Altruísmo e Sexo

September 11th, 2010 by Sergio de Biasi


Como não fazer

Os homens precisam das mulheres, precisam de muitas formas, e uma boa parte dos homens jamais se sentirá realmente feliz ou realizado sem uma parceira ao seu lado. Em particular, uma boa parte dos homens, se privados de acesso a sexo, entrará rapidamente num estado contínuo de ansiedade e insatisfação. Isso não é ideológico, e muito menos por esporte. É uma questão biológica e metabólica básica.

Apesar disso, chegamos num estágio de avanço civilizatório tal que a maioria absoluta dos homens em sociedades ocidentais modernas não está buscando satisfazer suas necessidades sexuais estuprando ou oprimindo ninguém, e sim dentro de uma relação consensual e mutuamente benéfica.  Dentro deste paradigma, qual seria o comportamento mais saudável, honesto, coerente e maduro? Ora, seria aceitar de bom grado fazer a sua justa parte do investimento, e agir de forma confiável, sensível e amiga, certo?

Infelizmente, o homem que tenta fazer isso se defronta com um dos fatos mais enlouquecedores com que o gênero masculino têm que lidar. Inundados por um contínuo discurso de pretensa insatisfação das mulheres com a falta de sensibilidade masculina, uma parte considerável dos homens resolve então buscar acomodar tão generosamente e voluntariamente e justo quanto possível as necessidades femininas… para então descobrir que essa atitude é absolutamente, catastroficamente, suicidamente mal sucedida. O complexo processo de amadurecimento pelo qual cada homem de nossa sociedade moderna tem que passar envolve observar estupefato com total incompreensão que a esmagadora maioria das mulheres não acha esse tipo de comportamento construtivo e conciliador nem remotamente atraente. A mulher típica empiricamente *não* se sente seduzida nem escolhe como parceiro quem por inclinação de personalidade e natureza de caráter seja gentil, generoso, sensível, quem genuinamente sinta afeto gratuito pelos outros. Não, de forma alguma. Aliás não só não sente atraída como se sente instintivamente repelida por este tipo de comportamento, pelo menos a nível de selecão de parceiro sexual.

Ao invés disso, a mulher média se sente automaticamente, involuntariamente, geneticamente atraída por quem demonstra comportamento socialmente dominante, quem não está nem remotamente buscando relacionar-se com os outros de igual para igual e sim de forma competitiva e hierárquica – que são precisamente os homens com disparadamente menor probabilidade de demonstrar os traços de “sensibilidade” reclamados pelo discurso feminino.

Existiria aqui algum tipo de “insinceridade” feminina? Eu diria que não. O problema é na verdade o mesmo do lado masculino. Então antes que alguém venha dizer que este seria um texto “contra” as mulheres, observo que os homens quase universalmente também são emocionalmente retardados e exibem comportamento similarmente incoerente. Um homem maduro e equilibrado que busque uma relação séria de longo prazo estará também em princípio muito melhor servido por uma mulher emocionalmente estável, generosa e gentil. E se perguntado provavelmente ele dirá que é isso mesmo que está buscando. Mas experimente colocá-lo num ambiente social para ver o que ocorre. Quase universalmente ele migrará instantaneamente em direção à loira peituda que passou duas horas alisando o cabelo ignorando todas as outras considerações. E no caminho afastará para o lado como um objeto fora de consideração a mulher que passou 10 anos cultivando uma personalidade.

A verdade é então  que os homens são em geral tão reféns de seus genes quanto as mulheres.

A perversa causa dessa situação é que nós não evoluímos ao longo de bilhões de anos para melhor servirmos a nós mesmos. Nós evoluímos para melhor servir aos nossos genes. Nossos hormônios, nossos instintos, nossos sentimentos mais primais não estão calibrados para levar a uma vida equilibrada e construtiva que melhor preserve o nosso bem estar ou mesmo o bem comum. Absolutamente não. A nível biológico nós estamos programados para buscar implacavelmente produzir a quantidade ótima de descendentes que estejam o mais bem sucedidos que for possível… em produzir descendentes que façam o mesmo. Qualquer outra consideração é secundária. Se for vantajoso genocidar metade da raça humana no processo, será feito. Se for vantajoso cometer suicídio no processo, igualmente será feito. Não existe qualquer sadismo no primeiro, assim como não existe qualquer altruísmo no segundo. Existe a implacável e matemática tentativa de maximizar a representação dos seus genes na população.

