Os Indivíduos

June 29th, 2007 by Sergio de Biasi

Estou escrevendo este texto para chamar atenção a um fato que aparentemente tem passado despercebido para uma parte dos leitores: o Pedro não sou eu e eu não sou o Pedro. (Aliás, adicionalmente, nenhum dos dois é o Álvaro, embora essa confusão não esteja acontecendo recentemente.)

Para quem chegou agora, ou no último ano ou dois, este jornal, tornado website, tornado weblog, que em breve completa uma década de existência, foi fundado por nós três e mais um quarto cidadão que contribuiu somente para a nossa edição inaugural para logo em seguida afastar-se. Passamos por diferentes apresentações, ênfases e fases, mas em espírito sempre continuamos uma trindade: Pedro, Sergio e Álvaro.

Inicialmente, nossa presença na internet foi estabelecida e gerenciada por mim mesmo, numa época em que o acesso à rede não era nem de longe tão disseminado. Trabalhávamos basicamente juntos e num formato ainda em processo de amadurecimento. Após algum tempo nesse papel, passei a tocha para o Álvaro, o qual administrou o site com notável constância e dedicação durante anos, estabelecendo um formato padronizado e tornando-se também o principal autor à época. Seguindo-se a essa era, e ao término de um hiato no qual o número de atualizações se reduzira bastante, Pedro acho por bem chamar para si a tarefa de revitalizar O Indivíduo, e promoveu uma grande revolução em seu formato, conteúdo e dinâmica. Passou ele então a ser o principal e constante autor, e como tal foi progressivamente inclinando-se para o assunto de literatura e poesia. Em todas as fases os três (e em alguns momentos até mesmo outros, a convite) contribuíram, mesmo que por vezes esporadicamente. A tendência, contudo, foi a de repetidamente haver um autor marcadamente mais prolífico que os outros dois.

Os leitores mais recentes do site, portanto, vêm acompanhando há um bom tempo uma seqüência composta quase que exclusivamente de artigos do Pedro, e naturalmente passaram a associar o site unicamente à pessoa do Pedro – no que estão em excelentes mãos, diga-se de passagem. Porém, uma das características mais fundamentais de O Indivíduo, verdadeiramente o motivo que nos levou a escolher esse nome e tomar as initiativas que tomamos, sempre foi justamente apresentar visões discordantes da unanimidade, idéias divergentes com o poder de fazer pensar, mas principal e fundamentalmente idéias individuais, isto é, sem o compromisso implícito ou explícito de se conformarem a qualquer linha editorial, ideologia, partido político ou sistema institucionalizado de valores. Idéias que expressassem o pensamento original de seus autores, dirigidas não a uma classe, grupo, ou coletividade, mas diretamente a outras pessoas pensantes.

Assim sendo, é natural que os artigos escritos por mim contrastem com os escritos pelo Pedro. Na verdade é não só natural como central a sermos pessoas diferentes, com identidades próprias e personalidades distintas. Reclamações ou indignação sobre o fato de que o que um diz se contrapõe ao que o outro diz ignoram por sua própria conta o fato de que evitar isso nunca foi um objetivo.

Entre vários exemplos que eu poderia dar, Pedro é convictamente católico, eu sou convictamente ateu. Não existe qualquer tentativa de conciliar as duas visões. A síntese deverá ser feita na mente dos leitores, de acordo com seus critérios.

Outro exemplo de assunto sobre o qual discordamos é com relação a qual política seguir quanto a comentários aos artigos postados no site. O Pedro é favorável a não publicar comentários, ponto final. Já eu acredito em permitir comentários, mas moderá-los substancialmente. Novamente, cada um segue sua política em seus próprios artigos, e dessa forma nenhuma unanimidade artificial é imposta, criada ou desejada. Ao contrário, a dissonância entre estilos é conseqüência natural do que se aqui pretende.

