grupos ateus.” para então logo em seguida dizer que “Não faz parte da pretensão da Igreja a de ser um grupo moralmente superior” ? Então não faz parte da pretensão deles serem superiores, mas que eles são, são, certo? Ou então você acha que ser o portador da mensagem que melhor evita a violência não é ser moralmente superior?

    Além disso, sim, evidentemente, abundantemente faz parte da pretensão da igreja católica ser moralmente superior! Eles não pregam “Olhe só, tem esse jeito aqui de fazer as coisas, que a gente gosta e prefere, mas se você quiser fazer de outro jeito também está bom.” Eles pregam que o jeito deles é o único certo e que quem não seguir será automaticamente enviado para o inferno!

    mas parece ser algo que você defende, a superioridade moral dos ateus.

    Sim, de fato defendo. Eu não concordo de forma alguma que “A mensagem cristã (…) é a que mais ajuda a evitar cair em violência”, e além disso acho que a idéia de submeter sua consciência a autoridades externas danifica o julgamento moral.

    Aliás, superioridade moral que é um dos motores das violências coletivas desde há muito tempo.

    Eu não conheço nenhum caso de violências coletivas realizadas em nome do ateísmo. Aliás, o ateísmo é uma não-crença, então não vem com nenhuma ideologia ou mensagem de brinde. Um sujeito pode ser ateu e contra ou a favor de qualquer uma das posições morais da igreja.

    Por outro lado evidentemente exemplos de violências coletivas derivadas da suposta superioridade moral das diversas religiões são facílimos de encontrar.

    Eu acredito que você se aproveita de uma confortável posição: nos estudos das religiões não há muito a respeito do ateísmo, nem particularmente do ateísmo militante.

    Talvez porque o ateísmo não seja uma religião. Não que por completude um estudo sobre religião não pudesse ou mesmo devesse tratar de ateísmo, mas ateísmo não é “mas uma opção” religiosa; ateísmo (numa acepção mais ampla) é justamente a rejeição do pensamento religioso, dogmático, grupal, místico, em bloco. Então ao contrário das religiões, ele não costuma produzir massas de pessoas pensando fanaticamente exatamente as mesmas coisas, o que em si mesmo já tende a ser uma proteção contra grandes barbaridades.

    Tem muitas semelhanças com os protestantes da época da Reforma. O moralismo, o ataque à autoridade eclesial, o desmembramento da Biblia, o entendimento raso dela sem nenhum critério de forma que ela possa servir de defesa de qualquer coisa que convenha ao sujeito.

    É um entendimento bastante equivocado do ateísmo na maior parte dos casos achar que ele seja mais uma opção de pensamento dogmático. É precisamente o oposto. Existem ateus a favor e contra e com e sem cada uma das características que você citou. Além disso para grande parte dos ateus a bíblia é completamente irrelevante.

    E guarda semelhanças com o exemplo de Galileu, que é seguido não no que ele fez para desenvolver a ciências, mas no ataque ao Papa através de uma peça de teatro por ele escrita em que denegria o pontífice como um aristotélico dogmático (até parece que este deve ter sido o grande avanço científico promovido por Galileu).

    Galileu é “seguido”? Seguido por quem? Para onde? Se ele é “seguido” em alguma coisa é na idéia de que a Terra gira em torno do Sol, e nesse caso ele é seguido porque isso é *verdade*, um conceito que aparentemente é problemático num contexto em que a autoridade e a tradição são elevados à posição máxima.

    Além disso, Galileu só queria poder dizer o que pensava livremente, e nunca foi um ativista anti-religioso ou aliás nem sequer em defesa da liberdade de expressão, então em termos de movimento contra a igreja, segui-lo não iria muito longe.

  31. “Atheism is indeed the most daring of all dogmas . . . for it is the assertion of a universal negative.” G.K. Chesterton

    Há também um excelente ensaio de Chesterton, onde ele afirma, ao comentar a antinomia entre razão e fé, que crer que o nosso pensamento está de acordo com a realidade já é um ato de fé, rs. O que você acha desta observação do nobre inglês?

    Bem, são na verdade duas observações então. :-)

    Sobre a primeira, eu acho que ele está bastante equivocado. Esse argumento ressurge freqüentemente sob diferentes formas, na mais simplista como “você-não-tem-como-provar-que-deus-não-existe”, mas se levado a sério ele nos obrigaria a acreditar em (ou pelo menos considerar como possibilidades razoáveis) todo tipo de absurdidades. Eu posso fazer todo tipo de afirmativa (universal ou não) para a qual não há qualquer evidência. Estão todos então obrigados a considerar minhas assertivas como verdadeiras ou pelo menos razoáveis até prova em contrário? Considerando para começar que existe um número infinito de afirmações completamente falsas mas inverificáveis que eu poderia fazer, isso é evidentemente absurdo. Entre outros que responderam a este argumento está Bertrand Russell, que ilustra a idéia com o Celestial Teapot.