Aliás, ser altruísta de graça pode ser muito bonitinho mas é evolutivamente suicida. Ah, claro, ter um *discurso* de que altruísmo é lindo e coisa e tal é de fato uma adaptação evolutiva muito benéfica, especialmente se o portador dessa estrategia adaptativa conseguir com sucesso convencer os *outros* a serem altruístas enquanto reserva para si mesmo a prerrogativa de não o ser. E para grande parte dos homens e mulheres está tudo ok com toda essa farsa. Eles estão perfeitamente bem adaptados e confortáveis com agirem “racionalmente” para maximizarem seu sucesso reprodutivo, mesmo quando isso vai completamente contra seus interesses como organismo autônomo, contra o bem do grupo, contra o que pregam como certo, etc. É o dilema do prisioneiro elevado a milhares de gerações. Ética, bom senso ou mesmo felicidade não têm nada a ver com o assunto. A esmagadora maioria das pessoas, do alto de sua monumental capacidade para a abtração e para se achar risivelmente no controle de si mesmo, seguirá sua programação genética com precisão robótica e patética.

Neste contexto, quem *de fato* possui tendências altruístas autênticas que não sejam apenas uma estratégia social farsesca estará tragicamente mal adaptado. Isso provoca problemas muito piores do que as conseqüências diretas de tomar decisões pragmaticamente subótimas; ao ser percebido como mal adaptado será automaticamente tratado como tal e portanto inelegível (ou indesejável) para fins reprodutivos.

Diante disso, existem basicamente duas estratégias possíveis. Uma está em buscar desenvolver ao máximo a habilidade de mascarar sua identidade altruísta, tornando-se cada vez mais competente em ignorar os impulsos de sua consciência constantemente clamando por atitudes empáticas, gentis e com consideração pelos sentimentos dos outros (automaticamente e implacavelmente enxergadas por seres humanos mais normais como manipulativas, otárias, malucas, incompreensíveis, alienígenas e em todo caso muito pouco atraentes). Essa estratégia visa tornar-se mais socialmente e sexualmente aceitável para pessoas com as quais você provavelmente não teria qualquer vontade de se relacionar em primeiro lugar. “Sucesso” nesse caminho consistirá em acordar de manhã tendo passado a noite com alguém que, em última análise, você acha um idiota e que age de uma forma absurda.

A estratégia oposta é ao invés de se recusar a seguir cegamente sua consciência, recusar-se a seguir cegamente seus impulsos na direção de se associar a idiotas. A tragédia dessa situação toda é que a mesma crítica que se aplica aos outros tende a se aplicar a nós mesmos, então mesmo que sejamos genuinamente altruístas, mesmo assim nossos fantásticos genes freqüentemente nos farão sentir atração e considerar sexualmente interessantes as pessoas mais erradas possíveis em termos de maximizar a nossa felicidade pessoal. Então ao invés de resolver o problema suicida de “como faço para me tornar atraente aos olhos de pessoas idiotas que deprezo” talvez seja mais esperto dar dois passos para trás e buscar solução para o problema complementar de “como faço para sentir-me sexualmente realizado com uma pessoa que de fato seja boa para mim e com quem seja possível desenvolver uma relação mutuamente recompensadora”.

Agora note-se, tanto para homens quanto para mulheres, é preciso haver aí um grau substancial de maturidade. Nossa tendência automática na maior parte dos casos será gravitar para quem percebemos como socialmente dominante e fisicamente apto, mesmo que isso seja suicidamente subótimo em termos de nossa felicidade. Como aliás normalmente será, dado que as mesmas características que tornam alguém socialmente dominante ou fisicamente apto (e atraente num nível visceral além de qualquer consideração cognitiva superior) são em geral as que tornam alguém infernalmente insuportável numa relação a dois. Então parece altamente esperto buscar evitar essa armadilha. Só que por outro lado, nossos instintos mais basais não são opcionais e exigem satisfação. O que fazer para conciliar essas dois objetivos divergentes?

