For All Good Things Must Come To An End

February 17th, 2010 by Sergio de Biasi

Quem visitou hoje oindividuo.com talvez tenha sido tomado de surpresa. Eu já estava ciente, conversara com o Pedro sobre o assunto, e já fazia algum tempo que ele expressava insatisfação com diversos aspectos de “O Indivíduo”, desde o início pessoalmente traumático, passando por uma mitologia criada em torno do tema com a qual ele não se identifica nem quer ser compelido a encarnar, até uma evolução de idéias sobre o que significa e o que se pretende afirmar no final das contas com esse tal Indivíduo com artigo definido singular. Aliás, uma parte da mudança tem precisamente o propósito de deixar de vez para trás certas posicões. Mas evidentemente a melhor referência para explicar suas razões é o próprio Pedro.

Enfim, assim sendo, após uma longa história, salvo alguma grande reviravolta, parece justo dizer que pelo menos no momento O Indivíduo, como empreendimento colaborativo, cessou para efeitos práticos de existir, tendo sobrevivido através de diversas encarnações por 13 anos, de 1997 a 2010. Não posso deixar de pensar sobre um trecho do editorial no arqueológico Número Zero que anuncia :

“…nós queremos nos dirigir ao ser humano sozinho, de um para um. Porque é assim que as coisas são. Individuais.”

O que está ironicamente coerente com este eventual destino. O que não quer dizer que eu não apreciasse, e muito, a reunião de idéias divergentes no mesmo local. A tensão cognitiva resultante me parecia ser bem mais fértil do que conflituosa, e estimulava o exame das mesmas questões desde diferentes pontos de vista. E eu, pessoalmente, continuo essencialmente acreditando em certas idéias com as quais o Pedro de alguma forma não mais se identifica, e que me fazem ainda acreditar na propriedade do nome e do conceito por trás de uma franquia nomeada “O Indivíduo”. Tivesse eu mais tempo para escrever e divulgar certas idéias, mais entusiasticamente e cotidianamente o faria. Então aqui permaneço eu, pelo menos por agora, individualmente. E vejamos o que virá daqui pra diante.

7 Responses to “For All Good Things Must Come To An End”

  1. Ana Beatriz says:

    Oi Sérgio,
    fiquei realmente com pena. Lembro de quando estudava na PUC, uma festinha na casa de amigos, todos comentando aquela confusão em torno do “indivíduo”… Anos depois conheci o Pedro e comecei a acompanhar vocês no site. Foi só ele que parou de escrever? Você vai continuar a escrever aqui?
    Agora vem uma pergunta – sei que você vai me achar uma analfabeta digital – que diabos é um feedbook?
    Beijos,
    Ana Beatriz

    • Oi Ana,

      Bem, pelo que me parece não é intenção do Pedro parar de escrever, e sim apenas passar a escrever sem ser sob o nome / site / franquia “O Indivíduo”. Então pelo menos a verve pedral não terá o mesmo destino que a alvaresca, cuja expressão internética acabou indo fora junto com a água do banho quando foi seu turno de se desencantar com O Indivíduo. Ou torço que não.

      Note, eu entendo perfeitamente como o Pedro se sente. Os eventos fundadores de O Indivíduo foram traumáticos para começar, e a isso se seguiu uma situacão na qual se ergueram turbas de ambos lados, tanto para nos defender quanto para nos apoiar. Os que nos atacavam eram 99% compostos de alucinados que nem sequer tinham lido o que escrevêramos, e a princípio foi bom encontrar quem parecesse não estar cego por ditames ideológicos idiotizantes que os compeliam a nos classificar de forma automática e vociferante como perigosíssimos neonazifascistas psicóticos. Só que não demorou muito para ficar claro que os que resolveram nos apoiar mais entusiasticamente não eram todos necessariamente muito diferentes dos que nos atacavam. Aliás, em muitos casos, eram desconfortavelmente similares, apenas com sinal trocado. Isso é extremamente frustrante. O que fazer diante disso, bem, é uma decisão pessoal e complexa.

      Mas voltando ao frigir dos ovos, o Álvaro passou por um processo similar há alguns anos e acabou se afastando completamente. O Pedro felizmente parece ter decidido apenas se recolocar de uma forma mais pessoal ao invés de se descolocar completamente. Em parte o que aconteceu também é que me parece que ele quer ter um espaço que seja mais inequivocamente *dele*.