Pessoas Aleatórias Tocando No Metrô De Nova York

June 26th, 2007 by Sergio de Biasi

Esta cena aqui foi gravada na estação que fica no Herald Square. Eu achei que estava na hora de mostrar que apesar de haver todos os tipos de estilo e nacionalidade representadas nos músicos do metrô, isso não significa que os próprios americanos não estejam bem representados. Temos aqui uma banda típica de rock/pop com vocal, bateria, guitarra e baixo, despejando um tipo de som tão gostoso que é quase como água no deserto para quem curte a cultura tipicamente americana. Então a gente entra no metrô e de repente lá estão eles.

E note, isso não é resultado de campanhas, subsídios, bolsas ou qualquer outro processo institucionalizado para “incentivar” a produção cultural. Isso são pessoas que por iniciativa própria, em sendo deixadas livres e em paz, perseguiram esse caminho. Muitas delas, por terem talento e vocação muito intensos, simplesmente não podem deixar de criar. Outras acham que é um estilo de vida que combina com suas personalidades. Outras simplesmente pegam um violão e ficam batendo o mesmo acorde sem parar infinitamente na expectativa de que seja uma forma fácil de levantar uma grana. (Infelizmente não gravei essa.)

Mas em todos os casos existe uma coisa muito forte de *iniciativa*, de a pessoa estar lá porque quis e escolheu, sem ninguém ter dito a ela o que fazer. Apesar de tudo, ainda é uma nação de pessoas autônomas, que *não* tem como ideal máximo de realização profissional passar num concurso para trabalhar para o governo. Quem não quer ser músico no metrô quer em geral realizar algum outro tipo de vocação ou projeto de vida, mas de fato existem tais projetos e a maior parte das pessoas está engajada em realizá-lo, para o que der e vier, pagando o preço das conseqüências de suas escolhas. Não vejo os músicos do metrô choramingando que querem um “incentivo do governo” para preservarem suas iniciativas culturais. Isso nem sequer passa pela cabeça deles. Tudo o que eles querem é serem deixados em paz para se expressarem, divulgarem seu trabalho, e pedirem contribuições diretamente de quem estiver apreciando o que produzem. Claro que para isso eles têm que produzir algo que alguém de fato goste, ao invés de gastarem seu tempo fazendo lobby, preenchendo formulários ou satisfazendo critérios burocráticos.

The Cloisters

June 25th, 2007 by Sergio de Biasi

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The Cloisters é um museu que fica quase no extremo norte da ilha de Manhattan. É impressionante como tão próximo ao centro de uma das maiores cidade do mundo pode existe um local tão pouco urbano. O museu fica dentro do Fort Tyron Park , de forma que é cercado de verde por todos os lados.

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O museu foi construído especificamente para conter arte medieval, e foi projetado com base no conceito de que as peças a serem expostas deveriam se integrar adequadamente ao ambiente. Portanto, apesar de ser uma obra moderna, foi realizada em estilo compatível com a época de seu acervo, e isso de fato proporciona uma experiência completamente diferente da que seria obtida pendurando ítens completamente fora de contexto numa galeria asséptica no centro da cidade. A idéia é levada ao extremo de que alguns ítens, como por exemplo vitrais e pórticos, foram integrados à edificação, de forma que podem ser observados exercendo as funções para as quais foram originalmente concebidos. O resultado final é a sensação de se estar de fato em uma atmosfera medieval.

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Lixo De Luxo Nas Calçadas De Astoria

June 23rd, 2007 by Sergio de Biasi

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O lixo americano definitivamente não é igual ao brasileiro. Para começar, os lixeiros não passam todos os dias; existem dias específicos da semana nos quais o lixo deve ser posto na rua para ser recolhido, e não é diariamente. Além disso, em geral os lixeiros não recolhem lixo dos dois lados da rua no mesmo dia; lados opostos da rua são recolhidos em dias diferentes, de forma que os lixeiros nunca precisam ficar atravessando a rua para pegar lixo do outro lado, aumentando a segurança, a eficiência e atrapalhando menos o tráfego.

