He Can’t Handle The Truth

June 12th, 2007 by Sergio de Biasi

pinnochiogore_graffiti_grand_central

É interessante como certas cenas, vistas de relance no cotidiano, necessitam de uma quantidade enorme de contexto para serem adequadamente compreendidas, para terem todas as camadas de seu significado decodificado. Um conhecido (não muito intelectual) meu veio a Nova York no final do ano passado e disse algo do tipo “é, não vi nada de mais, é tipo uma São Paulo com algumas coisas um pouco maiores”. Duas pessoas olham para exatamente a mesma situação e uma não vê absolutamente nada de interessante ou extraordinário enquanto outra enxerga montanhas de significado. Às vezes conseguimos ter esse tipo de experiência dual dentro de nós mesmos, quando revisitamos anos depois o mesmo filme ou livro e o que parecia obtuso e chato por vezes se revela brilhante à luz de novas experiências, enquanto o que um dia pareceu genial pode descer à mais total banalidade. Enfim, isso tudo é um meta-comentário a essa cena na Grand Central Station em NY, na qual a adição de uma discreta pichação transformou um trivial anúncio de filme em algo que me obrigou a um sorriso interno e a dar meia volta para tirar uma foto.

Everybody Reads

May 30th, 2007 by Sergio de Biasi

everybody_reading_in_ny_subway

Tirei a foto acima em um dia comum voltando pra casa de metrô. É uma cena absolutamente corriqueira. O que se nota imediatamente? Todo mundo está lendo! E não estão lendo “O Globo” ou a revista “Veja”. Estão lendo Shakespeare, Kafka, Borges. Estão lendo livros texto de genética, mecânica quântica, cálculo. Na hora do rush, sem assentos vagos, seguram a barra de aço com uma mão erquida, gesto típico de transporte público, mas na outra mão freqüentemente se vê um paper científico, lido em pé no meio do barulho e do movimento.

Podemos argumentar longamente sobre o que exatamente isso significa, mas sem grandes análises eu digo já de saída que tem alguma coisa importante aqui.

New York Underground

December 12th, 2006 by Sergio de Biasi

Para o deleite aleatório de quem fumou ou bebeu o que não deveria, segue aqui um vídeo semi-psicodélico de uma viagem de Times Square a Astoria.

Start Challenging This Corporate Slave State

November 26th, 2006 by Sergio de Biasi

Para quem não sabe, Alex Jones tem um programa de rádio com uma audiência razoável aqui nos EUA. Ele não é exatamente mainstream, mas tem conseguido cada vez mais atenção. A última vez em que ele teve algum destaque na grande mídia foi quando o ator Charlie Sheen declarou durante uma estrevista no programa dele que a histórica oficial sobre o que aconteceu em 11 de setembro de 2001 era absolutamente inacreditável e que como cidadão americano ele exigia uma investigação decente e respostas para uma quantidade preocupante de perguntas que ficaram no ar.

Alex Jones é freqüentemente chamado de comunista e subversivo pela direita e de conservador e fascista pela esquerda, o que pra mim é um ótimo sinal de que ele não está discursando segundo categorias ideológicas pré-fabricadas e sim realmente pensando alguma coisa. Ele tem um site independente na internet chamado Infowars, “because there is a war on for your mind”. Ele acerta na mosca no fato de que a verdadeira guerra está sendo travada nas nossas mentes, e que se acreditarmos acriticamente nessas besteiradas todas com que o establishment nos bombardeia, estamos perdidos.

Enfim, essa introdução é para contextualizar melhor quem é o sujeito fazendo esse discurso espetacular no vídeo que se segue abaixo. Não podemos deixar o planeta Terra virar um campo de concentração gigante.

http://video.google.com/videoplay?docid=-7027763073373936991#

 

 

O Totalitarismo Vem Aí

November 25th, 2006 by Sergio de Biasi

Sinceramente, é de desanimar. Vejam esta notícia :

Mr Blair’s strategy is to create “a new, more explicit contract between the State and citizen”

Tony Blair is keen to base new policies on his idea of linking rights and responsibilities, using a range of new contracts between citizens and the State.