      Então resto eu. E respondendo à sua pergunta, sim, eu pretendo continuar escrevendo aqui. Eu ainda acredito no mérito de certas idéias, mesmo que nem sempre seja fácil encontrar quem se identifique com elas, ou as defenda pelos mesmo motivos que eu. Minha concepção de libertarianismo fundamentado no respeito à individualidade costuma resultar em ser chamado de comunista pelos ultra-liberais e de ultra-liberal pelos comunistas. Então não é necessariamente uma posição confortável para assumir publicamente. :-) Mas eu continuo achando que existem idéias importante para serem defendidas aqui. Mesmo que intercalando com conteúdos aleatórios de interesse mais pessoal. :-)

      Sobre a questão de feeds, é o seguinte. Suponhamos que você goste de ler um blog e não queira perder novas mensagens e/ou comentários postados nele. Porém, ficar checando manualmente todo dia se qualquer coisa nova apareceu não é prático, especialmente se você tem múltiplos interesses. No caso de comentários, é inviável. Então você assina o feed do blog no qual tem interesse, e quando algo novo é postado você é automaticamente informada (ou recebe uma cópia, depende de como você fizer; você pode por exemplo receber por email).

      O endereço para assinar o feed dos textos de oindividuo.org é este aqui : ../../../../.././feed/

      E para assinar os comentários é este aqui : ../../../../.././comments/feed/

      Saudações,
      Sergio

  2. Bruno says:

    A mim, parece que o Pedro está muito “Girardiano”. Virou uma “Girardete”. Podem ver, ele só fala nesse cara. Tudo bem, Girard é realmente impressionante, mas o Pedro atualmente parece uma tiete do sujeito.
    Lamentável.

    • Oi Bruno,

      Bom encontrar um dos que (implicitamente) entendeu o meu texto “Citando Aristóteles“, o qual era apenas muito incidentalmente sobre Aristóteles, mas que acabou revelando quase cientificamente o fenômeno de culto à personalidade que eu criticava ao ser alvo de uma enxurrada de pessoas defendendo a enorme atualidade e relevância do pensamento de Aristóteles – algo que absolutamente não era o assunto do texto.

      Novamente, isso não deve ser entendido como uma crítica ao Girard, mas existe um limite sobre como e com que freqüência citar alguém sem que comece a ficar estranho. :-) Alias, falando nisso, eu fiquei até surpreso de ver num texto recente o Pedro falando do Olavo, algo que não fazia há algum tempo. Esse tipo de relação de “encontrar um guru” é algo de que nem as melhores mentes estão livres.

      Claro, acho absolutamente muito pouco provável que o Pedro concordaria com essa avaliação em qualquer dos dois casos. E além disso de fato não precisa ser algo binário no qual ou todas as suas idéias são absolutamente originais ou você é um zumbi acrítico. Mas mesmo no caso dos grandes gênios, me parece que devemos (pelo menos no caso debate intelectual em oposição a escrevendo uma carta de amor) nos concentrar em citar suas *idéias*, e avaliar sua validade a partir de sua coerência e estrutura, e não começar a partir do princípio implícito de que se fulano disse, então nem é preciso argumentar mais nada.

      Aliás, essa é precisamente a minha maior crítica a religião. Não é o fato ela ser (do ponto de vista intelectual e lógico) completamente irracional, e sim a questão de ser universalmente baseada em submissão do seu julgamento a uma autoridade externa.

      Saudações,
      Sergio

      • Oi Sergio,

        Não o conheço pessoalmente nem ao Pedro, apesar de ter sido aluno na PUC-RJ na época em que houve aquela confusão em torno do jornal “O Indivíduo”. Desde então, sempre que posso, acompanho o trabalho de vocês. Considero muito relevante o debate de ideias e a diversidade de opiniões.

        Concordo com sua crítica a respeito da religião. E penso que, a partir de certo ponto, torna-se inconciliável manter uma conduta racional e questionadora e, ao mesmo tempo, uma conduta religiosa (no seu sentido “institucional”). Mas esse é um longo debate.

        Por enquanto é isso,
        Fábio Ferrari

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