Bem, o que parece mais provável, realista e sustentável? Que seja possível seduzir um idiota e então convencê-lo a se comportar com consideração e companheirismo? Ou alternativamente, que seja possível se unir a uma pessoa companheira e altruísta e então conjuntamente um aprender a satisfazer as necessidades basais e instintivas do outro?

21 Responses to “Altruísmo e Sexo”

  1. André HP says:

    Texto ótimo. O paradoxo trabalhado nos primeiros parágrafos é bem visível no cambo afetivo contemporâneo.

    Abraço ao autor.

  2. Grammar says:

    Comecei a ler este texto pensando que seria algo na linha de “the virtue of selfishness”, mas acho que está mais para “the selfish gene”.

    • Acho uma boa descrição.

      Eu pessoalmente acho que Ayn Rand acerta até o ponto em que defende que pensar nos seus próprios interesses e levar seu próprio julgamento a sério não só não é moralmente detestável como na verdade é fundamental para qualquer coisa digna do nome “ética”. Porém ela fica meio que entusiasmada e resolve que seu próprio julgamento e seus próprios interesses bastam e aí começa a ficar meio demais. Em particular as noções que ela tem de relacionamento de casal são pra mim consideravelmente quebradas.

      Agora, o que eu falo no texto de fato tem a ver com genes egoístas ao invés de com Ayn Rand. E o que descrevo é uma situaçao existencialmente árida e deprimente na qual altruísmo verdadeiro é uma mutação suicida, mesmo quando esse altruísmo se adotado por todos levaria a uma muito maior felicidade geral. Simplesmente não é assim que evolutivamente funciona, e isso é extremamente irritante para os mutantes que de fato não só empatizam gratuitamente com os outros como percebem claramente que todos perdem com essa visão míope.

      Saudacões,
      Sergio

  3. Fernando Parreiras says:

    Curioso notar que na maior parte das tentativas de explicação de temas assim, para os quais parece sempre haver mais dúvidas do que afirmações (ainda que provisórias), há muita coisa da índole daquilo que a nossa racionalidade, o nosso ambicioso empreendimento intelectual deplora e que pode ser denominado, por exemplo, como “senso comum”.

    Não me refiro especificamente ao seu post. É uma impressão muito genérica minha, quando me deparo com questões semelhantes.

    Não sem motivo tive muito interesse quando li pela primeira vez sobre conhecimento científico e senso comum, tão caro aos antropólogos.

  4. Querido, textos grandiosos assim deveriam ser acessíveis à grande massa latino-americana, a qual convenhamos nao é pequena, e muito menos… menos merecedora de accesar a informaçao e assim poder pensar.. açao que na maioria temos preguiça de executar con frequência. Posso traduzir pro espanhol?????????

  5. Puramenete “O gene egósta”, de Richard Dawkins. Muito bom!

    • Pois é, esse livro é espetacular mas é meio deprimente. :-) Mas como o próprio Dawkins aponta, não precisamos nos render a isso introjetando o egoísmo. Agora, até mesmo para transcendê-lo, é preciso ter os olhos abertos para sua natureza…

      Saudações,
      Sergio

      • Verdade, Sérgio.

        Como o próprio Dawkins faz questão de deixar claro nas notas das edições recentes do Gene Egoísta, a superioridade de ser humano reside justamente no fato de termos a capacidade de não nos entregarmos totalmente à vontade dos genes, de modo que não nos tornemos meramente “máquinas de sobrevivência” para os replicadores. Destarte, vamos criando nossos meios e convenções para “iludir” a vontade egoística genética inerente a cada um de nós… Mas ela está lá, sempre vai estar, e entendê-la é um “imperativo categórico”, como você bem colocou.

        Abraço!

        • Eu iria mais longe – mais do que iludir, em muitos casos temos é que satisfazê-la mesmo. A biologia é muito forte e basicamente incontornável. Não por exemplo dá pra escolher “não vou mais dormir”. O desafio é encontrar formas de satisfazer esses instintos implacavelmente estúpidos de uma forma que seja suficientemente coerente com certos valores mais elevados.