Mr Blair’s strategy is to create “a new, more explicit contract between the State and citizen on agreed public outcomes”, according to Cabinet Office papers reported in the Guardian today.

Examples could include making parents agree to support their child’s education by ensuring good behaviour and that homework is completed on time.

Primeiro, eles cobram impostos ABSURDOS para sustentar um sistema ABSURDO de educação, saúde, assistência social que você não escolheu e nem quer. Agora, eles querem forçar você a seguir ordens arbitrárias do governo para poder usufruir dos “benefícios” que eles dão, interferindo diretamente em todos os aspectos da sua vida. Note que em alguns casos, usufruir dos “benefícios” sequer é opcional, como no caso de as crianças irem à escola. Aí eles têm o descaramento de dizer que isso é um avanço no sentido de tornar mais claro o “contrato” entre o governo e o público. “Contrato”? Contrato é um acordo voluntário e opcional entre partes livres para recusá-lo. Se é mesmo um contrato, eu acho ótimo – então eu não pago impostos e eles não me prestam qualquer “serviço”. Estaria muito bom para mim.

Só que mais uma vez estamos no reino da novilíngua, em que paz significa guerra, liberdade significa escravidão, e contrato significa aceitação incondicional de “direitos” e “deveres” que você não escolheu. É literalmente algo assim: você tem o “direito” de ser obrigado a mandar seus filhos para a escola que o governo mandar, por quanto tempo o governo determinar, para aprender as coisas que o governo escolher, e em “troca” você tem o dever de obrigar seu filho a não questionar o sistema escolar. Ah, e evidentemente você tem que pagar pela coisa toda. Tente anunciar que não vai mais pagar impostos para ver o que acontece. Aliás, para assalariados isso nem sequer é possível.

É como se eu fosse um senhor de engenho e reunisse meus escravos para dizer: “Resolvi tornar nosso contrato mais explícito. A partir de agora vocês têm que trabalhar 12 horas por dia e não tentar fugir, e eu lhes dou comida suficiente para vocês não morrerem.” Até soa como uma “troca”. Deixa sequer de parecer quando se explicita “senão eu te bato até você morrer”. Isso é uma troca tanto quanto sua “negociação” com um assaltante: me deixe vivo e eu te dou minha carteira. É essa a diferença entre um emprego e a escravidão, entre uma transação comercial e um assalto : a liberdade de escolher. Tente ver se funciona dizer para o senhor de engenho: que tal você me deixar em paz e eu me viro para achar a minha comida?

O totalitarismo vem aí, e com força total, e no mundo inteiro. E um bando de alienados aplaude entusiasticamente a cada novo “direito” criado pelo governo. Como reverter isso? Como escapar disso?

From Lexington to Astoria

November 25th, 2006 by Sergio de Biasi

Após uma breve troca de idéias com meu caro colega Pedro Sette, decidi postar algo que sai um pouco do padrão que tem prevalecido nos últimos tempos aqui n’O Indivíduo: rants sem fim sobre todos os assuntos possíveis. Não que eu não seja fã de um bom rant, aliás pelo contrário, se me disserem que o preço da margarina subiu é capaz de eu começar um rant, mas por outro lado acho que se tudo forem rants provavelmente deve acabar ficando meio deprimente de ler. (Disclaimer: não tenho culpa se a realidade freqüentemente é deprimente mesmo.)

Enfim, retornando às origens de um jornal que em seu primeiro número (que de fato foi o segundo) publicou um poema original ilustrado com fotos do Pedro levitando, submeto aqui para deleite dos leitores um vídeo aleatório zen por motivos puramente artísticos. Que os leitores assistam e pensem “que diabos é isso?” ou outras coisas parecidas. Afinal, para que reclamamos tanto senão para termos a liberdade de expressarmos aquilo que nos torna únicos e originais?

Para não deixar o contexto completamente obscuro, as imagens são de Queens, na cidade de Nova York. E quem está atrás da câmera sou eu mesmo.

The Minutemen vs Ivy League Mindless Zombies

October 20th, 2006 by Sergio de Biasi

Aqui em Nova York, continuam os conflitos por causa da questão da imigração. Ou será que é só isso?