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Adicionalmente, mesmo sendo dia de coleta, não se pode jogar fora qualquer coisa que se queira nem em qualquer quantidade. Existe um dia específico para se jogar fora lixo reciclável, por exemplo. Aliás, essa questão de reciclagem é todo um subassunto; é responsabilidade de quem joga lixo fora já jogá-lo separado em categorias, e cada tipo de lixo tem que ser embalado num saco plástico de uma certa cor. Garrafas plásticas e latas vazias, por exemplo, devem ser descartadas em sacos azuis. Papel e papelão em sacos verdes. Lixo orgânico em sacos pretos. E assim por diante.

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Agora, o mais surpreendente mesmo para mim foi a qualidade do lixo. Em dia de coleta, algumas horas antes dos lixeiros passarem, à medida em que as pessoas vão colocando o lixo para fora, normalmente ao anoitecer, as calçadas ficam cheias. Evidentemente, uma boa parte é do lixo comum ao qual estamos acostumados, mas só uma parte.

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Uma outra parte considerável é composta de objetos que não estamos acostumados a ver no lixo. Mesas, cadeiras, estantes, colchões, fornos de microondas, ventiladores, aparelhos de ar-condicionado, televisões, monitores, aparelhos de som, computadores, caixas de som, bicicletas, geladeiras, fornos de microondas (particularmente freqüentes), tocadores de DVD, enfim – praticamente qualquer objeto que se encontraria numa residência. E não são ocorrências raras – são montes dessas coisas, todas as semanas. Mais do que isso, com altíssima freqüência, esses ítens não estão velhos nem quebrados. Só posso especular que tenham sido substituídos por uma versão ainda mais recente ou que o dono esteja se mudando e não tenha outro destino para parte de suas propriedades.

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Seja qual for a explicação, o fenômeno é bastante real, e mais uma vez pode parecer que minha descrição seja exagerada. Para corroborar esse relato, saí à noite e dei uma volta pela vizinhança fotografando o lixo. São tantas fotos que postá-las todas aqui entulharia o site, então escolhi algumas, mas de fato todos os outros tipos de objeto listados acima também estavam representados, e múltiplas vezes. Eu poderia fazer algum tipo de análise sobre capitalismo, sociedade de consumo, desperdício, prosperidade, mobilidade social e outras idéias relacionadas, mas acho que os fatos em si mesmos já são bastante interessantes, e a verdade é que eu não sei muito bem que juízo fazer disso. Então fica aqui registrado que é facilmente possível mobiliar um apartamento em Nova York com algumas poucas excursões à calçada da sua rua.

Racionalidade, Transcendência e Fé

June 22nd, 2007 by Sergio de Biasi

Mesmo quando eu era criança eu nunca achei que Deus fosse uma idéia muito acreditável. Mas mais do que isso, eu nunca achei uma idéia realmente atraente. Claro, a falta de sentido incomoda, mas eu não vejo *mais* sentido no fato de que um ser todo-poderoso tenha me criado arbitrariamente e escolhido objetivos arbitrários para a minha existência com os quais eu possivelmente nem sequer concorde.

Para mim, a mágica está no fato de que, apesar de tudo, vemos significado em quase todas as coisas, apesar de nada realmente fazer sentido. Está no fato de que contra todas as probabilidades, temos sentimentos transcendentes, mesmo cercados por todos os lados de finitude e mortalidade. Está nos fugazes momentos em que não precisamos de qualquer justificativa para estarmos fazendo exatamente o que estamos fazendo e aquele instante poderia durar para sempre.

Portanto a dicotomia entre racionalidade e sentimentos se resolve numa grande síntese quando percebo e aceito que apesar de tudo, quase sem querer, e contra toda a lógica, eu vejo constantemente significado, a realidade está transbordando de significado. Significado injustificável, inexplicável, significado que pela mera racionalidade não deveria estar lá, mas está.