          Agora, isso caso tenhamos esse últimos. A meu ver a maior parte das pessoas simplesmente fica perfeitamente satisfeita e contentíssima em ser uma máquina de fazer cópias de seus genes e pronto. E pra piorar tudo eu não tenho qualquer argumento maravilhoso para provar conclusivamente que ajudar os outros quando isso for possivel seja mais “elevado” do que usá-los com requintes de crueldade para seu próprio benefício. No final das contas bondade ou maldade se resumem ao fato de que certas coisas são repugnantes ou desejáveis para mim, não é algo que eu possa realmente sustentar de nenhuma forma objetiva. Não quer dizer com isso que deixem de ser conceitos importantes para mim, mas é muito triste saber que bondade é no final das contas algo completamente arbitrário. Importar-se com a felicidade e bem estar dos outros não é uma necessidade lógica, é um sentimento que estatisticamente nós temos apenas na medida em que isso beneficia nossos genes, e ter esse sentimento além desse ponto ótimo é uma mutação prejudicial fadada logicamente ao insucesso.

          As sociedades modernas, com todas as suas normas, conseguem intervir coercitivamente nesse processo para forçar que o ser humano médio aja de uma forma um pouquinho menos absurdamente egoísta, mas faz isso mexendo com o custo-benefício de ser antisocial, não realmente “convencendo” ninguém a se importar com os outros. A cultura passou a ter um papel fundamental nas sociedade humanas, e sob este aspecto é possível finalmente ter algo parecido com evolução que beneficie o grupo. Mas tem que ser mesmo imposto de fora porque o comportamento racional mesmo é ser egoísta, não o de contribuir espontaneamente para o somatório total do bem comum. O ser humano médio quando liberado de repercussões se torna quase universalmente de imediato um psicopata total.

          Saudacões,
          Sergio

          • É isso mesmo, Sérgio, concordo com você. O egoísmo, na verdade, está no cerne de todo o chamado “desenvolvimento racional” da humanidade. Até porque, todas ações – e eu acredito nisso inquestionavelmente – são movidas por algum grau de egoísmo. É intrínseco.

            Quando afirmei que a superioridade de “ser humano” reside justamente no fato de podermos driblar alguns instintos primitivos, não quis de forma alguma dar a entender que nossa superioridade intelectual está essencialmente nesse fato, mas, precipuamente, na capacidade de detectarmos essa inerente programação genética e iludi-la; ou mesmo aceitá-la e satisfazê-la em algumas ocasiões, como você colocou perfeitamente.

            As normas jurídicas e sociais criadas servem, factualmente, de amarras à natureza humana, que não é nada muito diferente das dos outros animais. Acredito que aí, sim, nesse complexo emaranhado de instrumentos que configuram-se como “educador” dos genes, demonstra-se a evolução.

            Acredito que é importante a gente fazer aqui também a distinção entre o egoísmo atinente à biologia/ecologia do Dawkins e o egoísmo político/social no objetivismo da Ayn Rand, já citada por nosso colega ali em cima. Embora possamos tranquilamente fazer algumas boas comparações, tratam-se de campos diferentes. Nesse sentido, “Quem é John Galt” e a “A Nascente” da Rand, e “O gene egoísta” do Dawkins, são as obras imprescindíveis.

            Veja só o comunismo, por exemplo, que matou mais de 100 milhões de pessoas ao redor do mundo. Qual é o principal objetivo dos vermelhos? Planificar não só a economia, mas toda a sociedade. Extirpar qualquer valor individual, qualquer noção da importância sagrada de ser um, único – acabar com a unicidade, a personalidade. Junto a isso, vem o intuito de pôr fim à propriedade privada e ao anseio naturalmente humano de acumular, produzir e enriquecer.

            Assim, o óbvio aconteceu: o comunismo nunca deu certo, causando apenas uma carnificina horrenda e deixando um lastro de horror em todo mundo, simplesmente porque ele é antinatural, é um atentado à humanidade e à natureza do homem como um indivíduo valoroso em si mesmo. A ideia de coletivização é uma das piores pragas na sociedade que temos hoje, imbecilizada pelo discurso politicamente correto. Nesse sentido, Ayn Rand, Orwell, Friedman, Hannah Arendt, Camus, Revel, e tantos outros foram magistrais em demostrar o perigo do totalitarismo em nome de um coletivismo doentio que sataniza o indivíduo e a consciência “egoísta”, natural e inerente ao homem.