Outro dias uns estudantes republicanos decidiram chamar o fundador dos Minuteman para falar em Columbia. (Para quem não sabe, o Minuteman Project é uma organização civil que decidiu, em resumo, patrulhar e cercar as fronteiras americanas por conta própria – eles são encarados como meio malucos por aqui.) Bem o problema é que quando o sujeito começou a falar, uma turba de manifestantes tomou o palco, criando muita confusão e na prática interrompendo tudo e impedindo o sujeito de continuar.

Isso teve várias repercussões, e ficou em todos os noticiários durante alguns dias. Aqui tem por exemplo uma notícia do prefeito se pronunciando sobre o assunto : Mayor criticizes Columbia students who stormed stage

Um aspecto interessante da questão é que os manifestantes estão surpresíssimos com a reação geral de repúdio e com o fato de terem sido censurados pela administração da universidade (mesmo sem que qualquer conseqüência real tenha ocorrido até o momento).

Aqui está um bem humorado relato do evento no Daily Show.

Eles invadiram o palco de forma intimidatória e impediram o sujeito de falar, o que eles esperavam?

Ah, eles acham que isso que é exercer pacificamente sua liberdade de expressão. Vejam o que uma das alunas organizadoras desse absurdo tem a dizer.

Eu não sei onde acaba a hipocrisia e começa a burrice, mas impedir alguém de falar não é desobediência civil. É mera arrogância autoritária.

Eu só posso ficar um pouquinho feliz de que apesar de terem conseguido o que queriam (impedir idéias de que não gostam de serem divulgadas), eles não puderam contar com o apoio escancarado e unânime da universidade e da imprensa. Mesmo que a administração tenha repudiado oficialmente o comportamento intolerável dos manifestantes somente porque seria inconcebível não fazê-lo, isso já é mais do que se pode dizer de algumas “Ivy League” no Brasil.

Rant Aleatório Sobre Educação

September 23rd, 2005 by Sergio de Biasi

Mais um dos infinitos exemplos que eu poderia dar sobre como eu NÃO quero mandar filhos meus pra escola de forma alguma : http://www.dailykos.com/story/2005/5/12/6418/77122

De fato, eu prefiro NÃO TER filhos do que ver o governo tomá-los de mim.

É absolutamente inaceitável o grau cada vez maior de arrogância e de interferência desses “educadores”. O sistema educacional é perverso em todos os sentidos possíveis – não só no acadêmico. Ele é perverso moralmente, emocionalmente, socialmente. Como disse o Bertrand Russell, as pessoas nascem inteligentes, é o sistema educacional que as torna burras.

O sistema educacional ensina as pessoas a decorarem coisas que não entenderam, a repetirem coisas com as quais não concordam, a descartarem seus pensamentos que divergem do padrão aceito, e principalmente e acima de tudo a aceitarem cegamente exercícios arbitrários de autoridade (e isso não apenas sobre seu intelecto, que já seria ruim, mas também sobre seu comportamento, aparência e atitude!). Elas aprendem que a lógica não importa, que a verdade, não importa, que ter razão não importa; que apenas a autoridade importa. Elas ficam sujeitas aos caprichos de pessoas absolutamente despreparadas para guiá-las, isso tanto a nível intelectual como pessoal, as quais de qualquer forma na maioria absoluta dos casos não estão nem sequer realmente preocupadas com o bem estar das crianças apesar de todo um discurso pretensioso sobre o assunto. Os professores, e o governo muito menos ainda, não têm qualquer autoridade moral para acharem que educarão as crianças melhor do que seus pais.

Drugs and Copyright

March 18th, 2004 by Sergio de Biasi

Unfortunately, it is NOT true in general that if millions of people want something and do something, it will ultimately be made legal. Laws are not written directly by the people; they are conceived, debated and approved by the government, which, after elected, is more or less free to do whatever it wishes. Most important positions in the government are not even chosen by vote. Besides, even when they choose to listen or are forced to listen, they listen to those who scream louder, make more noise or have more money, which don’t necessarily represent the majority of people, just the richer and/or more fanatic/determined.

