Dirigindo em Nova York

July 11th, 2009 by Sergio de Biasi

Quando eu me mudei para Nova York, uma das providências que eu tomei foi vender meu carro e não comprar outro. Em Nova York, ter um carro não é apenas desnecessário. É inútil. Além de um aborrecimento constante.

Aliás, um parêntesis aqui. Quando digo Nova York quero dizer Manhattan. Que é a imagem internacional que as pessoas fazem de Nova York. Mas a cidade na verdade é muito mais do que isso, assim como o Rio de Janeiro é muito mais do que, digamos, a Zona Sul e a Barra. E nem todas as regiões da cidade são, digamos, igualmente bem consideradas socialmente. Dizer por exemplo que você mora no Queens ao invés de em Manhattan tornará você instantaneamente intocável em certos contextos sociais. Eu poderia fazer comparações, mas acho que cada um pode inventar as suas. O fato é que existe um fator “ugh” instantâneo e claríssimo quando se diz para um habitante de Manhattan que você habita no Queens. É como se você sofresse um rebaixamento instantâneo e incontornável de status. Do tipo “ah, ok, eu tinha pensado que você fosse gente”. Nas primeiras vezes em que eu observei esse fenômeno eu nem sequer entendi o que estava acontecendo. Posteriormente ficou mais claro que era isso mesmo.

Mas enfim, voltando à inutilidade de ter um carro em Nova York. Em primeiro lugar, o metrô vai a absolutamente todos os lugares. É o maior sistema de metrô do mundo e funciona 24 horas. E pelo menos na década atual, perfeitamente seguro. Então não é preciso ter um carro para ir a lugar algum. E na verdade, se você tentar ir aos lugares de carro durante o horário comercial, em geral só vai se aborrecer enormemente, porque o trânsito é caótico e intenso. Aí você chega onde queria ir e absolutamente não há lugar para estacionar. Ou melhor, há se você pagar um absurdo para deixar o carro num estacionamento.

Algumas vezes depois que cheguei em Nova York, eu ainda não tinha percebido exatamente a realidade exposta acima, e ao me ver atrasado para algum compromisso pensei : “Vou tomar um táxi!”. Tentar essa estratégia se mostrou duplamente instrutivo. Em primeiro lugar, porque quase invariavelmente cheguei nos lugares onde queria ir mais *tarde* do que se tivesse pego o metrô. Em segundo lugar, porque andar de táxi em Nova York é absolutamente surreal. Os motoristas *sempre* são imigrantes que não sabem falar inglês direito, não sabem onde fica *nada*, e não raro agem de forma bizarra e/ou agressiva.

Depois de alguns anos em Nova York, porém, mudei-me para New Jersey, que é mais ou menos a Niterói de Nova York. Fica logo ali do lado, dá pra ver do outro lado da água, e dá pra chegar lá de barca.

Em termos automobilisticos, New Jersey é mais ou menos o oposto de Nova York. É completamente impossível não ter um carro. Às vezes eu sinto que aqui é preciso ter um carro até para ir no banheiro. Até a farmácia tem um estacionamento próprio e para fazer qualquer coisa que não seja comprar pão é preciso pegar a auto-estrada. Então naturalmente comprei um carro.

Recentemente calhou porém que eu fui a um jantar em Nova York. Então fui dirigindo, e no processo dirigi de cima a baixo em Manhattan. Aproveitei para registrar algumas cenas na ida e na volta, as quais coloco abaixo.

Nesta primeira seqüência começo ainda mais ou menos no meio de Manhattan, andando ao long da rua 40 depois de sair do Lincoln Tunnel (Aliás, isso foi outra coisa que demorou muito para eu acostumar : grande parte do tempo, não tem essa de rua fulano de tal, é rua 12 paralela à rua 13 cortadas por avenida 3 paralela à avenida 4. Pragmatismo total.) Enfim, eu dirijo para o leste, passo a Madison e então dobro à esquerda onde tem um elevado meio incrível que contorna a Grand Central Station. Com isso eu pego a Park Avenue para o norte, que é onde eu quero chegar; estou indo para o Upper East Side. Notem como é chatíssimo dirigir em Nova York; eu fico parando quase o tempo todo. Perto do final dessa seqüência eu passo na frente do Waldorf-Astoria.

Nesta segunda seqüência eu continuo na Park, mas bem mais ao norte. Nada de realmente interessante acontece.

Ok, agora eu estou voltando pra casa depois do jantar, dirigindo pela Lexington. O trânsito está bem melhor do que mais cedo. Eu vou seguindo por um tempo para o sul e então entro à direta na rua 34, que é a que eu preciso tomar para chegar de volta no Lincoln Tunnel. Logo fica possível ver o Empire State Building, que fica na esquina da 34 com Quinta Avenida, à minha esquerda. Um pouco depois disso, eu cruzo a Browaday e passo do lado da Macy’s do Herald Square, que pode ser vista à minha direita. Continuo para o oeste até chegar a Nona Avenida, e então dobro à direita para pegar a entrada do túnel. Finalmente, entro no túnel, onde passo a dirigir debaixo d’água sob o rio Hudson, que separa Nova York de New Jersey.