            Já quanto à biologia a coisa toma um rumo um pouco diferente (hora do Darwin e dos neodarwinistas)… Aí vamos falar de sexo e de sentimentos mais entranhados como raiva, vingança, amor, altruísmo, egoísmo… Nesse sentido, a desvirtuação do objetivo final dos genes “egoístas” nos garantiu avanços inquestionáveis, imanentemente ligados à evolução humana mesmo. Na verdade, não se trata de uma “desvirtuação, mas de adaptação mesmo, de transformação. Nasce o conceito de família (que surge da tentativa do homem estabilizar-se e ter melhores condições de perpetuar seus genes de forma segura…), surgem as regras de convenção social, as de cunho sancionatório, que vêm abolir o “olho por olho, dente por dente…”, e assim por diante…

            Enfim, entender sobre o egoísmo e a individualidade ante essa onda socializante/coletivista que está aí exposta é imperativo àquele que pretende ter o mínimo de conhecimento acerca das causas e consequências das coisas do mundo e da vida. (Risos).

            E você, Sérgio, está de parabéns por fomentar essas ótimas discussões e reflexões.

            Abração!

            • Pois é, existe uma grande quantidade de pessoas que confunde a descrição científica do egoísmo atávico inerente à realidade biológica do ser humano com uma defesa desse mesmo egoísmo. Porém a meu ver essa é uma posição tola e cega; mesmo que desprezemos ou rejeitemos esse egoísmo em algum nível, não é possível enfrentá-lo (ou administrá-lo) fingindo que nossa natureza seria a de seres mitológicos com um propósito intrínseco. Nós somos o que melhor funcionou ao longo das eras para nos manter vivos e reproduzindo. Se queremos verdade, beleza, justiça e principalmente significado, precisamos criá-los com a força da nossa vontade, que não virá de mais lugar algum.

              Saudações,
              Sergio

          • Ah, e concordo plenamente que, quando liberado de suas amarras, o ser humano torna-se um psicopata total. As próprias experiências comunistas são os maiores exemplos.

            Além disso, o “Ensaio sobre a Cegueira” do Saramago (um socialista, veja só, hahaha) é exemplar. Testes e observações científicas também têm confirmado essa tese da psicopatia e maldade quando o homem encontra-se destituído de regras coercitivas. Daí a gente entra em outra discussão, como a necessidade de um Código Penal eficiente, a ingenuidade dos defensores do abrandamento e até extinção de penas… o fim da palmadinha, etc etc e etc…

            Hobbes esteve certo desde o início… Uma pena nossa “integenttzia” moderna ter nos tornado todos uns bonzinhos rousseaunianos.

            Abraço!

  6. Leonardo says:

    ( Absoluto off-topic: que curioso, acabei de descobrir que você faz The Individual, o Indivíduo em inglês – www.theindividualblog.org/ ).

  7. Nypoa says:

    Caros,

    Uma opinião discordante. Semptre que Dawkins sai da bilogia, ele contunua sendo um excelente bioólogo. Tomo dois trechos:
    “A perversa causa dessa situação é que nós não evoluímos ao longo de bilhões de anos para melhor servirmos a nós mesmos. Nós evoluímos para melhor servir aos nossos genes.”

    Essa afirmação beira a ininteligibilidade. Ela parece supor uma espécie de teoria conspiratória, com nossos genes adquirindo vontade própria, e ainda que não saibamos qual é, é certamente uam vontade “contrária” à nossa. Nosso genes nos usam para perpretar-se. São aliens em nós. Mas como isso pode ser possível se nossos “somos” nossos genes? O que seríamos “nós” nesse cenário?

    E o segundo trecho, que continua o anterior:
    “Eles estão perfeitamente bem adaptados e confortáveis com agirem “racionalmente” para maximizarem seu sucesso reprodutivo, mesmo quando isso vai completamente contra seus interesses como organismo autônomo, contra o bem do grupo, contra o que pregam como certo, etc.”