Those who would argue that most people are not able to decide between right and wrong and have no competence to write laws are probably right, but they are missing two very important points. The first is that the option is having some entity hover over society deciding what’s right or wrong for us, either by force (which definitely does not guarantee wisdom) or by choice (by the people we just concluded were unable to judge such matters?). The second, and possibly even more important point, is that people may not be “officially” entitled to make some decisions in a bureaucratic virtual society, and may indeed not be competent to do it, but they are in fact objectively in charge of their own lives (and partly of those around them). Laws don’t prevent me from driving without a permit; it’s within my personal capabilities to do it. In fact, most laws can be broken very very easily. And the point is that it should be so; only in a totalitarian government should you be prevented from exercising your own judgment by default.

Look at the situation of drugs, for example. A large portion (if not most) of the population uses or has used some kind of drug. If we count alcohol and cigarrettes as “legal drugs” (which we probably should), it becomes even more obvious that from a human point of view, drugs are not considered intrinsically immoral or unnaceptable. It’s the abuse of drugs which is harmful and socially disapproved.

However, the government just decided that to “protect” those who don’t have the self-control or the intelligence to use drugs in a non-self-destructive way, they must make it a crime for someone to produce, sell, possess or consume substances from a certain list, under any circumstances and in any quantities. That is just plain stupid and oppressive. It’s also inconsistent, since they chose to arbitrarily keep some drugs “legal”.

Even if drugs were generally disapproved or believed to be unnaceptable by almost all people, that would still not be a valid reason to make them illegal; I should be able to do whatever I want as long as I don’t hurt other people. Most people don’t like really hard heavy metal; prolonged exposure at very high volumes could damage one’s hearing; should it be illegal? Should the police come into my house and arrest me for listening to it alone? Come on.

The point I’m trying to make it that this “copyright infringement” thing is looking more and more like the ridiculous and absurd “war on drugs” which plagues our society. More and more resources, laws and police action are being directed at restricting this activity, while a LARGE fraction of society keeps doing it and most people don’t even believe that it is immoral or that it should be outlawed. If they legislate against basic human urges like sharing information, they will only manage to create underground distribution systems, which actually hurts everyone. But no, they don’t care, they just want to have a monopoly on information distribution and charge so much that the average person won’t even be able to listen to the music he/she likes. If this is where we’re going, maybe we should just forget about copyrights and develop some new system to pay the content creators.

Besides, this is getting completely out of control – to prevent “copyright infringement”, they are attacking and trying to destroy the best new technology for distribution and indexing of information that appeared since the beginning of the internet, which is P2P and hashing, a technology which has multiple uses and is beneficial for everyone. How can we, as individuals, fight back? I guess we can’t – it’s just like the stupid war on drugs.

I’m not saying that drugs are awesome and we should be drugged all the time, I’m saying that they shouldn’t be ILLEGAL. Just the same, I’m not saying that the problem of paying the people who create cultural content doesn’t exist – what I’m saying is that making information sharing so completely illegal is clearly an increasingly totalitarian, oppressive and ultimately unenforceable solution. But the government and the media companies don’t care. Unless there is some kind of collective reaction by society, or a clash of interests between some very powerful groups, this non-solution may be stubbornly pursued for decades to come, probably with increasing (and very very costly and damaging) vigor.

Big Brother

January 25th, 2004 by Sergio de Biasi

Gostaria de fazer uma pequena observação sobre a forma inesperada como aos poucos a distopia de “1984″ se torna presentemente um fato.

O que era para ser algo terrível, humilhante e desumanizador, concebido como símbolo da destruição de qualquer possibilidade de dignidade pessoal, foi transmutado em um programa de televisão de grande sucesso, e ainda com o requinte de utilizar um nome que remete diretamente ao significado original, o qual pelo nível cultural deficiente de grande parte dos espectadores, provavelmente permanece ignorado na maior parte dos casos. Qual o significado disso? A existência e o sucesso desse programa são simultaneamente agente e sintoma de poderosas mudanças culturais e de valores. A realidade dominada pelo Grande Irmão já chegou, e não à força, mas através de uma transformação moral, na qual as pessoas são premiadas por sua vulgaridade. As pessoas competem para serem pagas para serem observadas participando de situações indignas e degradantes, para dramatizarem em pequena escala uma realidade que Orwell evidentemente descreveu como temível e abjeta. E toda uma geração cresce confortável com isso.