Dessa forma, por um lado o mundo faz total sentido racionalmente. Racionalmente, somos um monte de átomos girando no espaço, resultantes de um grande processo evolutivo sem qualquer propósito. Nada tem realmente um fim, um objetivo. Nada é certo ou errado. Nós não somos nada, não significamos nada, não podemos almejar ser mais do que nada. De onde vieram as leis da física? Ninguém sabe. Mas não saber faz completo sentido racionalmente. Na verdade o uso mais elevado da razão nos revela que existe uma quantidade infinita de verdades incognoscíveis, muito mais numerosas que aquelas às quais temos acesso, mesmo em teoria. Querer ser capaz de explicar tudo vai contra os limites demonstrados pela própria razão. Faz total sentido. Pode até ser frustrante, mas isso é completamente irrelevante sob o aspecto da lógica pura.

Por outro lado, admiravelmente, o mundo também faz sentido emocionalmente. Não devia fazer, não há qualquer motivo lógico para fazer, mas faz. Constantemente vemos sentido. Evidentemente, pessoas inteligentes e/ou com suficiente grau de consciência perceberão aí um problema, e poderão cair na tentação de não se conformarem com o fato de que o mundo possa fazer sentido emocionalmente sem que haja uma base racional para isso. Note-se, porém, que “fazer sentido” emocionalmente não é o mesmo que “fazer sentido” racionalmente. Fazer sentido racionalmente tem a ver com lógica, e silogismos, e axiomas, e provas, e teoremas, etc… Fazer sentido emocionalmente é algo muito mais fugidio. É mais um sentimento holístico de “isto é bom”, “isto está certo”, “isto é como deveria ser”. Tentar capturar isso em qualquer sistema filosófico, teológico ou cosmológico é uma quimera. Porque é eminentemente arbitrário e profundamente pessoal. Cada vez que vemos sentido em alguma coisa é uma mágica acontecendo.

Diante disso, porém, minha reação não é de concluir pela existência de alguma entidade externa que tenha lá colocado esse significado. Alguns chamariam a esse caminho que não tomo (suspeitamente e literalmente “deus ex machina” para mim) de fé, mas eu digo que é justamente o oposto – de alguma forma exigir uma explicação é que demonstra falta de fé. O que se costuma chamar de fé soa para mim como incapacidade de simplesmente aceitar o surpreendente dom de ver sentido transcendente onde ele verdadeiramente não existe. Soa como incapacidade de aceitar que o que nos faz felizes não tem absolutamente nada a ver com lógica ou racionalidade. Que o que achamos que é bom e certo é completamente arbitrário mas importante assim mesmo. Pode até ser frustrante pelo aspecto racional, mas isso é emocionalmente irrelevante – continuamos sentindo o que sentimos.

Muito mais provavelmente se trata de que essa “mágica” esteja programada nos nossos genes para que consigamos lidar com sermos simultaneamente seres capazes de racionalidade e autoconsciência mas ainda assim avassaladoramente impelidos pelo imperativo evolutivo de sobreviver e replicar. Se não víssemos significado nas coisas possivelmente afundaríamos na apatia ou reverteríamos a macacos movidos de forma mais direta pelos nossos instintos – caso em que não gastaríamos nosso tempo com usinas nucleares, aviões a jato, satélites e outras realizações que representam uma enorme vantagem evolutiva com relação aos nossos primos menos transcendentes.

Só que do jeito que as coisas são, saber que o sol é uma bola de hidrogênio não muda o que sinto ao olhar para o horizonte no amanhecer. Nada faz realmente sentido, e no entanto se certas condições forem satisfeitas somos capazes de viver muito felizes como se fizesse. *Isso* é mágica, e está ao alcance da maioria das pessoas. A “fé” pode até servir como algum tipo de muleta que as ajuda a aceitar e viver suas necessidades emocionais, para que se sintam autorizadas e justificadas em sua instintiva busca de transcendência. Porém, minha visão é de que se por um lado essa autorização não é de forma alguma justificada, ela também não é necessária, e é muito mais verdadeiro simplesmente aceitar que nossa necessidade de transcendência prescinda e preceda qualquer justificativa do que se afundar em buscas sem fim por um inexistente motivo cósmico que nos autorize a sentir e expressar o que sentimos de qualquer forma.