    Em primeiro, lugar por que “sucesso reprodutivo” e não simplesmente “impulso sexual”, uma vez que eles podem andar perfeitamente bem separados? Em segundo lugar, quem disse que isso vai contra os interesses de um organismo autônomo e contra o “bem do grupo”?

    Uma forma alternativa de resolver essa questão – e bem mais razoável, apesar de ir contra um suposto statu quo moral – é implesmente admitir que nossa forma de organização familiar com núcleo monogâmico é um fracasso, uma forma alsoluatamente anti-natual de vivermos.

    Talvez os genes estejam certos e nós errados, rsrsrs

    []s,

    Nypoa

    • Mas como isso pode ser possível se nossos “somos” nossos genes? O que seríamos “nós” nesse cenário?

      Precisamente aí está o principal ponto do “Selfish Gene”, longe de ser imediatamente óbvio até mesmo para biólogos, mas profundamente importante, e revolucionário quando originalmente exposto. Sim, nossos interesses como indivíduos podem ser – e tudo indica fortemente que sejam – subordinados aos de nossos genes. A observação crucial é que nossos genes continuam existindo felizes da vida em nossos descendentes – e parentes – depois e independentemente da morte do nosso corpo. Então o que nós somos é um corpo. Os genes por outro lado são uma determinada configuração de informação expressa em nosso DNA, e que podemos passar adiante para outros corpos. Os interesses dessas duas entidades absolutamente não coincidem perfeitamente. Esse conceito só é ininteligível para quem nunca se aprofundou no que se escreveu e se conhece sobre o assunto nos últimos 30 anos. E aliás note que ao fazer *esse* tipo de observação – ao contrário de quando fala sobre religião – Dawkins continua sendo 100% biólogo.

      Em primeiro, lugar por que “sucesso reprodutivo” e não simplesmente “impulso sexual”, uma vez que eles podem andar perfeitamente bem separados?

      Porque este não é um argumento teleológico e sim científico. Quem tem maior sucesso reprodutivo – não quem tem arbitrariamente maior impulso sexual – por necessidades lógica se torna dominante na população.

      Em segundo lugar, quem disse que isso vai contra os interesses de um organismo autônomo e contra o “bem do grupo”?

      Não vai *necessariamente* contra, mas absolutamente não está restrito a ir a favor, e freqüentemente não vai mesmo. Ter filhos é um investimento enorme. Não é no interesse pragmático de grande parte dos organismos ter filhos se o único objetivo considerado for a auto-preservação.

      Uma forma alternativa de resolver essa questão – e bem mais razoável, apesar de ir contra um suposto statu quo moral – é implesmente admitir que nossa forma de organização familiar com núcleo monogâmico é um fracasso, uma forma alsoluatamente anti-natual de vivermos.

      Isso não tem nada a ver com moral, ou com ser “anti-natural”. Aqueles que deixam mais descendentes determinam as características biologicamente predominantes nas gerações futuras, é simples assim.

      By the way, a monogamia em humanos é em grande parte um mito. :-)

      Saudações,
      Sergio

      • Nypoa says:

        Caro Sérgio,

        A questão está em atribuir “interesses” aos genes, como se “eles” e “nós” fôssemos entidades pensantes, independentes e, pelo que parece, com interesses conflitantes. Sua frase “Sim, nossos interesses como indivíduos podem ser – e tudo indica fortemente que sejam – subordinados aos de nossos genes”, não faz sentido. Se nosso interesses estão “subordinados” aos de nossos genes, então nós, de fato, não sabemos muito bem quais seriam nosso interesses genuínos – nossos genes dominam nossas vontade, rs. Quem escreve, é o Sérgio ou seus genes? ;-)

        Aproveitando que vc reconhece que a monogamia é um mito (como de fato é), sua teoria acaba esbarrando em profundas incoerências. Se a monogamia é um “mito”, é porque ela antes um comportamento cultural e não “biologicamente natural”. Comportamentos culturalmente adquiridos são independentes de sua maior ou menor adaptabilidade evolutiva, ainda mais porque a evolução age muito mais lentamento do que a cultura.