Neste última seqüência, eu termino de atravessar o túnel e saio em New Jersey. De brinde para os espectadores eu fico meio que cantando por alguns momentos durante uma parte do “Let There Be Love” do Oasis. Uma grande curva para a esquerda e Manhattan pode ser vista brevemente ao longe, já do outro lado do rio. Nada de particularmente interessante acontece, e eu prossigo dirigindo em direção à New Jersey Turnpike, que quero pegar para ir para o meio de New Jersey. Dá pra ver umas placas indicando que estou chegando na turnpike perto do fim do vídeo.

7 Responses to “Dirigindo em Nova York”

  1. Fabio S. says:

    Muito bom. Já fiz esses caminhos várias vezes mas nunca tive a oportunidade de filmar, bem filmado, como voce fez.

  2. Grammar says:

    E a parte em que a polícia te parou por estar dirigindo e filmando ao mesmo tempo, você não vai publicar?
    Estou brincando, mas por favor não corra este risco. Me preocupa muito mais o quanto segurar a câmera atrapalha a sua condução que o quanto dirigir atrapalha a sua filmagem.
    Abraço

  3. Eduardo Barros says:

    Sergio.

    Achei suas filmagens bastante interessantes. No entanto, vou passar uns dias de férias em NY, partindo de Washington de carro. Desta forma, gostaria de passar uns dois dias com o carro em NY, justamente para poder dar umas voltas e conhecer o geral da cidade. Já que vc tem esperiência no assunto, gostaria de saber uma coisa: Posso deixar o carro estacionado na rua indefinidamente. Tipo nos locais mais afastados… isto é possível. Ou todo local tem parkimetro?

    • Oi Eduardo,

      Nos locais mais afastados, isso é perfeitamente possível. Em Manhattan, isso é em geral completamente impossível. :-) Em Manhattan, praticamente todos os lugares têm parquímetro, limite de tempo, e um monte de outras restrições. É tão enrolado que outro dia eu mesmo parei numa vaga que tinha instruções complexas sobre quem podia parar nela e quando, eu achei que eu podia, não podia, e acabei levando uma multa de 100 dólares. Claro que você sempre pode parar num estacionamento, e esses existem aos montes em Manhattan, uma grande fração deles 24 horas. Mas parar neles e caríssimo, na ordem de preço de pagar uma diária de hotel para mais uma pessoa. :-)

      Por outro lado, em saindo de Manhattan, isso é perfeitamente possível. Disparadamente, o local mais prático para fazer isso é no Queens. Se você estacionar o carro em Long Island City ou em Astoria, próximo a uma estação de trem da linha amarela do tipo N ou W (a que vai pro norte ao longo da rua 31, não a que vai pro leste), em saindo da rua principal embaixo do metrô (que nessa região é elevado ao invés de subterrâneo) tem vagas sem parquímetros em todas as ruas secundárias, nas quais você pode simplesmente parar seu carro e deixar. Só tem uma coisa que você tem que prestar atenção, que é que é proibido deixar o carro estacionado na rua durante a coleta de lixo. Eu também já fui multado mais de uma vez por esquecer disso. :-P Mas os dias e horários em que ela ocorre estão colocados em placas em todos os quarteirões. Fora isso, você pode simplesmente estacionar o carro e deixá-lo lá parado, e então pegar o metrô, que é de fato a forma razoável de se locomover em Nova York. Se você parar em Long Island City ou em Astoria, estará BEM perto de Manhattan (poucas paradas de metrô de distância – perto *mesmo*, logo do outro lado do rio).

      Inclusive (veja o link aí embaixo) eu postei um vídeo de como é uma viagem de metrô da Broadway (de Astoria, não a de Manhattan) até o túnel que leva pra Manhattan; a próxima estação depois do fim do vídeo já é em Manhattan. Menos de 10 minutos. E você pode até parar mais perto de Manhattan, tipo junto à estação da Avenida 36 ou da Avenida 39.

      ../../../.././2008/08/12/from-astoria-to-lexington/

      Saudações,
      Sergio

  4. Oi Fabio,

    Não tenho certeza de que esteja tão bem filmado quanto eu gostaria, afinal eu estava dirigindo com uma mão e segurando a câmera com a outra. :-) Uma hora eu tenho que fazer a mesma coisa estando no banco do carona. Mas agradeço o inventivo! O problema com esse tipo de vídeo é que ele tende a ter muito mais importância para quem fez do que para quem vê. Ou para outras pessoas que de alguma forma adquiriram ligação emocional com o que está sendo filmado. Enfim, que bom que você gostou!

    Saudações,
    Sergio

  5. Bem, a polícia não me parou. :-) Por outro lado eu também não bati em nada. :-)

    Saudações,
    Sergio

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