Random People Playing In The New York Subway

June 21st, 2007 by Sergio de Biasi

Continuando a série de pessoas aleatórias tocando no metrô de Nova York, aqui está um sujeito tocando alguma coisa que eu nem sei se tem nome; parece uma lata amarrada num arame. Esse aqui foi na estação que fica exatamente em frente à entrada principal de Columbia, na rua 116.

Aliás, um comentário à parte – pelo menos aqui em Nova York, os americanos têm mania de não dar nomes às ruas, e sim números. Por um lado é prático, mas por outro as localizações na cidade perdem um pouco da personalidade. Seja qual for o “melhor” sistema, é interessante como as nossas expectativas são moldadas pelo que conhecemos e estamos acostumados. Outro dia eu estava falando com uma americana e ela estava tentando me dizer onde um certo lugar ficava e comentou “The south of Manhattan is so confusing because the streets have all those different names!” Isso é confuso? Confuso é morar na 30th Road, paralela à 30th Drive, ambas cortando a 30th Street, que vai dar na 30th Avenue. Parece brincadeira mas não é; era exatamente meu endereço logo que cheguei aqui.

Coney Island

June 20th, 2007 by Sergio de Biasi

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Para quem não sabe, a cidade de Nova York tem praias. Não ficam em Manhattan, e sim um pouco mais afastadas (a cidade é enorme), mas estão lá. Uma delas é Coney Island (outra, adjacente, é Brighton Beach). Coney Island é famosa pelo parque de diversões lá presente, cercado de algumas outras atividades circenses / alternativas (como por exemplo o “Shoot The Freak”, no qual você paga para ficar dando tiros com uma arma de paintball num sujeito que fica tentando se desviar). Neste parque de diversões fica uma das montanhas russas mais famosas do mundo – a Cyclone, com um design clássico completamente diferente dos atuais, e que um dia já foi a montanha russa mais rápida do mundo.

Pois bem, está ocorrendo aqui um grande debate porque este pode ser o último verão de Coney Island como a conhecemos. Algumas imobiliárias estão comprando todos os terrenos da região e querem demolir tudo para fazer condomínios e hotéis de luxo. A discussão toda é (mantidas as proporções) similar a quando a prefeitura do Rio decidiu acabar com o Tivoli Park – um lugar decadente, que pagava um aluguel ridículo para prestar um serviço questionável e sem sequer conseguir auferir disso grandes lucros. Apesar disso, um local extremamente tradicional e pitoresco presente na memória e na imagem da cidade, assim como afetivamente significativo para quem cresceu lá. A questão é complicada pelo fato de que a Cyclone foi declarada historic landmark (depois de quase ser demolida na década de 70), e de que apesar de atualmente pertencer ao parque de diversões Astroland, está em terras públicas. Acabei decidindo ir lá dar uma olhada no que estava acontecendo. De fato, já caminhando da estação até a praia vi várias escavadeiras trabalhando e grandes áreas sendo preparadas para construção. Mas o núcleo tradicional da ação ainda está lá exatamente como sempre.

coney_island_astroland

Algo a se notar na foto acima é a quantidade de bandeiras americanas. Eu ia escrever que os americanos têm algum tipo de fetiche com a bandeira americana, mas o fato é que os imigrantes também parecem ter. Elas aparecem em adesivos de pára-choque, bonés, camisetas, janelas, portas, anúncios, além de bandeiras de verdade que aparecem em todos os lugares inclusive em mastros colocados em residências particulares.

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Apesar de estar já razoavelmente quente – mais de 30 graus em certos dias – muitos americanos vão à praia vestidos. Notem adicionalmente que a limpeza não é uma das características de Nova York.