        Sua afirmação “A perversa causa dessa situação é que nós não evoluímos ao longo de bilhões de anos para melhor servirmos a nós mesmos. Nós evoluímos para melhor servir aos nossos genes” não se sustenta, porque não há qquer relação de implicação entre uma coisa e outra. Ou seja, do fato de que nosso objetivo último seja gerar dscendentes, disso não decorre que não estejamos buscando, ao mesmo tempo ou em paralelo, servir a nós mesmos. Até pelo contrário, só se reproduz de forma eficiente um organismo saudável.

        Digo isso apenas prá mostrar que a menção evolutiva a esse suposto problema de relacionamentos é no mínimo exagerada, e eu diria equivocada. Esse problema que vc levanta – ainda que seja caricato – é muito antes uma questão de incompatiobilidade entre cultura e instintos. E não é relevante a origem (evolutiva) desses instintos. Nós somos culturalmente monogâmicos, mas sexualmente promíscuos. Homens e mulheres, em sua essência. Isso é um dado, e não vai fazer a menor diferença se esse é um traço com a explicação evolutiva A, B ou C.

        Sobre altruísmo, aproveitando, nossos ancestrais viviam em grupos com comportamento igualitário, sem a noção de propriedade. A atividade parental era dividida pelo grupo (não havia a noção de núcleo familiar pai-mãe-prole). O que conhecemos por altruísmo hj era algo que moldou nossa forma de ser.

        Apenas uma provocação: um homem maduro e equilibrado pode buscar relações não muito “sérias”. O mesmo vale para mulheres maduras e equlibradas.

        []s,

        Nypoa

        • Evidentemente que em primeiro lugar os tais interesses não são conscientemente perseguidos pelos genes, eles são o resultado de seleção. Os genes que não defendiam direito seus próprios interesses, bem, simplesmente sumiram. É claro que nem o Dawkins e nem eu acha que os genes realmente tenham “intenções” conscientes, isso é para ser uma metáfora.

          Em segundo lugar, você pergunta : quem escreve, o Sergio ou seus genes? E a resposta ocorre em mais de um nível. Quem realmente digita as teclas é minha mão, então deveríamos dizer que é minha mão que está escrevendo? Da mesma forma, quem pensa é o Sergio, mas isso significa que o Sergio tem liberdade para pensar qualquer cosia que ele quiser? Então é claro que os genes moldam nossas capacidades e nossos sentimentos. Podemos buscar olhar para o fenômeno com algum distanciamento, mas ao final não podemos realmente escolher “pensando bem não vou mais sentir o que meus genes estão mandando eu sentir”. Pelo não menos não de nenhuma forma trivial ou óbvia.

          Não vejo qualquer impossiblidade lógica em a monogamia sendo um mito culturalmente adquirido e ao mesmo tempo ir contra o comportamento primata padrão. Aliás, esta é precisamente a maior adaptação evolutiva do ser humano, possivelmente MUITO maior do que qualquer salto em inteligência : a capacidade de desenvolver, cultivar e transmitir cultura. Hoje em dia a evolução do homem se dá primordialmente a nível cultural, que é muito mais maleável e adaptativo do que moléculas do código genético. Os princípios fundamentais porém continuam sendo os mesmos : sobrevivem as idéias que melhor se auto-perpetuam, por necessidade lógica. E isso não tem nada a ver com serem construtivas ou verdadeiras. Alem disso, os comportamentos culturalmente adquiridos *não* são independentes de sua adaptabilidade evolutiva. Se temos uma cultura que diz “o bom é ter zero filhos”, bem, quais as chances de ela virar a cultura dominante? Finalmente, existem certos – vários! – impulsos que embora contradigam e contrariem a cultura dominante, não deixam por isso de existir. Como você observou, nossos instintos evoluem muito mais lentamente que nossa cultura.

          A observação de que nós evoluímos para melhor servirmos aos nossos genes não apenas “se sustenta” como é apoiada por toneladas de evidências científicas. E você está repetidamente fazendo uma confusão – que eu já apontei – entre os genes não necessariamente servirem aos nossos interesses individuais com necessariamente não servirem. Às vezes é bom para os genes que pensemos no nosso bem estar individual; às vezes não. Isso é abundantemente argumentado e argumentável teoricamente e observado na prática e na literatura científica sobre o asssunto.

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