    Sobre a segunda, eu diria que é de fato uma questão, mas essa é precisamente a questão fundadora da ciência, aquela para a qual mais atenção se presta todos os dias. Tudo o que pensamos pode a qualquer momento se revelar não corresponder à realidade, então é absolutamente imprescindível checar e rechecar e mesmo assim não há nenhuma garantia de sucesso. Do ponto de vista de filosofia da ciência, a rigor não há justificativa lógica para fazer afirmações sobre a realidade com qualquer grau de certeza, e se formos ser epistemologicamente ortodoxos até as últimas consequências não há fundamentos sólidos para afirmar conhecimento sobre coisa alguma. Porém, o mais supreendente sobre o universo (como dizia Einstein) é que ele é conhecível. É que é possível criar teorias que fazem sentido e parecem de fato corresponder à realidade, e de fato funcionam. Então com base na ciência constrói-se um reator nuclear com milhares de milhões de peças e envolvendo desde física quântica até engenharia civil e quando se junta tudo e liga… ele funciona! A justificativa maior da ciência, portanto, está no fato de que ele diariamente, rotineiramente, constantemente *funciona*, no sentido de que conseguimos produzir pensamentos que apesar de não plenamente justificados logicamente de fato correspondem à realidade com uma regularidade e previsibilidade nem remotamete atingidas por quaisquer outras formas de tentar descrever a realidade. Aliás, o meu primeiríssimo texto n’O Indivíduo termina levantando exatamente esse ponto.

    Saudações,
    Sergio

  32. Oi Aline,

    Excelente. :-) Dispensa comentários. :-)

    Beijos,
    Sergio

  33. Não diga pra mim nem pra ninguém. Fale diretamente para Ele.

    O que você chama de “ele” é uma perversa ficção mítica. Para acreditar estar falando diretamente com ele é necessário induzir em si mesmo uma forma de esquizofrenia. Os efeitos colaterais envolvem discurso desconexo a alergia ao pensamento divergente.

  34. Oi Edson,

    Obrigado pelo comentário.

    Eu pessoalmente penso em religião primordialmente por causa dos outros, porque é um fenômeno tão importante e tão onipresente na cultura humana e sempre estive cercado dela, em particular da católica.

    Mas por mim mesmo nunca senti qualquer identificação com religião, e nem qualquer necessidade de deus… para mim, não é apenas que seja “possível” viver sem ele, o conceito de viver “com” ele me é completamente estranho para começar…

    Saudações,
    Sergio

  35. Oi Ari,

    Fico muito feliz em ler seu comentário e ouvir (ou ler :-D) que apesar das discordâncias e opiniões que por vezes batem de frente, pelo menos no seu caso os sentimentos por trás não são necessariamente de automática hostilidade. A busca da verdade por vezes nos coloca em posições nas quais somos forçados a contradizer os outros frontalmente, e isso nem sempre é compatível com orgulho, autoridade, ou excessivo pudor em não ferir suscetibilidades (aliás, inclusive as nossas próprias). Mas desde que ambos os lados estejam honestamente buscando a verdade, não precisa ser algo feito com rancor. E mesmo quando suspeitamos que o outro lado sem perceber ou mesmo deliberadamente não está buscando a verdade e sim algo mais, existe sempre de ambos os lados uma decisão pessoal sobre se vamos transformar isso num lodaçal ou num diálogo no qual concordamos em discordar, mesmo que enfaticamente. (Claro que por outro lado quando um dos lados decide que vai chutar o balde e ser completamente desonesto ou delirante aí isso limita o quão construtiva é possível ser a conversa.)

    Sobre a idade do indivíduo, foi publicado pela primeira vez (ainda em papel) em 19 de novembro de 1997.

    Sobre a história de ser careta – que publiquei porque não me importo particularmente de ver isso publicado – eu diria o seguinte. Olhando exclusivamente para meus comentários sobre religião, eu entendo perfeitamente por que você diria isso, e na verdade não acho sequer o termo particularmente ofensivo.

    Sobre ser esquizofrênico – ora, claramente existem esquizofrênicos de todas as tendências religiosas, por favor, tanto os que o são clinicamente quanto os que se comportam como tal. Quando eu falo sobre esquizofrenia estou falando sobre problemas graves de percepção da realidade :

    Schizophrenia (pronounced /ˌskɪtsəˈfrɛniə/ or pronounced /ˌskɪtsəˈfriːniə/), from the Greek roots skhizein (σχίζειν, “to split”) and phrēn, phren- (φρήν, φρεν-, “mind”) is a psychiatric diagnosis that describes a mental disorder characterized by abnormalities in the perception or expression of reality. It most commonly manifests as auditory hallucinations, paranoid or bizarre delusions, or disorganized speech and thinking.

    E é a isso que uma pessoa é forçada ao concordar – voluntariamente ou sob coação – em aderir a dogmas religiosos, especialmente dogmas que consistem – como em geral consistem – literalmente em fantasias bizarras sobre como a realidade funciona. Mas o problema vai além disso; como conseqüência direta, cria-se uma personalidade fragmentada, na qual a consciência e racionalidade continuam informando sobre o que independentemente se intui e percebe como sendo verdade e ao mesmo tempo formalmente se aceitou ou estabeleu a necessidade de defender e chegar a conclusões que independem disso. A colisão no meio do caminho não pode levar e empiricamente não leva a boas coisas.

    Sobre maturidade e etc, eu não preciso de “mais” ou “novos” argumentos contra a fé, aqueles que estão óbvios desde sempre permanecem válidos e funcionando, e estão “envelhecendo” como um bom vinho, sem qualquer necessidade de substituição. Na verdade ao longo dos anos os “novos” argumentos com que fui me deparando contra a fé uniram-se de forma perfeitamente harmoniosa aos antigos para formar um caso cada vez mais sólido.

    E se você suspeita que eu subestime o meu “poder de percepção”, eu diria que os religiosos em geral fazem precisamente o oposto; eles o superestimam e confundem suas fantasias, desejos e esperanças com a realidade, os mais inteligentes entre eles deliberadamente.

    Saudações,
    Sergio

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