Random People Playing In The New York Subway

June 19th, 2007 by Sergio de Biasi

Uma das coisas características de Nova York é a quantidade de vezes que encontramos pessoas aleatórias tocando música no metrô. Imagine o sujeito que fica na porta da estação de metrô da Carioca (no Rio) tocando saxofone, só que multiplicado por mil, e se manifestando em infinitas formas e variações, e tocando dentro da estação ou mesmo dos vagões em movimento. Imagine bandas de mariachi completas entrando de sopetão no trem e tocando a todo vapor. Imagine pessoas com bateria, guitarra, baixo, vocais e coreografia. Imagine pessoas de todas as cores, raças a nacionalidades tocando todos os tipos possíveis de instrumentos (e não instrumentos!) concebíveis. Imagine ceguinhos tocando harmônica e japoneses tocando intrumentos aos quais eu nem saberia dar nome. Mas para não estressar demais a imaginação dos leitores, que podem até ficar céticos diante dessa descrição tão hiperbólica, eu decidi começar a registrar essas situações. Então, para começar, aí está um vídeo que de brinde contém uma ironia acidental num anúncio ao fundo. :-)

Illegal Pants

June 18th, 2007 by Sergio de Biasi

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Aqui em NY existe uma coisa que não há na Rio – e tanto quanto eu saiba em nenhum lugar do Brasil. Existem jornais de considerável circulação (embora nem sempre reputação), lidos por boa parte da população, que são totalmente gratuitos, alguns deles díários. Eles são amplamente distribuídos, normalmente em esquinas e estações de metrô. Essa introdução tem por objetivo apenas contextualizar a fonte da notícia acima – um desses jornais, o “AM New York”, que se não me engano é entre os diários o de maior circulação em Manhattan.

Mas vamos à notícia – na verdade apenas uma breve nota, publicada esta semana. Em si mesma, ela é quase irrelevante, mas como parte de um fenômeno muito mais abrangente, é irritantemente sintomática. Vocês vejam só, a minha opinião pessoal sobre essa moda recente (de se usar calças que propositalmente expõem a roupa de baixo) é de que isso é vulgar, esteticamente feio, e socialmente ridículo.

Dito isso, eu continuo achando que é problema de cada um se vestir como bem entender. Certamente não é assunto para o governo se meter. Que isso não seja abundantemente óbvio é uma das infinitas manifestações da péssima idéia de que seja adequado usar o poder de coação do governo para tornar obrigatório algum sistema específico de valores. E essa idéia é em si mesma uma das conseqüências da noção de que seja razoável uma pessoa ou um grupo impor seus valores ao resto da sociedade. Alguns desses grupos intuem que isso seria opressivo e ruim, então se saem com a desculpa de que estão na verdade defendendo valores “absolutos”, e/ou que estão “protegendo” as pessoas de si mesmas, de conseqüências ruins (objetivas ou imaginadas) de seus próprios atos. Outros se apegam ao argumento de que estão apenas tornando oficial a vontade da maioria (como se ser oprimido pela “maioria” fosse mais reconfortante ou justo). Finalmente, existem os que por arrogância ou sinceridade admitem que estão impondo seus valores e dizem que é isso mesmo, e que quem não gostar pode ir embora.

Eu poderia agora desfiar alguns argumentos libertários sobre a elevada importância da autonomia individual. Mas não vou fazê-lo. Porque o pior mesmo é que em grande parte dos casos isso nem sequer chega a um nível tão elevado. Muitas e muitas vezes, não se trata sequer de uma batalha de sistemas de valores, ou de convicções filosóficas, ou de ideologias, ou de plataformas políticas. Com lamentável freqüência, trata-se apenas de medo do diferente, de rejeição automática do divergente, de repressão instintiva a assuntos com os quais não se quer ter que lidar. Especialmente com relação a sexo, grandes quantidades de americanos são muito neuróticos. Então não se trata de “o governo deveria proibir tudo o que eu acho errado”, que já seria inaceitavelmente totalitário. É mais na linha “o governo deveria proibir tudo de que eu não gosto”, atitude com relação a qual fica difícil fazer comentários construtivos.

Sincretismo Cultural

June 15th, 2007 by Sergio de Biasi

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Aqui vai uma fenomenal manifestação de sincretismo cultural. Aliás, o espanhol é uma realidade aqui em Nova York. Uma boa parte da população fala espanhol como primeira língua e quase tudo – desde bilhetes de metrô até cartazes e anúncios – contém uma versão em espanhol. Mas isso é só um dos elementos de sincretismo presentes nesta foto. :-)